Marta Rocha era uma égua muito querida pelo povo da mata. Ganhou esse nome porque tinha as ancas largas, como a Miss Brasil que teria perdido o título mundial por exibir duas polegadas a mais nos quadris. Pilontra era um filhote de lontra levado da breca. Onças, jacarés, macacos, cachorros e um galo também faziam parte das histórias que a guerrilheira Criméia Almeida contava para o filho e os sobrinhos dormirem nos anos 1970. Garotos urbanos, eles cresceram ouvindo relatos de caçadas na floresta e do cotidiano nas imediações do rio Araguaia. Só mais tarde as crianças souberam que o cenário das histórias de Criméia também tinha abrigado o horror. Entre abril de 1972 e janeiro de 1975, as Forças Armadas realizaram três ofensivas na área, conhecida como Bico do Papagaio, entre o sul do Pará e do Maranhão, e o norte de Goiás (hoje Tocantins). Para combater um grupo de 70 guerrilheiros do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), o Exército entrou com um contingente de três mil homens em uma das ofensivas. Na fase final do conflito, que o regime militar escondeu do resto do Brasil, guerrilheiros foram decapitados e suas cabeças expostas nos povoados da remota região.
Criméia está entre as poucas pessoas a sair com vida da Guerrilha do Araguaia. Com quase oito meses de gravidez, ela foi presa pouco depois de chegar a São Paulo, em 29 de dezembro de 1972. Estava na casa onde funcionava uma gráfica clandestina do PCdoB, com os sobrinhos Janaína, 5 anos, e Edson, um ano mais novo que a irmã, filhos de sua irmã, Maria Amélia Teles, a Amelinha. Os meninos foram levados para o Doi-Codi, um centro de “interrogatório” do Exército, onde seus pais se encontravam sob tortura desde a véspera. Nos primeiros dias, Criméia teve o mesmo destino, mas, por causa dos vínculos com o Araguaia, acabou transferida para um batalhão do Exército em Brasília. Seu filho, João Carlos, o Joca, veio ao mundo na prisão, no Hospital da Guarnição de Brasília. Joca jamais conheceu o pai, André Grabois, nem o avô, o ex-deputado Maurício Grabois, ambos mortos no Araguaia. Antigo líder da bancada comunista na Câmara dos Deputados, Maurício era um dos comandantes da guerrilha. Além de André, ele teve uma filha, Victória, cujo marido, Gilberto Olímpio, também foi executado no Araguaia. Victória e Gilberto, por sua vez, eram pais de Igor, seis anos e sete meses mais velho do que Joca. Os dois primos só se encontraram em 1980, depois da Lei de Anistia.
A história que fez cruzar a vida dos meninos Joca, Igor, Janaína e Edson começou em 1966, quando o PCdoB passou a deslocar militantes para a região do Araguaia. A ideia era criar uma guerrilha de ação prolongada, inspirada na guerra popular da China. A partir de pequenos núcleos rurais, seria formado um exército do povo, que, em algum momento futuro, tomaria as cidades. Começaria então a valer um provérbio repetido à exaustão pelo líder chinês Mao Tsé-Tung: “Uma faísca pode incendiar a pradaria”. Com base nos planos feitos pelos líderes do PCdoB, os guerrilheiros circulavam por uma área de mais de 6 mil km2, onde montaram três destacamentos. No território de cada destacamento, viviam com poucos recursos, em casas rústicas, distantes umas das outras. Embora decididos a se misturarem à população, acabaram conhecidos como paulistas ou povo da mata. Afinal, na região onde forasteiros chegavam para conquistar terras à força, explorar garimpos e enriquecer às custas da servidão alheia, mulheres e homens do PCdoB prestavam serviços de saúde, promoviam cursos de alfabetização e participavam de mutirões de plantio e colheita.
