Debate do mais, mais, parece telemarketing

Tema da polêmica: juros altos, inflação e dívida pública, ou seja, tudo a ver com a eleição municipal de outubro. Por aí o caro leitor pode ter uma idéia do programa de índio que se arrastou por 160 infindáveis minutos. Com os protagonistas favoritos, Marta Suplicy (PT) e Geraldo Alckmin (PSDB), jogando na retranca, mais preocupados em não perder do que em ganhar o debate, nem o veterano mediador Boris Casoy conseguiu, a certa altura, esconder seu ar de enfado.

A léguas de distância nas pesquisas, o terceiro colocado, Gilberto Kassab (DEM) ainda ousou lançar algumas farpas contra os que estão à sua frente, mas parecia preso à camisa de força dos seus marqueteiros, repetindo incansavelmente números, slogans e bordões, como se estivesse ali apenas representando um papel que lhe deram.

O debate todo, aliás, mais lembrava um teatro mal ensaiado do que um confronto de idéias e propostas. Se depender do que se viu na quinta-feira, tanto faz em quem o eleitor vai votar porque todos, protagonistas, coadjuvantes e figurantes, os oito atores em cena criticaram e prometeram praticamente as mesmas coisas.

De tão gastas e repetidas, as estratégias dos marqueteiros – iguais para todos os candidatos que contam – mais parecem textos de telemarketing, tamanha a falta de criatividade, de improviso, de alguma novidade nas falas decoradas.

O que quer dizer o seguinte: qualquer que seja o vencedor em outubro, nada vai mudar em São Paulo. Vamos seguir no mesmo rumo em direção ao brejo, vivendo numa cidade cada vez mais inviável. Isso pode explicar o absoluto desinteresse dos eleitores pela campanha até agora, já entrando no mês de agosto.

Foi uma modorrenta disputa de quem prometia mais: mais metrô, mais corredores de ônibus, mais hospitais, mais médicos, mais segurança, mais escolas, mais professores, mais iluminação pública, mais, mais, mais…

Antes das considerações finais do último bloco, entreguei os pontos aos braços de Morfeu e não sei dizer que mais coisas prometeram. Mas também não fará a menor diferença.

Com as normas da Justiça Eleitoral obrigando os organizadores a colocar na mesma bancada os candidatos que estão realmente disputando a eleição e outros manés que nem sabem o que fazem ali, além de aparecer na televisão, fica difícil ao final até lembrar quem prometeu o quê.

Some-se a isso as leoninas regras impostas pela emissora para dar o mesmo pouco tempo a todos, com réplicas e tréplicas rebarbativas, e no fim não sobra nada, a não ser a certeza de que a atual fórmula de debates está com o prazo de validade vencido.

É mais ou menos como colocar oito times de futebol em campo ao mesmo tempo. Debate só faz sentido com dois concorrentes frente a frente, questionados por jornalistas ou pelos próprios eleitores sobre questões relevantes para o futuro da cidade.

Neste caso, melhor é esperar logo pelo segundo turno e escolher outro programa nas noites de debates.


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