“O Brasil como polo internacional de Pesquisa e Desenvolvimento”

No 1o painel do seminário realizado pela Brasileiros nesta sexta-feira, dia 4, importantes empreendedores e pesquisadores da área de inovação debaterem o tema: “O Brasil como polo internacional de Pesquisa e Desenvolvimento”.  De modo geral, os participantes afirmaram que o potencial do País é grande, e apresentaram projetos bem-sucedidos em diferentes áreas. Quase todos concordaram, no entanto, que muito ainda deve ser feito para que o Brasil se transforme em um verdadeiro polo mundial de P & D, e, nesse sentido, fizeram cobranças em relação ao papel do governo e do Estado Brasileiro. Veja os destaques do que falaram os palestrantes:

Alberto Gadioli, diretor de P & D da 3M
Inovação é o coração da 3M. Na casa de vocês, há ao menos dez ou 15 produtos da empresa sem que vocês saibam. Para que se inove, é preciso ter um espírito focado em quebrar paradigmas – um processo de pensamento não linear. É preciso sair de algo teórico e ir para a prática, ou seja, inovação é quando você transforma uma ideia em algo real; quando gera valor para a empresa e para a sociedade. Sabemos também que gestão da inovação é tão importante quanto a inovação em si.

A 3M atua em 55 mil itens de produto, quer dizer, parece ser a empresa mais “desfocada” do mundo. Mas não: somos focados em inovação. Temos cerca de 40 mil patentes até hoje. O foco é a necessidade dos clientes, para ver como fazer com que ele faça melhor o trabalho dele. A taxa de conversão de uma ideia em um produto de sucesso é relativamente baixa, então a cultura de inovação tem que fazer parte. Inovação se faz como parte de uma estratégia e a partir da possibilidade de investimento. E apostamos no longo prazo, não se tem uma boa ideia do dia para a noite. As oportunidades no Brasil são fantásticas, temos crescido de forma sustentada a mais de 40 anos.

Elso Alberti Jr, diretor de planejamento do Parque Tecnológico de São José dos Campos
Trabalhamos com a concepção de que inovação não existe se não se transformar em algo de valor, algo que se comercializa. O nosso parque tem 5 anos de operação, investindo em suportar as empresas instaladas e promover projetos de pesquisa e inovação com planejamento estratégico. São José é uma cidade com vocação para P & D. Ela se tornou ao longo das décadas um importante polo tecnológico, e o parque tem que ser um novo elemento para o crescimento da cidade.

Temos grandes áreas, queremos construir uma cidade tecnológica. O parque é habitat da inovação e do empreendedorismo, tanto com empresas quanto com instituições acadêmicas. O núcleo do parque tem 188 mil m2, o entorno mais 1 mi m2, e temos a zona com 25 mi  m2 em que qualquer empreendimento deve ter relação com o parque. Estamos planejando construir hotéis, condomínios e centros de lazer e cultura. Porque imaginamos que nos próximos 25, 30 anos podemos ter até 90 mil pessoas habitando ali.

No Parque, há os centros de desenvolvimento tecnológico, o parque das universidades e os centro empresariais. Já investimos cerca de R$ 1,7 bi só em infraestrutura. É um ambiente de parcerias e diálogos entre empresas e instituições. De troca e cooperação. E tem muita mão de obra de qualidade na região. Há ainda vários desafios, como agregar de forma mais consistente a cultura de empresas e academia.

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Nercio Fernandes, vice-presidente de Inovação da Linx
Somos uma empresa de ciência e tecnologia de 30 anos, focada no varejo. E o varejo é um dos puxadores do nosso PIB.  Nossa receita bruta em 2010 era de R$ 144 mi, e em 2013 é de R$ 202 mi. Trabalhamos com recursos de FINEP, BNDES, entre outros. Busca de recursos e possibilidades de criar inovação às vezes é mais fácil do que as pessoas imaginam. Batendo na porta, pedindo explicação, sabendo o caminho… Porque se você tem bons projetos, tem que ir em busca dos recursos disponíveis.

A gente se considera um empresa inovadora. Veja bem, o varejo há 500 anos é assim: você entra na loja, compra e sai com uma sacola. Aí apareceu o varejo virtual, que já foi uma grande mudança. Mas o que tem permeado hoje é mais avançado: Nota fiscal eletrônica, integração de canais de compras, plataforma de promoções, canais diretos com os clientes, etc. O ambiente está muito mais complexo. Queremos um cliente mais satisfeito, com mais fidelização, e por isso a Linx reinveste 15% em P & D, um valor bastante alto.

Há um problema. Entre 30% e 35% da nossa mão de obra está envolvida em atender legislação, diferente em cada Estado. Isso é muito. Isso traz produtividade? Não. Então temos que pressionar para que deixe de ser assim.

Laércio Consentino, Presidente da TOTVS
Falar de inovação é falar de futuro. Pois só temos uma certeza: o que fazemos hoje, faremos diferente daqui dez anos. A gente precisa mudar muita coisa no Brasil, no que diz respeito à governo, empresas e sociedade como um todo. Falta integração da universidade com as empresas, pois ainda tem essa distância no Brasil.Temos que evoluir. Também é complicado abrir uma empresa no Brasil, mesmo com a evolução do crédito, que é um grande avanço. Mas temos que trabalhar para ter um ambiente de inovação do país. 

O tempo que se gasta na empresa para cumprir as exigências legais é desproporcional ao que a empresa investe. O Brasil pode se tornar um polo de inovação? Sim, temos condições, mas falta fazer mais coisas e mais rápido. O valor de gerar algo novo é maior hoje do que o de produzir. Há uma ruptura de pensamento da nossa geração para a nova geração. A nova geração quer influenciar, ser percebida, ser única. E temos que possibilitar isso.

A TOTVS é um eterno desafio baseado em pessoas. Temos que desenvolver empreendedorismo, mas com estilo. Tem que interpretar o mundo, o que está acontecendo, e querer mais. Tem que questionar e fazer diferente. Aí nasce a inovação. É importante acreditar e saber que podemos transformar o Brasil em um país mais competitivo. Mas precisamos ser rápidos.

Silvio Meira, Professor titular da Universidade Federal de Pernambuco
Tudo é software hoje. Todo mundo vai ser substituído por software. Em inovação, as soluções não são simples, nem complicadas, nem políticas. Tudo que é inovação chega perto do caos, sem entrar nele. Há um grande problema de modo geral: não se sabe qual a diferença entre os pares “problema/solução” e “pergunta/resposta”. É preciso abstrair problemas em perguntas. Depois de ter resposta, transformar em soluções. Tem que fazer as perguntas certas, com criatividade. E para transformar resposta em solução tem que ir pro mercado. E ter empreendedorismo. Inovação sem empreendedorismo não serve.

Como o mundo muda? Com ciência e inovação. E esse universo de perguntas e respostas passa pela educação. O governo funciona na própria mecânica dele, dissociado de população e empresas. O governo vira uma pedra. É preciso uma visão de longo prazo articulada em políticas de curto e médio. O imediatismo brasileiro acaba levando para soluções não efetivas. Temos uma situação em que hoje é mais barato contratar um PhD nos EUA do que no Brasil.

 


Comentários

Uma resposta para ““O Brasil como polo internacional de Pesquisa e Desenvolvimento””

  1. Temas relevantes foram expostos e precisam de uma boa reflexão por todos nós, que queremos nos adequar às mudanças e caminhar para um desenvolvimento sustentável e próspero; e nos tornarmos um país mais descolado das nações exportadoras de altas tecnologias.

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