Os bichinhos no Brooklyn.

Em meados da década de 1960 um casal de argentinos estabeleceu residência às portas do cemitério do Brooklyn. Apesar das condições adversas, a dupla de imigrantes superou obstáculos e prosperou. Imagina-se que acreditavam no chavão “os Estados Unidos são a terra das oportunidades”. Hoje seus descendentes se contam às centenas e transformaram-se numa atração ainda maior do que o belíssimo Green-Wood Cemetery. Os vizinhos já se acostumaram com a gritaria ensurdecedora que os transplantados começam a fazer já ao raiar do dia. Afinal, periquitos são mesmo conversadores. Ainda mais em se considerando de onde vieram.

Aqui eles são chamados de Quaker Parrots, mas é evidente que esses filhos do Prata não seguem nenhuma denominação religiosa. Ainda que se pode acreditar: eles têm proteção especial do Divino. Não fosse assim, como as avezinhas de clima subtropical conseguiriam suportar tão bem os gélidos invernos nova-iorquinos? E, enquanto os pássaros migratórios rumam ao sul no final do outono e começo do inverno, os argentinos ficam firmes em sua nova morada.

Há controvérsias sobre sua chegada aqui. Duas teorias competem como explicação do fenômeno. A primeira defende que estes Myiopsittas Monachus vieram como bichinhos de estimação, mas depois foram abandonados por seus donos cansados da barulheira. A segunda hipótese, ainda mais fantástica, mas que parece ser a certa, é a de sensacional fuga de um container acidentado no aeroporto John F. Kennedy. Ou seja: eles faziam parte de um carregamento destinado às lojas de animais e, por um acaso, ganharam green card quando o gaiolão caiu.

O fato é que a periquitada estabeleceu colônias. A principal é no Brooklyn, mas existem filiais em Nova Jersey, Long Island e até no Queens. A convivência com humanos não se dá sem problemas. “Esses bichos fazem ninhos nos transformadores de energia, nos postes, e acabam por causar curtos-circuitos. Além disso, defecam sobre carros, gente, casas; um inferno”, diz Genaro Caroto, imigrante da Sicília, já foi alvo diversas vezes.

Os trabalhadores do cemitério gostam de seus vizinhos. Porém levam sustos diariamente com essa turma argentina. “Os periquitos aprenderam a fazer o som das gaivotas. Eles sobrevoam a gente e soltam os gritos de gaivota. A gente acha que está para ser atacado por aqueles pássaros, que são ousados e mergulham para roubar aquilo que estamos comendo. Mas, quando vamos ver, são apenas os periquitos pirando nossas cabeças ”, diz Alex Joseph, imigrante das Bahamas.

Esses argentinos são mesmo gozadores. Tanto que ao invés do uniforme azul e branco da seleção de seu país, envergam o verde e amarelo do time rival. Dizem que alguns são tão pilantras que até vêm comer na mão da gente. Vale a pena fazer uma viagem ao Brooklyn para vê-los. E o Cemitério Gree-wood também não é de se jogar aos porcos. Ou seja: um programa muito mais interessante do que o espetáculo de macaquices de Times Square.


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