Criméia, a mãe de Joca, ajudou a fazer pelo menos 28 partos no Araguaia. Como a maioria dos guerrilheiros, ela havia trocado a faculdade (no caso, de enfermagem) pela vida na mata. Entre eles, havia também profissionais liberais, como o médico gaúcho João Carlos Haas Sobrinho. O grupo ainda não estava preparado para entrar em ação quando os serviços da ditadura souberam de sua existência. Com isso, seis anos depois da chegada do primeiro guerrilheiro, tropas do Exército desembarcaram no Araguaia, em 12 de abril de 1972. Ocuparam povoados, queimaram casas, destruíram roças, aterrorizaram a população. Deixaram a área cinco meses depois, sem conseguir acabar com a guerrilha. Em outubro do mesmo ano, começou a segunda ofensiva dos militares, com presença maior da Aeronáutica e da Marinha.
Fora da área da guerrilha, Criméia não se livrou da violência. Mesmo grávida, passou pela tortura. Depois de transferida para Brasília, ficou muitas horas em trabalho de parto antes de o oficial médico decidir assisti-la. Quando ela reclamou, dizendo que o bebê poderia morrer, recebeu uma resposta cruel: “Não tem importância. É um comunista a menos”. Enquanto permaneceu no hospital, Criméia às vezes era separada do filho por longos períodos. Em um requinte de tortura psicológica, diziam que o bebê tinha sido encaminhado para uma instituição de crianças abandonadas. Ao final de quase dois meses, entregaram o pequeno Joca para uma prima de Criméia que morava em Belo Horizonte.
Cadeira do dragão
O bebê carregou uma bagagem extra no próprio corpo – entre as roupinhas, um pequeno diário no qual a mãe contava a sua história e falava o quanto ele era amado. “Imaginei que, se ele fosse entregue para a adoção, poderia um dia ler o diário”, recorda Criméia. Mãe e filho, no entanto, não demoraram a se reencontrar. Como a ditadura negava a existência do conflito no Araguaia, seus agentes não abriram processo contra a guerrilheira. Libertada em abril de 1973, Criméia foi buscar o filho, em Belo Horizonte. Ao mesmo tempo, começou a procurar Janaína e Edson, os dois sobrinhos que estavam em sua companhia no momento da prisão, em São Paulo.
Durante um tempo, talvez uma semana, talvez dez dias, as crianças tinham ficado na sede do Doi-Codi. Assim que chegaram, foram levadas para a sala de tortura, onde estavam seus pais, Amelinha e César Augusto Teles. “Minha mãe estava roxa, meu pai, verde. O mais impressionante é que eles não se mexiam. A gente costumava se beijar muito, tomava banho junto, mas quando eu e o Edson chegamos, meus pais não mexeram nem os braços”, lembra Janaína. Com 4 anos, Edson não reconheceu Amelinha: “Foi estranho porque a voz era familiar, mas o rosto não correspondia. Era muito diferente da imagem que eu tinha de minha mãe”. Pelo relato dos adultos, Janaína chegou a ver a mãe na cadeira do dragão, um aparelho de tortura com assento, apoio de braços e espaldar de metal, na qual o preso era amarrado e recebia choques elétricos. “Eu era pequena, não me lembro”, diz Janaína. “Ainda bem que não me lembro.” Daqueles tempos, ela se recorda de ficar com o irmão, durante o dia, no estacionamento do centro de tortura, que diziam ser um hospital: “Achava esquisito, porque não tinha ninguém de branco. A gente ouvia muitos gritos. E tinha sempre uns caras de verde-oliva jogando sinuca, mas eu não sabia que essa era a cor do Exército”.
À noite, os meninos eram levados de carro para uma casa, onde dormiam em colchões colocados no chão da cozinha. Quarenta anos depois, eles ainda não conseguiram identificar o local. Edson acredita que não ficava longe do Doi-Codi: “Passávamos pela Avenida 23 de Maio. Sei disso porque na avenida tinha uma propaganda, um pistão da Metal Leve, que ficava se mexendo sozinho. A gente passava lá de noite”. Dias depois, os irmãos foram levados de carro para a casa de um delegado casado com uma irmã do pai, em Belo Horizonte. “Ficamos seis meses sequestrados. Era uma parte da família que a gente não conhecia. Ele era um homem grosseiro. Uma vez, colocou o revólver em cima da mesa e nos disse para nunca mais perguntarmos sobre os nossos pais. Aliás, nessa época, eu ouvia o tempo todo que eu era comunista, mas não fazia a menor ideia do que significava.” Janaína completou 6 anos nessa casa. Os pais continuavam presos em São Paulo. Ela e o irmão, no entanto, acreditavam na versão de que tinham sido abandonados.
