Lula deixa a oposição e seus aliados sem discurso

Ficou mais difícil a vida dos líderes da oposição e seus fiéis aliados na grande mídia depois da publicação da nova pesquisa “Datafolha” sobre o presidente Lula. “Aprovação a Lula bate recorde histórico – Pela primeira vez, presidente obtém a maioria em todos os segmentos, incluindo os mais ricos e escolarizados”, mancheteia a “Folha” desta sexta-feira.

Não por acaso, nenhum dos seus colunistas tocou no assunto. Preferiram falar de Bolívia, Petrobras, tropas nas favelas cariocas. O problema é que o “Datafolha” simplesmente desmontou todos os argumentos utilizados pelos partidos de oposição e a maior parte dos meus colegas colunistas desde a reeleição de Lula em 2006.

O que eles argumentavam? Que Lula só se reelegeu graças aos votos dos pobres, nordestinos e analfabetos beneficiados pela Bolsa Família, chamada de “bolsa esmola”, os mesmos que depois seriam responsáveis pelos seus altos índices de aprovação nas faixas de menor renda, nas regiões mais carentes e entre os menos escolarizados.

Era esse o discurso. O que eles irão dizer agora? Com 64% de índice de avaliação ótimo/bom e apenas 8% de ruim/péssimo (incluindo aí certamente muitos amigos jornalistas), um recorde depois da redemocratização do país, fico pensando no que eles irão dizer e escrever amanhã.

Segundo o jornal, “Lula também acaba de obter, pela primeira vez, a aprovação da maioria absoluta da população brasileira em todos os segmentos sociais, econômicos e geográficos do país”.

Ainda de acordo com a pesquisa, “pela primeira vez, Lula tem o apoio da maioria do Sudeste, nas regiões metropolitanas, entre os que têm curso superior e entre os que vivem em famílias com renda familiar superior a dez salários mínimos”.

Imagino que nem o próprio Lula poderia sonhar com estes números no sexto ano de seu governo, depois de pegar o país numa situação muito difícil em 2003, com a economia em frangalhos e sem credibilidade no exterior, e tendo que enfrentar uma crise política após a outra em seu primeiro mandato.

Para falar a verdade, ninguém, nem eu, poderia prever este cenário em 2008. Faz 30 anos no mês que vem que voltei da Alemanha, onde era correspondente do “Jornal do Brasil”, virei correspondente da “Istoé” do Mino Carta no ABC, conheci Lula e me tornei seu amigo.

Trabalhei com ele em três campanhas presidenciais e durante dois anos na Secretaria de Imprensa do governo e nunca o vi tão bem, tranqüilo e satisfeito como no último fim de semana quando passei três dias com Lula no Palácio da Alvorada.

Não falamos de política, mas da vida, lembrando de momentos difíceis que passamos juntos nestas três décadas em que o Brasil saiu da ditadura para o mais longo período de liberdades, com crescimento econômico e distribuição de renda, o que explica sua aprovação popular pesquisa após pesquisa.

De dieta, sem poder provar o bom chope que serviu aos amigos, cercado de filhos, noras e netos, todos sob o comando da implacável Marisa, até comentei com ele como agora tudo parece normal, natural, a gente ali em volta da piscina do belíssimo palácio de Niemeyer restaurado recentemente pelo casal, mas teve hora, muitas horas, em que isso simplesmente poderia parecer delírio de sonhadores malucos.

Lula está colhendo agora os frutos da sua própria determinação, da fé no seu taco com o que plantou no primeiro mandato e do compromisso com suas origens nordestinas e operárias que fizeram dele um líder político diferente de todos os outros em nossa história de mais de 500 anos – e por isso cavou nela, literalmente, o seu lugar.

Agora ele se veste bem, cumpre os rituais do poder e viaja pelo mundo com a sem-cerimônia de quem antes ia passar fim de semana na Praia Grande, mas na essência não mudou sua forma de se relacionar com todos, humildes ou poderosos, sempre questionando, provocando, desconfiado das velhas verdades absolutas.

Valeu, Lula.


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