A presidenta Dilma Rousseff convocou ministros, na manhã de hoje (2), para duas reuniões de emergência no Palácio do Planalto a fim de tratar de denúncias do esquema de espionagem dos Estados Unidos, através da Agência Nacional de Segurança Americana (NSA, na sigla em inglês), sobre ela e assessores diretos, divulgadas nesse domingo (1) no programa Fantástico, da TV Globo.
A primeira reunião começou por volta das 10h e teve a presença dos ministros da Justiça, José Eduardo Cardozo, do Gabinete de Segurança Institucional, general José Elito, e da Secretaria-Geral, Gilberto Carvalho. A segunda, logo em seguida, teve, além de Cardozo, os ministros das Comunicações, Paulo Bernardo, da Defesa, Celso Amorim, e das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo Machado. Em entrevista à emissora de tevê, Cardozo classificou o ato do governo norte-americano como “inadmissível”.
Hoje, o embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Thomas Shannon, foi ao Itamaraty prestar esclarecimentos sobre o tema ao chanceler Figueiredo Machado. Depois da reunião, Shannon saiu sem falar com a imprensa e Figueiredo Machado foi para a reunião com Dilma e outros ministros.
Pela sua conta no Twitter, a ministra-chefe da secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário, disse que as “novas informações sobre a espionagem da NSA indicam grau máximo de desrespeito à soberania do País. O Brasil é país soberano, democrático e q preserva direitos de seus cidadãos, repudiando praticas autoritárias e invasivas da privacidade.”
Segundo ela, a violação de informações de dirigentes e cidadãos de nações soberanas deve ser tema central das Nações Unidas. “É violação também de direitos humanos. É fundamental reforçarmos diretrizes q orientam nosso país ao dialogo e cooperação com todas as nações sem jamais sermos subservientes”, disse a ministra.
O líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), informou ao Estado de S. Paulo que vai sugerir um protesto formal do Congresso Nacional contra a espionagem norte-americana. Já o líder do PT na Câmara, José Guimarães (CE), disse que vai propor a instalação de uma CPI para investigar o episódio.
Em 13 de agosto, a presidente recebeu no Palácio do Planalto o secretário de Estado dos Estados Unidos, John Kerry, que tentou prestar esclarecimentos sobre a espionagem norte-americana. Na ocasião, o Planalto considerou insatisfatória a explicação de Kerry.
O presidente da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara dos Deputados, Nelson Pellegrino (PT-BA), disse hoje (2), por intermédio da assessoria, que deverá convidar o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, para prestar esclarecimentos sobre as recentes denúncias de espionagem, por agências norte-americanas, à presidenta Dilma Rousseff e a assessores dela. Para Pellegrino, as denúncias são “gravíssimas”.
Entenda o caso, segundo a reportagem
A reportagem que denuncia o esquema foi feita em coautoria com o jornalista Glenn Greenwald, correspondente do britânico The Guardian que revelou o esquema de espionagem eletrônica do governo americano, denunciado por Edward Snowden. Os documentos foram entregues por Snowden a Greenwald durante um encontro dos dois em Hong Kong, entre eles está uma apresentação chamada “filtragem inteligente de dados: estudo de caso México e Brasil”. Nela, aparece o nome da presidente do Brasil e também o do presidente do México, Enrique Peña Nieto, que aparece como então candidato à presidência daquele país.
No documento, datado de junho de 2012, a NSA explica como monitorou os dois presidentes, diz a reportagem. Em um dos slides, sob o título “mensagens interessantes”, aparecem duas mensagens de texto de celular supostamente enviadas por Penã Nieto. Em uma delas, ele diz quem seriam dois de seus ministros caso vencesse as eleições presidenciais mexicanas. Logo em seguida, há uma explicação sobre como Dilma foi monitorada.
Segundo a reportagem, a parte referente ao Brasil traz como objetivo da suposta espionagem “melhorar a compreensão dos métodos de comunicação e dos interlocutores da presidente do Brasil, Dilma Rousseff, e seus principais assessores”. No último slide da apresentação a NSA diz que o método de monitoramento é “uma filtragem simples e eficiente que permite obter dados que não estariam disponíveis de outra maneira. E isso pode ser usado de novo”.
A reportagem também diz ter recebido um segundo documento que diz que a NSA tem um departamento internacional encarregado de espionar Japão, Brasil, Turquia e a Europa Ocidental. Um terceiro documento, também fornecido ao Fantástico, lista os desafios geopolíticos que serão enfrentados pelos EUA de 2014 a 2019. Em um tópico chamado “Amigos, inimigos ou problemas?”, o Brasil aparece novamente, mas junto do Egito, Índia, Irã, Turquia e México.
Com Agência Brasil, Fantástico e BBC.
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