Folha em branco
Edson, que costumava perguntar pelo zoológico próximo de sua casa em São Paulo, jamais se esqueceu do dia em que o delegado resolveu levá-lo para passear: “Ele disse que iríamos ao zoológico. Não chamou os três filhos dele nem a Janaína. O zoológico que me levou foi a carceragem da delegacia. O que mais me marcou foi o olhar de pavor dos presos diante dele”. Uma tarde, os meninos brincavam no jardim da casa, quando ouviram um “psiu”. No portão estava Criméia, que conseguira localizar os sobrinhos. “Naqueles tempos, para nós, todo mundo era tio, mas ela era uma tia que trazia lembranças boas”, conta Janaína. O delegado proibiu Criméia de falar sobre os pais das crianças. Ela não obedeceu. Logo no primeiro encontro, garantiu aos sobrinhos que eles não haviam sido abandonados. Contou que os pais deles estavam presos, mas não eram bandidos. E propôs um “segredo”: eles não poderiam contar para o delegado os assuntos que conversavam.
Acostumados a viver com os pais em casas semiclandestinas do PCdoB, Janaína e Edson não tiveram dificuldade em cumprir o trato. Ao mesmo tempo, Criméia pediu ajuda ao advogado Virgílio Enei, que conseguiu entrar na carceragem onde Amelinha era mantida incomunicável e colheu sua assinatura em uma folha em branco. No papel, foi feita uma procuração, nomeando Enei advogado, o que lhe permitiu obter a guarda das crianças para Criméia. “Quando conseguiu o documento, ela não deu nem satisfação. Mandou a gente preparar a mochilinha para sair no dia seguinte”, diz Janaína. Com os sobrinhos e o filho bebê, Criméia foi para a casa de seus pais, em São João de Meriti, na Baixada Fluminense. Lá, começou a contar as histórias dos bichos e do povo do Araguaia.
Emboscada
Naquela altura, Victória, a mãe de Igor, o outro neto de Maurício Grabois, tinha trocado de identidade. Passara a se apresentar como Teresa Freitas. Seu nome verdadeiro constava da primeira lista de estudantes expulsos pelos militares da Universidade do Brasil, hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro. Como consequência, Igor Grabois passou a se chamar Jorge Freitas. O garoto não se incomodou: “Explicaram que não podia mais usar nome estrangeiro no Brasil. Eu aceitei. Virei Jorge”. Ele também não questionava o fato de o pai, Gilberto Olímpio, estar sempre fora, em viagem de trabalho. “A última lembrança que tenho dele foi de um passeio à Praia Grande. Ele tinha uma Rural Willys, não sei se verde e branca ou azul e branca. Tinha muita gente. Ficamos em uma casa que meus avós paternos tinham alugado.” No dia a dia, Igor vivia com a mãe e a avó materna, a advogada Alzira Grabois, que passara a se chamar Maria e a dar aulas particulares de matemática. Com certa frequência, o menino dividia o quarto com um hóspede que acreditava ser seu tio, o líder do PCdoB, João Amazonas: “Convivi muito mais com o João Amazonas do que com o meu pai”.
