Waly Salomão

Grande poeta, letrista e ensaísta, Waly Salomão completaria hoje 70 anos. Morto há 10, aos 59, em 5 de março de 2003, em decorrência de um câncer, foi um dos principais artífices da Contracultura brasileira e do Tropicalismo. 

Filho de um sírio e de uma baiana, Wally Dias Salomão nasceu no interior da Bahia, em Jequié, mudou-se para Salvador na adolescência, e lá concluiu o 2° grau. Depois cursou e formou-se em Direito pela Universidade Federal da Bahia – UFBA, mas jamais exerceu a profissão.

Depois de se aventurar pelo teatro, alternando estadias entre Rio de Janeiro e São Paulo, sob o codinome Waly Sailormoon, colaborou, na transição dos anos 1960 para os 70, como jornalista e poeta, para vários veículos da imprensa udigrudi (corruptela do inglês underground, “subterrâneo”), entre os quais a célebre revista Navilouca, um marco da Contracultura brasileira, que fazia oposição ao regime militar e pregava liberdades individuais e comportamentais, em pleno governo assombroso do general Médici, que cerceou direitos civis de milhares de brasileiros.     

Em 1971, Waly assinou a direção-geral do show Fa-Tal, da amiga Gal Costa, que resultou no disco Fa-Tal Gal a todo vapor. O convite rendeu também o registro de uma interpretação emocionante de Vapor Barato, a bela canção composta com Jards Macalé, na qual Waly versa sobre as dores do exílio (a música foi composta durante a expulsão de Caetano Veloso e Gilberto Gil – que partiram para Londres – e foi regravada nos anos 1990 pelo grupo O Rappa). Ainda nos anos 1970, Waly repetiu a parceria com Gal, nos shows Índia (1973) e Mel (1979). Na década seguinte, assumindo a coordenação artística, voltou a trabalhar com a baiana, nos álbuns Bem Bom (1985) e Gal Plural (1989).

Também em 1971, a partir de relatos que fez no cárcere do extinto presídio do Carandiru (Waly foi parar lá por ter sido detido portando maconha), escreveu seu primeiro livro o clássico Me Segura Que eu Vou dar Um Troço (reeditado, em 2004, pela editora Aeroplano). Em 1974, retomando as parcerias com Macalé, dividiu com ele a direção de produção de seu segundo disco, Aprender a Nadar (ouça), que registra outras pérolas compostas por ele e Macalé, como Anjo Exterminado, Dona do Castelo e Senhor dos Sábados. Na sequência, durante o biênio 1974/1975, o poeta viveu nos Estados Unidos, onde estudou inglês na Universidade de Columbia.        

Waly também dirigiu shows e gravações de João Bosco, Maria Bethânia, Gilberto Gil, A Cor do Som e Cássia Eller – dela, dirigiu a turnê Veneno Anti-Monotonia e foi laureado com o prêmio Shell de Melhor Show de 1997. Neste mesmo ano, venceu o Prêmio Jabuti de melhor livro de poesia com a obra Algaravias.

Co-autor de mais de 50 músicas, Wally também teve letras gravadas por diversos artistas, como Moraes Moreira, Lulu Santos, Cazuza, Itamar Assumpção, Gal Costa e os Paralamas do Sucesso (a simbólica Assaltaram a Gramática), entre muitos outros intérpretes.

À convite do amigo Gilberto Gil, ele assumiu em 2003 a Secretária de Livros e Cultura, do Ministério da Cultura (então conduzido por Gil). Em 2005, convidado pelo selo Biscoito Fino, Macalé prestou tributo ao amigo poeta com a compilação intitulada Real Grandeza, que reúne convidados e registra novas versões para 12 de suas principais parcerias (ouça).

Em 2008, o cineasta Carlos Nader lançou o documentário Pan-Cinema Permanente, que reconstitui a trajetória de Waly


 

PRINCIPAIS OBRAS DE WALY SALOMÃO

Me Segura que Vou dar um Troço (José Alvaro Editor/RJ, 1972)

Gigolô de Bibelôs (Editora Brasiliense/SP, 1983)

Armarinho de 
Miudezas (Fundação Casa de Jorge Amado, 1993)

Algaravias: câmara de ecos (Editora 34, 1996),

Qual é o Parangolé: Hélio Oiticica (Coleção Perfis do Rio, Editora Relume-Dumará, 1996)

Lábia (Editora Rocco, 1998)

Tarifa de embarque (Editora Rocco, 2000).

 

PRINCIPAIS PROJETOS EDITORIAIS

Waly atuou ainda, como organizador ou parceiro, dos seguintes livros:

Torquato Neto ou Últimos Dias de Paupéria, com Ana Maria Duarte, livro/disco (Editora Livraria Eldorado Tijuca, 1973 e Editora Max Limonad, 1982)

Caetano Veloso, Alegria Alegria
 (Pedra Q Ronca Edições e Produções Artísticas, 1997)

Hélio Oiticica, Aspiro ao Grande Labirinto, com Lygia Pape e L. Figueiredo (Ed. Rocco 1986)

O Relativismo Enquanto Visão do Mundo, com Antônio Cícero (Editora Francisco Alves)


Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.