Nestas duas últimas semanas em que viajei pelo Brasil para cima e para baixo, vi as Olimpíadas apenas de relance em aeroportos, hotéis e restaurantes. Acho que, por isso mesmo, fui o único jornalista que não tinha tratado desse assunto onipresente na mídia do mundo todo.
Por onde passava, dava para ouvir a voz do Galvão Bueno, sempre falando e torcendo muito, vibrando e sofrendo junto nas disputas envolvendo brasileiros em qualquer esporte, dia e noite.
Haja voz e fôlego, pensei comigo, porque já participei da cobertura de duas Copas do Mundo, e sei o que é ficar o tempo todo ligado para não perder nenhum detalhe da competição, mudando toda hora de cidade e hotel, procurando um lugar para comer ou transmitir a matéria.
Num sítio em Aquiraz, no Ceará, vi a seleção feminina de futebol encurralando as americanas no segundo tempo em busca do gol, e entregar os pontos na prorrogação, para desespero do velho Galvão Bueno, que não se conformava com a injustiça do placar, chorando junto com as meninas a perda da medalha de ouro.
No dia seguinte, no aeroporto de Fortaleza, lá estava ele comemorando como qualquer torcedor a grande conquista de Maurren Maggi no salto em distância, um exemplo de superação, a primeira brasileira a ganhar a medalha de ouro numa disputa individual.
Na seqüência, ainda teria fôlego para vibrar na vitória da seleção masculina de vôlei na semifinal contra a Itália. Algumas horas depois, já em São Paulo, na manhã deste sábado, reencontrei Galvão na TV da minha casa disputando cada lance junto com as meninas do vôlei na sofrida vitória contra as americanas.
Para mim, são estas as poucas cenas que vão ficar das Olimpíadas de Pequim, todas narradas pela voz que o Brasil inteiro se acostumou a ouvir na TV Globo nos momentos decisivos em qualquer disputa esportiva nos últimos vinte e tantos anos.
Sei que para muitos coleguinhas da imprensa pega mal falar bem do Galvão Bueno, um profissional que aprendi a admirar ao vê-lo trabalhando antes de me tornar amigo dele. Nunca entendi as razões dessa bronca, mas imagino que seja pelo sucesso que ele alcançou com seu trabalho.
No Brasil, já reparava Tom Jobim, o sucesso alheio parece ofensa pessoal. Dono de invejável memória, sempre bem informado sobre o que se passa na seleção brasileira de futebol, na Fórmula-1 ou em qualquer outro esporte, Galvão é capaz de segurar uma transmissão horas seguidas sem perder o pique.
Daqui a mais algumas horas, à uma da madrugada de domingo, tão certo quanto a seleção brasileira de vôlei masculino entrar em campo e Bernardinho gritar o tempo todo com seu time, é reencontrar Galvão Bueno narrando o jogo e torcendo por mais uma medalha de ouro para o Brasil.
Vitórias e derrotas ficam mais dramáticas na voz deste narrador que sabe que fala demais, mas não tem outro jeito – afinal, ele vive disso, e foi assim que se tornou o torcedor mais bem pago do Brasil. Valeu, Galvão.
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