Glamour decadente

Bob Wolfenson
Cores locais – Hotel típico do interior do Brasil, com decoração peculiar, em Cambuquira, Minas Gerais, foto de 2013

Belvedere. Segundo o dicionário, é um pequeno mirante, terraço em parte elevada, de onde se descortina um vasto panorama. Para o fotógrafo Bob Wolfenson, belvedere tem significado análogo, mas aplicado a outro campo de visão. Em seu novo livro, que ganhou a palavra de origem italiana como título, ele faz uma viagem ao passado, carregada de um olhar afetivo, que sugere, com beleza e certo nó na garganta, o quanto o tempo tornou hotéis e destinos turísticos de sua infância símbolos de abandono e solidão. As fotos revelam uma informação óbvia: o tempo é capaz de mudar hábitos, de fazer as coisas se esvairem, torná-las decadentes. Algumas, como a imagem de um homem solitário, sentado diante de um balcão de bar, remetem a imagens icônicas de Edward Hopper.

No prefácio de Belvedere, Wolfenson comenta o quanto tais rotas turísticas eram habituais para certa classe média brasileira. A rarefação de frequência de hoje é o maior fator da decadência desses espaços. Mas, longe de impor um significado, o livro suscita interpretações pessoais do mote sugerido pelo fotógrafo. Leva também a outras viagens. O gancho, e este conceito que impregna as 41 imagens reveladas por Wolfenson em Belvedere, vieram durante uma viagem. Estava a caminho do Festival de Fotografia de Tiradentes para dar uma palestra. Na primeira parada que fez para dormir, pernoitou num hotel em Caxambu, no Circuito das Águas de Minas Gerais. Ao acordar, sentiu-se tomado por sentimentos nostálgicos.

Bob Wolfwenson
Solidão dos espaços – Sem ninguém para conversar, homem vê programa de TV em um bar da cidade americana de Atlantic City, 2011

O encontro com um ambiente tão familiar em sua infância – fazia regularmente com os pais a mesma rota para ir a cidades como Águas de São Pedro, Águas de Lindoia, Campos de Jordão – fez com que ele incluísse em seus planos fazer um livro e regressar a esses destinos. Decicidiu também incluir nos cliques outros lugares fora do País, onde esse mesmo sentimento de memória fastigada o tomava. Foi ao Rio de Janeiro, ao Colorado, nos EUA, à Cracóvia. Depois de flagrar armas, drogas, animais silvestres, globos de bingo e até motosseras em seu livro anterior Apreensões, Wolfenson voltou dessas viagens com mais um belo título na bagagem.


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