Novos espaços para a arte

Com o tema Novos espaços para disseminação e distribuição da arte contemporânea teve início o primeiro painel do II Seminário Internacional “Quem é Quem Na Arte Contemporânea”, realizado pela revista ARTE!Brasileiros, no Auditório Ibirapuera, em São Paulo.  

Sandra Mulliez, fundadora da SAM Art Projects, abriu as apresentações relatando como funciona e quais são as principais atividades da instituição sediada em Paris, na França. Definidos por um comite formado por curadores, críticos e diretores de instituições culturais, europeias e de outros continentes, o programa da SAM Art Projects procura valorizar residências bilaterais de artistas emergentes. Sem sede fixa, justamente para valorizar a ocupação de diferentes espaços expositivos, o grupo é uma iniciativa privada, sem vínculos com esferas governamentais, que opera com fundos próprios. Desde junho de 2013, a SAM Art Projects acolhe uma instalação do brasileiro Henrique Oliveira, que permanecerá exposta por um ano. Em outubro, será aberta mostra individual do artista Matias Duville. A organização promove ainda prêmios que contemplam a produção francesa, e viabiliza a residência de artistas locais em países como Argêlia, Colômbia, Brasil, indo além, como explica Sandra.  “São fios que nós tecemos, conexões com o mundo inteiro. Recebemos artistas da Indonésia, Índia, muitos vindos de países latino-americanos, que hoje têm uma cena muito forte.”

Diretor Artístico do ICCo (Instituto de Cultura Contemporânea), Daniel Rangel abriu sua apresentação reiterando dois conceitos muito abordados e caros ao instituto: espaço e tempo. Uma relação “urgente”, segundo ele, que foi decisiva, inclusive, para não dar, a exemplo do SAM, uma sede fixa ao ICCo, que utiliza-se de diversas parcerias para oferecer uma saudável diversidade de espaços expositivos a novos artistas e nomes consolidados. Fundado em 2009, por iniciativa da colecionadora Regina Pinho de Almeida, que pretendia “abrir uma instituição para apoiar a arte contemporânea muito além do ato de colecionar”, segundo Rangel. Financiado por Regina, mas também por uma série de parceiros, o ICCo defende, com essa postura colaborativa, formas de driblar usuais lacunas de ações governamentais. “Nossa principal estratégia de ação é promover parcerias. Através delas, conseguimos realizar todas nossas ações e identificar, no meio dos processos, as lacunas e, assim, preenchê-las com maior agilidade. Enfrentamos dificuldades  em fazer políticas públicas para a arte contemporânea, e processamos essa ação e reação de maneiras muito mais ágeis do que as que o governo pode dar.”

Conforme esclareceu Rangel, ao longo dos últimos anos, tais parcerias atravessaram fronteiras e, hoje, enolvem não só parceiros locais – Caixa Cultural, Paço das Artes e MAC-USP, entre eles –, como também originários de outros países, como a Fundação Sindika Dojkolo, de Angola, a Fundação Bienal Cerveira, de Portugal e a Bienal de Havana, em Cuba.

O ICCo também acolhe propostas de curadorias, palestras, workshops, programas de residência artística e é responsável por publicações editoriais. Durante sua apresentação, Rangel antecipou uma boa nova. A reedição das nove edições da antológica revista Klaxon, principal porta-voz editorial das ideias dos modernistas, após a Semana de Arte Moderna de 1922. E a novidade vai além. Não bastasse resgatar esse material histórico, o ICCo ainda deverá publicar um décimo volume, que será lançado juntamente com as reedições dos números originais. O projeto integrará a coleção Fac-Símile.


Luiza Sigulem

Em 2014, o diretor artístico do ICCo também adiantou que será realizado um grande projeto com o artista Tunga, e também será lançada uma nova coleção editorial, que deverá dedicar livros a importantes nomes que emergiram nos anos 1980. Mas o mais ambicioso projeto do ICCo pra o próximo ano será trazer ao País a segunda edição da World Biennial Forum. Sediada na Coréia do Sul, a primeira edição do evento reuniu representantes de 72 bienais realizadas ao redor do mundo. 

Curadora-chefe da Chisenhale Gallery, do Reino Unido, Polly Staple, atua há cinco anos como diretora da instituição que existe desde 2000 e é sediada no enorme galpão de uma extinta fábrica. Estabelecido por artistas britânicos nos anos 1980, o espaço surgiu como uma instituição independente e passou a receber recursos públicos em 1986. Tais verbas, repassadas de três em três anos, são hoje responsáveis pela manutenção de 40% dos custos operacionais da Chisenhale. As demais demandas são supridas com parcerias privadas.

 

O programa anual da galeria é definido por um conselho composto por 12 pessoas. “Nosso foco está na produção e apresentação de novas formas de atividades artísticas, voltadas para o local e internacional. A realização de projetos para o desenvolvimento de trabalhos em redes internacionais é chave para nós.  A Chisenhale é um espaço incubador, um espaço de exposições, mas também um centro de pesquisas. Recebemos cerca de 25 mil pessoas por ano, e outras 75 mil com os projetos que realizamos off site. Realizamos mais de 50 exposições e triplicamos o público, nos últimos cinco anos. No novo momento econômico que vivemos, estratégias são necessárias para apoiar as artes visuais e refletir criticamente esse processo. A reflexão crítica é muito importante para nós.” 

Encerrando as apresentações do primeiro painel, Solange Farkas, Diretora e Curadora da Associação Cultural Vídeo Brasil, fez um balanço das edições mais recentes do festival bienal, que recentemente completou 30 anos de existência. “A introdução do vídeo causou um impacto no sistema da arte, pois levou definitivamente o movimento, o fator tempo, a tela e a projeção para propor novas dimensões.  O vídeo ajudou a romper fronteiras nas diversas áreas artísticas e contribuiu para o questionamento da ordem estabelecida, tanto em termos formais como discursivos. No Vídeo Brasil essa compreensão de um novo momento se deu mais a partir da década de 00. Investigamos a produção artística contemporânea com o foco mais dirigido à artistas que constituem o que consideramos uma geografia política, sejam eles do Brasil, da África, ou do Oriente Médio.”

Entre as diversas ações promovidas pelo Vídeo Brasil, um dos destaques desse período destacado por Solange é a produção da série de documentários intitulada Coleção Autores, que já contemplou artistas como o sul-africano William Kantridge, e a cubana Coco Fusco, radicada nos EUA. O próximo título, que deverá ser lançado até o final de 2013, é dedicado a Olafur Eliasson e foi dirigido pelo cineasta Karim Ainouz. “Um filme maravilhoso, chamado Domingo, que apresentam estratégias do Olafur, mas acima de tudo revela uma simbiose perfeita entre os dois artistas, apaixonados sobre São Paulo”. Outro artista que recentemente se apresentou em São Paulo foi o cineasta Peter Greenway, que além de expor uma série de vídeos experimentais chegou a apresentar uma instalação na Avenida Paulista. 



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