Após a tragédia, o exemplo da família de Eloá

Só agora que a tragédia de Santo André acabou, e todo mundo já falou e escreveu e faturou o que podia e o que não podia nas 100 horas daquela interminável agonia, atrevo-me a tratar do assunto, mas para falar de uma coisa bonita.

Sim, até nas maiores tragédias temos exemplos de vida em meio à morte. Claro que estou falando da decisão tomada pela família da menina Eloá Pimentel de doar todos os seus orgãos assim que foi constatada a morte encefálica.

Em vez de ficarem discutindo se a polícia agiu certo ou errado nos deprimentes debates promovidos durante todo o domingo na televisão, exibindo à exaustão as derradeiras cenas da tragédia de Santo André, por que meus colegas não aproveitaram o belo exemplo da família de Eloá para divulgar informações sobre a campanha de doação de órgãos recentemente lançada pelo governo federal?

Por que não fizeram reportagens mostrando o drama de milhares de pacientes que estão neste momento nos hospitais e em suas casas esperando de outras famílias a grandeza dos parentes da menina de 15 anos que salvará outras vidas após a sua morte?

Contei aqui no mesmo Balaio, outro dia (ver posts anteriores), sem que nenhum outro veículo se interessasse pelo assunto, a exemplar história de dois tenentes-coronéis aviadores da FAB em que um doou seu rim para salvar a vida do outro.

Centenas de leitores enviaram comentários naqueles dias relatando seus dramas familiares com histórias similares de quem aguarda a doação de um orgão para poder voltar a levar uma vida normal.

Aquilo que passou despercebido para os profissionais da chamada grande imprensa, que se limitaram a registrar o fato neste fim de semana, chamou a atenção de um leitor da “Folha”, Maurício Leal Dias, de Belém do Pará.

Abaixo, a carta do leitor publicada na edição do jornal nesta segunda-feira:

“Fico comovido com a atitude exemplar da família de Eloá, que, em um momento de tanta dor, possibilitou que outros possam dar continuidade às suas vidas, ao decidir doar os órgãos da adolescente.

Espero que este gesto sirva como estímulo para que outras famílias autorizem a doação de órgãos de seus entes queridos, pois, no Brasil de hoje, milhares estão sofrendo na fila de transplante”.


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