Três PMs envolvidos no caso Amarildo se entregam

O caso do desaparecimento do ajudante de pedreiro Amarildo de Souza poderia ser mais um dos tantos episódios de violência policial que passam impunes no Brasil. Mas a pressão da sociedade foi grande, Amarildo se tornou o símbolo de uma luta por justiça, e os resultados da cobrança começam a aparecer. A Justiça decretou na terça-feira (22) a prisão de três militares – os sargentos Lourival Moreira da Silva e Reinaldo Gonçalves dos Santos e o soldado Wagner Soares do Nascimento – por envolvimento no caso da tortura e morte do ajudante de pedreiro (desaparecido no dia 14 de julho) e na tarde desta quarta eles foram conduzidos à Unidade Especial Prisional, em Benfica, na Zona Norte do Rio.

Vinte e cinco PMs foram denunciados no total, todos da UPP da Rocinha. Além dos três presos nesta quarta, 10 já estavam detidos desde o dia 4 de outubro, e outros 12 vão responder em liberdade. O major Edson Santos, ex-comandante da UPP Rocinha, e o tenente Luiz Felipe de Medeiros, subcomandante da unidade, presos desde o início do mês, são os únicos que foram transferidos da Unidade Especial Prisional para a penitenciária Bangu 8, no Complexo de Gericinó. A medida, segundo a Justiça, teve como objetivo preservar as investigações do caso. Nesta quarta, eles tiveram o pedido de habeas corpus negado pela 8ª Câmara Criminal. 

Investigação
Os relatos de PMs que decidiram colaborar com as investigações do Ministério Público revelam que, após ser levado para uma “averiguação” na base da UPP, Amarildo foi submetido a uma sessão de tortura em um contêiner da PM. Enquanto era torturado por quatro policiais, outros 12 ficaram do lado de fora, de vigia. Oito PMs que estavam dentro dos foram considerados omissos porque não fizeram nada para impedir a violência. Outros cinco policiais que decidiram colaborar com as investigações disseram que o major Edson, então comandante da UPP, estava num dos contêineres, que não têm isolamento acústico, e podia ouvir tudo.

Uma escuta feita pela polícia, com autorização da Justiça, foi uma das provas decisiva para a conclusão do caso para o MP. Um homem que se identifica como o traficante Catatau faz ameaças a um policial infiltrado no tráfico — e dá a entender que matou Amarildo, conhecido como Boi. A perícia comprovou que esse homem era o soldado Marlon Campos Reis fazendo uma encenação. Não foi a primeira tentativa da polícia de atribuir ao tráfico a responsabilidade pelo crime.


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