Muitas vêzes conto uma história aqui no “Balaio” ou na coluna e vocês ficam sem saber como ela continua, como termina. Em jornal, acontecia muito isso comigo, mas na internet dá para ir atualizando, contando em capítulos, como vou fazer agora.
“Estou a cada dia melhor. As dores diminuiram e já ensaiei um passeio na quadra”, conta o tenente-coronel aviador Geraldo Lyra, que doou seu rim para ser transplantado em seu seu amigo Davi Rogério da Silva Castro, também tenente-coronel aviador (ver post anterior).
Lyra está feliz da vida. “Vários colegas que acessam o iG e não sabiam da cirurgia me ligaram. Foram muitas as demonstrações de carinho. Mas o principal foi que muitos me perguntaram se eu sabia como proceder para outros tipos de doação de orgãos, tais como medula. Achei muito legal!”
“Aqui em casa minha mulher chora a cada nova boa notícia do Davi e chora também pelas mensagens que acompanham seu blog”.
Ontem fiquei devendo mais informações sobre o receptor do rim e a sua parte nesta história. Davi ainda está internado no Hospital Sírio-Libanês, recebendo medicação, e foi de lá que me enviou a mensagem que transcrevo abaixo.
Davi, 43 anos, é carioca, casado, tem um filho e trabalha atualmente no Comando-Geral de Operações Aéreas (COMGAR), chefe do Centro de Estudos e Valiação da Guerra Aérea (CEAGAR), em Brasília. Seu relato:
“Nos conhecemos na Academia da Fôrça Aérea, em 1984. Nossa amizade surgiu pela assiduidade de ambos no Clube de Vôo a Vela dos Cadetes nos finais de semana, quando verifiquei várias vezes, como passageiro, a perícia do Lyra na pilotam de planadores. Fui honrado por ele e pela esposa como padrinho de batismo de Leonardo, seu primeiro filho. Nunca perdemos contato, mesmo distantes.
Depois de alguns eventos de dor de cabeça e pressão alta desde 2006, fui a um cardiologista em setembro do ano seguinte. No momento da consulta ele perguntou se eu tinha insuficiência renal, o que me preocupou bastante, pois essa foi a causa da morte do meu irmão, algumas semanas antes.
Ele morava no interior do estado do Rio com minha mãe, estava aposentado desde os 40 anos por conta de hipertensão arterial, mas foi muito mal assistido e não percebeu que estava gravemente doente.
A hipertensão é uma doença que pode ter várias causas, inclusive renal, e gera consequências terríveis para o coração e para os vasos capilares do cérebro, dos olhos e do próprio rim. Ou seja, sem tratamento adequado, pode-se entrar num processo lento de desequilíbrio químico e intoxicação irreversível.
Impediatamente procurei vários médicos, inclusive em São Paulo, mas a função renal foi decaindo sem razão primária e num ritmo bastante anormal. Em março fiz a segunda biopsia do rim, sem diagnóstico conclusivo. Nessa altura eu tinha apenas 20% de função renal, o que me habilitou a fazer inscrição na fila de transplante em São Paulo. Essa opção me parecia única em função do caráter genético da disfunção e pelo fato da minha esposa ser portadora de doença auto-imune (LES).
Foi mais ou menos por aí que voltei a comentar com o Lyra sobre minha situação. Ele já havia me ajudado numa consulta com um cardiologista da Presidência, quando eu lhe contei do meu problema de hipertensão. Percebeu meu emagrecimento e imediatamente colocou-se à disposição para ser doador. Essa também foi a postura de um outro colega de turma, o tenente-coronel Arnaldo, comandante do 1º Grupo de Defesa Aérea, de Anápolis. Todos temos sangue tipo “O”.
Bem, inicialmente fiquei muito agradecido aos dois pela generosa oferta, mas eu tinha duas esperanças: interromper a tendência de queda da função renal pela dieta e medicamentos ou conseguir um doador da fila. Com o passar do tempo, nenhuma das duas opções se confirmou e foi então que o Lyra me deu um “ultimato” para completarmos os exames de compatibilidade.
Fizemos tudo com o apoio do sistema de saúde da Fôrça Aérea e qual não foi a surpresa quando o teste final, realizado no Incor, em são Paulo, apresentou um resultado excelente para não aparentados. Com isso, iniciamos os procedimentos para obter autorização juficial, auxiliados por outro companheiro de turma, advogado em São Paulo.
Ainda não tive oportunidade para me expressar adequadamente como sou agradecido ao Lyra, à família dele, minha esposa e tantos outros companheiros e chefes sobre o que está acontecendo na minha vida. Há tantos obrigados a serem ditos e tantas juras de lealdade eterna que terei que “dar um tempo” para fazer isso exclusivamente.
Há uma coisa que ficou mais patente com esses eventos e se confirma nos depoimentos de outras pessoas: a amizade que começou com um grupo de alunos de Barbacena, em 1981, e que recebeu reforço na Academia da Fôrça Aérea, em 1984.
A união da “Turma Águia” (www.turma-aguia.com) é reconhecida por outras turmas como exemplar em todos os aspectos e, agora, também no divino”.
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