Em uma estrutura de informações compartimentadas, João Amazonas entrava e saía da área da guerrilha, levando diretrizes e notícias. O pai e o avô de Igor também atuaram como “correio”. Victória, a mãe de Igor, lembra com exatidão das últimas visitas: “Gilberto veio em maio de 1971, quando morávamos em uma casa no bairro do Jabaquara, em São Paulo. Fizemos uma feijoada. Meu pai (Maurício Grabois) veio em dezembro. Passou o Réveillon e voltou para o Araguaia.” Victória não sabia o local exato da área da guerrilha, mas meses depois assustou-se quando o Jornal Nacional, da Rede Globo, anunciou que um “covil de contrabandistas” havia sido desbaratado em Marabá (PA). “Com nome falso, eu trabalhava, pagava aluguel, levava uma vida normal, mas vivia em pânico”, afirma Victória. O estresse aumentou quando João Amazonas chegou de outra viagem e contou que seu irmão, André Grabois, o pai de Joca, havia caído em uma emboscada.
André Grabois foi morto aos 27 anos, em outubro de 1972, durante a segunda ofensiva dos militares no Araguaia. Como a maioria das mulheres e homens do PCdoB na região, ele é considerado desaparecido político. Até hoje as Forças Armadas se recusam a informar o destino de seu corpo, assim como dos restos mortais de outros três guerrilheiros emboscados na mesma ocasião. Aquele foi um ano sangrento no Araguaia. De abril a outubro, oito guerrilheiros morreram em confronto ou emboscada, quatro foram executados depois da captura e sete levados presos para Brasília. Joca, o bebê nascido no hospital militar, cresceu sabendo que perdera o pai na guerrilha: “Minha mãe contou tudo desde sempre, até por uma questão de segurança. Como ela vivia a tensão de que também podia desaparecer, explicava tudo”. Apesar da transparência em família, 40 anos depois, Joca ainda enfrenta muitas barreiras para falar sobre a própria trajetória.
Escala em Karashi
“Meu pai é uma pessoa que não tem rosto. Na minha memória, aparece como aqueles cartazes de silhueta. Minha avó destruiu todas as fotografias dele. Nunca entendi. Só sobrou uma. Nela, meu pai era adolescente. E é estranho imaginar um pai tão novo”, diz Joca. “Sempre falavam muito sobre ele, mas não o descreviam fisicamente. Contavam mais sobre o jeito dele. Diziam que era uma pessoa bem-humorada, que gostava de jogar bola, de nadar. Eu imaginava meu pai muito parecido com o meu primo Igor. Acho que por causa dos óculos.” Joca tinha 19 anos quando viu pela primeira vez um retrato do pai na idade adulta. Foi em fevereiro de 1992, na sequência da abertura dos arquivos do DEOPS, o Departamento Estadual de Ordem Política e Social. Joca estava entre jornalistas, em uma coletiva de imprensa, quando fotografias encontradas no acervo foram expostas sobre grandes mesas. Eram muitas imagens, algumas chocantes, de militantes da resistência à ditadura mortos, com a fisionomia desfigurada pela tortura.
A foto que mostrou a Joca os traços do pai na idade adulta foi tirada para um passaporte. Com o documento, André Grabois viajou em 1967, para fazer um curso de treinamento de guerrilha na China. Em Karashi, no Paquistão, André Grabois e o grupo que o acompanhava tiveram o passaporte retido por algumas horas. Mais tarde, eles deduziram que os documentos foram fotografados pela CIA, o serviço de inteligência americano, pois suas cópias não demoraram a ser remetidas para a polícia política do Brasil. Como providenciara um passaporte a partir de uma identidade fictícia – José Vieira da Silva Junior –, é com esse nome que a fotografia de André Grabois encontra-se catalogada até hoje no acervo do DEOPS. Joca guarda uma cópia da imagem, assim como o porta-retratos com a fotografia do pai adolescente, que a avó mantinha na estante da sala. “Quando ela morreu, pedi o porta-retratos para minha tia Victória”, conta Joca. “Na foto, ele está sem camisa.” Depois da anistia, a mesma imagem foi retocada, para, com uma camiseta, ser impressa em cartazes feitos pelas famílias de desaparecidos políticos.
