A chamada “polêmica das biografias” parece ganhar novo fôlego a cada dia. Seja por conta de artigos de intelectuais, reportagens, discussões nas redes sociais ou declarações desastradas de alguns dos envolvidos, o assunto segue repercutindo e polarizando opiniões.
Na semana passada, a Brasileiros fez um pequeno resumo do que havia acontecido até ali (leia), com as declarações de Djavan, a briga de Paula Lavigne com a jornalista Mônica Bergamo etc. Criamos também uma enquete para saber a opinião dos leitores: “Você concorda com Caetano, Gil, Milton e Roberto Carlos, entre outros artistas, que querem que as biografias recebam autorização prévia para serem publicadas?”. Para a pergunta, que segue no ar em nosso site, o resultado até agora é de 80% para Não e apenas 20% para Sim.
De fato, os artistas, acostumados a serem adorados pelo público, parecem isolados no momento, o que ficou claro nesta semana. O próprio Chico declarou à Folha, em matéria publicada hoje (18): “É uma discussão que é até bom que seja levada adiante, mas não nos termos em que as coisas estão acontecendo. Já virou batalha num nível muito pessoal –e desigual. Não adianta querer dizer que os artistas são famosos. Nós somos pequenos nessa briga. Repito: posso ter me enganado. Eu julgava que eu estava tendo uma posição sensata”. Leia a entrevista aqui.
Quanto à posição do cantor, o leitor que julgue se Chico está enganado ou não. Quanto à entrevista que disse nunca ter dado ao jornalista Paulo César de Araújo, aí, sem duvidas, ele se enganou (foto acima). Mas o músico se mostrou minimamente sensato e pediu desculpas, após o jornalista publicar o vídeo com a conversa gravada, realizada em 1992. Veja aqui.
Não tão educada foi a atitude de Paula Lavigne, representante do grupo Procure Saber, que durante a gravação do programa Saia Justa (GNT) perguntou para a jornalista Bárbara Gancia: “Bárbara, você é gay assumida, né? Qual o nome da sua namorada?”. E continuou: “Ela não vai se sentir bem vendo eu perguntar isso, é disso que estou falando, você não está entendendo na teoria e agora viu na prática como é ruim ter a privacidade invadida!”.
Escritores
A questão, segundo escritores e jornalistas que trataram o assunto com mais cuidado, não é invadir a privacidade, mas ter consciência de que figuras públicas são parte da história. Mário Magalhães (autor da biografia “Marighella”) foi um dos que argumentou contra a necessidade de se obter autorização prévia para a publicação de biografias, mesmo tendo recebido o apoio da família do ex-guerrilheiro (leia aqui). Ele escreveu: “Todo o malabarismo retórico que busca bloquear o conhecimento público sobre fatos e pessoas de dimensão pública sucumbe diante da seguinte constatação: se aparecer um neto desconhecido de Adolf Hitler no Brasil, teremos de solicitar protocolarmente autorização sua para publicar uma biografia em que o líder nazista seja descrito como genocida”.
Esta semana também, o escritor paranaense Domingos Pellegrini, vencedor de seis prêmios Jabuti e autor de mais de 30 obras, escreveu um livro em que narra episódios que viveu com Paulo Leminski. Depois de não ter tido autorização da família do curitibano, morto em 1989, para a publicação da obra ele disponibilizou pela internet (aqui).
Um dos editores da Brasileiros, Gonçalo Junior contribuiu para a discussão com um relato pessoal sobre a biografia que publicou do artista gráfico e estilista Alceu Penna (Leia aqui). Entre outros pontos, ele desconstrói o argumento de Djavan, entre outros, de que escritores e editoras ganham grandes fortunas com as biografias: “E ainda tenho que ler Paula Lavigne dizer que se ganha dinheiro com biografias no Brasil. Não é verdade. Tanto que conseguir editor é uma tarefa árdua. Elogiam a seriedade do meu trabalho, mas dizem que biografia não dá dinheiro”.
O triste da história é que alguns dos grandes biógrafos brasileiros, como Fernando Morais, Lira Neto e Ruy Castro, já avisaram que desistirão de escrever biografias caso a legislação atual seja mantida. Esperemos os próximos capítulos.
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