Monstra nada sagrada

Ao ver o cartaz de Monstra, arte de Luiz Stein, aqueles que como eu achavam que a dama do teatro de humor carioca Patricya Travassos, que enlouqueceu platéias quando se apresentou em Trate-me Leão, do grupo Asdrúbal Trouxe o Trombone, tinha sido seqüestrada e era mantida como refém por uma abóbora hidropônica por sua atuação em Alternativa Saúde, do GNT, podem respirar aliviados.

No palco do Teatro dos Quatro, em seu espetáculo Monstra, ela está livre tanto das leguminosas criminosas e, até mesmo, das comidas orgânicas. Livre, também, de seu linguajar ‘geenetesco’, politicamente correto. Já na abertura do espetáculo, ela deixa claro que não está ali para se policiar e enfia o pé na jaca, antes mesmo de pisar no palco. Entrando pela platéia, ela já prepara a todos para o que eles irão ver e, de cara, arranca os sapatos de uma das espectadoras porque esqueceu os dela em casa.
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Ela vive Maria Helena, que chega ao teatro com o pretexto de ministrar uma palestra de auto-ajuda e cai em suas próprias armadilhas, pois percebe que os sábios toques que pretendia dar aos presentes não funcionam nem para si mesma.

Isso posto, passa o resto do tempo regulamentar lidando com suas próprias inseguranças até se transformar na tão esperada mulher-monstra.

De seu livro, Monstra e outras crônicas da revista Marie Claire, recentemente lançado pela Editora Globo, Patricya selecionou, com a ajuda do diretor Jorge Fernando, algumas delas e as transformou em dramaturgia.

Segundo a própria Patricya, essas histórias foram colecionadas a partir de suas saídas pela cidade e, é claro, algumas criadas por ela, sempre inspiradas em sua experiência pessoal e de suas amigas. Ela garante que não são histórias autobiográficas.

Patricya nada de braçada em águas tão familiares para ela, o humor escancarado, e nessa tragicomédia singular arranca da platéia as mais deliciosas gargalhadas. Tudo sem o menor pudor.

A direção de Jorge Fernando, que também conhece muito bem esse universo do humor deslavado, colabora de maneira fundamental para que o espetáculo tenha o resultado desejado.

Como ela fala de sexo quase o tempo todo, o homem não escapa de suas observações e a figura masculina é levada ao palco pelo ator – que arranca suspiros da platéia quando tira a roupa – Ricardo Duque. Ele vive um vizinho sexy, um fotógrafo de ensaios de nus para revista masculina e um garoto de programa. Pode-se dizer que o moço além de atuar bem tem o tal do físico para os papéis.

Além dele, ela usa e abusa de uma pobre moça sentada na platéia que é transformada em secretária-assistente e é chamada a opinar e a dividir com ela algumas cenas.

Como se não bastasse, nos vídeos apresentados no espetáculo, ela traz convidados especiais como Regina Casé e Evandro Mesquita que, com o talento daqueles que conhecem muito bem os seus ofícios, mostram suas personagens hilárias – para usar uma expressão da época. Confirmando assim a proposta da palestra que é sempre melhor estar bem acompanhada do que só.


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