Moradores e comerciantes relatam medo após manifestação na zona norte de SP

A zona norte da capital paulista amanheceu em clima de medo, depois da manifestação de ontem (29) contra a morte de um adolescente, baleado por um policial militar. A PM diz que o tiro foi acidental. Nas regiões do Jaçanã, do Tremembé e da Vila Medeiros, moradores evitavam  sair de casa pela manhã, pais não mandaram seus filhos para a escola e comerciantes deixaram portas semiabertas.

Os rastros de destruição ainda eram visíveis pelas ruas dos bairros. Um caminhão-baú retorcido pelo fogo era retirado pela manhã da Avenida Edu Chavez, no Parque Edu Chavez. Próximo dali, o Ecoponto, que guardava materiais recicláveis, ainda soltava fumaça pelo fogo que queimou durante a madrugada. Na Avenida Maria Amália Lopes de Azevedo, no Tremembé, outro caminhão-baú também estava retorcido pelo incêndio. Mais três ônibus e dois caminhões queimados foram levados para o pátio da Polícia Rodoviária Federal.

José Paulo Ruan, supervisor de obras da subprefeitura da região da Vila Guilherme/Vila Maria, trabalhava na limpeza dos bairros. “Estamos mantendo o local para a perícia, fazendo a segurança e a liberação para o trânsito”, informou. De acordo com ele, serão usados 30 veículos, entre tratores e caminhões  para ajudar na retirada de entulhos queimados, ainda espalhados pelas ruas.

Entre os moradores, o clima ainda era de medo. Suely Pereira, de 50 anos, dona de casa, disse que estava em pânico. “Ontem foi um terror, vi o caminhão pegando fogo. A gente passou por uma situação que não dá para explicar”. Ela contou que preferiu não mandar a neta para a escola hoje (29). “A gente nem sabe se vai ter aula ou não, mas achamos melhor ela não ir para a escola”, explicou.

Outra moradora da Avenida Edu Chavez, que preferiu não se identificar, disse que presenciou o momento em que lojas foram quebradas e saqueadas. “Arrebentaram as lojas, começaram a arrebentar o banco, tacaram bombas. Quando os policiais chegaram na avenida, foi uma verdadeira guerra, parecia um campo de guerra”. Ela aguardava os netos chegarem da escola  as 17h30, mas contou que eles só conseguiram chegar em casa depois das 23h. Na mesma avenida, uma agência bancária depredada era protegida nesta manhã por três viaturas da Polícia Militar.

Na Avenida Maria Amália Lopes de Azevedo, onde um caminhão-baú pegou fogo, moradores ainda não conseguiam entrar em casa por causa de fumaça. “Ainda tem cheiro de fumaça dentro de casa. Ontem tive que dormir na casa de um parente, pela fumaça e também por medo”, contou uma mulher que não quis se identificar.

Havia também moradores cuidando da retirada de entulhos. Genilde Marques da Silva, 58 anos, dona de casa, varria a sua calçada e contou que ainda estava apreensiva. “Eu tenho pressão alta, fiquei nervosa. Hoje mesmo já tive uma crise convulsiva. Nunca vi uma coisa assim, moro aqui há 35 anos”, disse.

Comerciantes, também temerosos, retiraram os produtos dos seus estoques e deixaram as portas semiabertas. Alguns dizem que vão fechar hoje mais cedo, por volta das 16h. Uma empresa de transporte de cargas, próxima ao local onde um caminhão pegou fogo, estava sem funcionar porque a fiação de internet e telefone pegou fogo. “Isso prejudica porque a gente trabalha com sistema de informação, e sem internet e telefone não tem como manter comunicação com os clientes. A gente não consegue rastrear os caminhões e informar para os clientes a localização deles”, disse o gerente, que preferiu não se identificar.


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