Joca acompanha cada passo do processo de busca de informações sobre os guerrilheiros do Araguaia. Soube, ao mesmo tempo que a mãe, que o avô Maurício Grabois e o tio Gilberto Olímpio, pai do Igor, tinham sido mortos na manhã do Natal de 1973. Aconteceu durante a terceira ofensiva militar no Araguaia, batizada como Operação Sucuri, em referência à serpente que envolve e esmaga suas presas, antes de devorá-las. Nessa fase, nenhum guerrilheiro foi levado preso para Brasília. A ordem era exterminar e apagar todos os vestígios. Ninguém escapou da sentença. Pelo menos cinco moradores da região, vinculados aos “paulistas”, tiveram o mesmo destino. Quando as tropas chegaram pela terceira vez ao Araguaia, em outubro de 1973, os militares já haviam mapeado a região. Tinham também uma relação com o nome de todos os guerrilheiros e moradores das imediações. O levantamento havia sido feito no decorrer de um ano, por militares descaracterizados que se estabeleceram na área. Entre eles, destacava-se o major Sebastião de Moura, o Curió, que se apresentava como doutor Luchini, engenheiro do Incra, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária. Ao contrário de outros militares infiltrados, Curió continuou na região depois do extermínio, como administrador do garimpo de Serra Pelada. Mais tarde, fundou até uma cidade, Curionópolis, no Pará.
Saco de lona
Igor, o primo de Joca, tinha 13 anos quando soube em detalhes a sua história. “Contei tudo de uma só vez”, lembra Victória. Ela teve poucas alternativas. Logo depois da Lei de Anistia, Igor leu uma reportagem sobre a Guerrilha do Araguaia e questionou a mãe: “Esse Maurício Grabois é meu avô, não é? E a Maria Grabois, que vocês dizem ser minha madrinha, é minha tia-avó.” Ele se referia a uma irmã do ex-deputado, uma médica, que costumavam visitar no Rio de Janeiro. Na verdade, Igor desconfiava havia muito tempo de algum tipo de ligação entre a família e a política. “No armário do meu quarto, ficava escondido um saco de viagem, desses de lona, cheio de livros. Todos os clássicos do comunismo estavam lá. Eu não podia mostrar para ninguém, não podia nem deixar meus amigos entrarem no quarto, mas muito novo comecei a ler essas obras.”
Poucos meses depois de saber a história da família, Igor conheceu Joca, Janaína e Edson: “Eles moravam todos juntos, em uma casa pequena, de um quarto, com um quintal muito grande. A casa era o caos, vivia cheia de gente do partido”. No ano seguinte (1981), Igor se mudou de São Paulo para o Rio de Janeiro. A ideia era abandonar de vez o nome falso, mas a família esbarrou na burocracia. Os documentos escolares de Igor estavam em nome de Jorge Freitas: “Na primeira escola que estudei no Rio, eu era só Jorge. Na segunda, um colégio progressista, o Elieser Steinberg, encontraram uma fórmula diferente. Na chamada, eu era Jorge, mas todos me tratavam por Igor”. Victória só conseguiu regularizar a situação em 1980, depois de procurar o advogado Luiz Eduardo Greenhalgh, em São Paulo. “Ainda tive de esperar umas semanas para sair da clandestinidade, pois Greenhalgh estava dedicando-se ao caso de Lula, que havia sido preso por liderar a greve dos metalúrgicos do ABC. Aliás, o Lula me deve essa”, diz Victória, em tom de brincadeira. Seu sobrinho, Joca, também precisou procurar a Justiça para ter o nome de André Grabois incluído como pai em sua certidão de nascimento.
Ação contra torturador
Joca, Igor, Janaína e Edson continuam amigos, muito próximos uns dos outros. Depois de vender sua empresa de publicidade, Joca agora se dedica aos estudos da matemática. Igor é economista, Janaína, historiadora, e Edson, professor de Filosofia da Universidade Federal de São Paulo. Com altos e baixos, os quatro tentam tocar a vida com leveza. E continuam corajosos. Eles estão entre os autores de dois processos históricos. Junto com Criméia e os pais – Amelinha e César –, