Caras pálidas e peles vermelhas

O presidente Barak Obama foi entrevistado recentemente pela agência de notícias AP. No meio da conversa o repórter perguntou qual era sua opinião sobre o nome do time de futebol (americano) “Redskins” (peles vermelhas), de Washington. O presidente disse que se fosse dono do clube mudaria esse nome. Iniciou-se então uma polêmica que continua fervendo, em uma nação que passa por momentos de sérios riscos econômicos. Recentemente, houve fechamento de setores governamentais por falta de verbas e existe a possibilidade futura de calote de dívidas públicas, caso não seja aprovada a autorização para o aumento do limite gastos.

A polêmica sobre os Redskins é antiga. Aponta-se racismo o nome do time da capital. Seria termo ofensivo aos nativo-americanos. Isso a despeito de que quem cunho o apelido foram os índios. Referiam-se à pele branca queimada pelo sol, a lá pimentão, e exibida pelos invasores colonos. Depois de um tempo, o apodo virou contra os criadores. O clube e Washington tem tradição e seu dono, um homem sem noção chamado Daniel Snyder, não quer cancelar o batismo. Saiu-se com uma pesquisa dizendo que nove entre 10 nativos dizem não se importar com a designação.

A pesquisa é furada, encomendada especialmente por Snyder. Porém, duvido que fique muito longe da verdade. Vá a uma reserva apache no Estado do Novo México e pergunte se algum morador está preocupado com o time de Washington. O que me disseram por lá, há cerca de quatro anos, foi que ninguém está nem aí com nomes como “Atlanta Braves” (time de beisebol de Atlanta), “ Cleveland Indians” (esquadrão de beisebol de Cleveland) e outras alcunhas. Tem mais: fui surpeendido pela afirmação de vários habitantes locais de que essa história de “native american” é coisa de branco besta, e que eles mesmo querem ser chamados de “índios”.

Lembrei-me de uma aula que dei, como convidado, há quase 20 anos, para a turma de pré-primário onde estava minha filha. Falei sobre o Brasil e mostrei um livro que escrevi chamado “Colors of Brasil”. Ao chegar nas páginas sobre a Amazônia, apareceram fotos de índios que, naturalmente, foram chamados por mim de “índios”. A professora se enfezou com o termo e me recomendou em alto e bom som que os chama-se de “Native Brazilians”. Batí de prima: “No Brasil nós o chamamos de índios. Eles se chamam de Tupys, Garanys, Tucanos, Xavantes, mas de modo geral de índios, também”. No final da conversa a professora quis melhorar o clima criado e perguntou: “E sua esposa? É brasileira também?”. Novamente chutei de bate pronto: “Ela é native riverdalian. Nasceu aqui mesmo no bairro de Riverdale”.

É claro que tem índio aqui que se ofende com os nomes de times esportivos. Mas, na verdade, a maioria dos nativos está mais preocupada com problemas que a atinge como praga. Um exemplo é o fechamento de agências do governo por uma pirraça da Câmara de legisladores. Vários programas sociais que são vitais para as nações indíginas estão parados. Por isso, quando um comanche, siux, arapaho ou cheyenne fica com a cara vermelha é de raiva das patifarias de Washington.


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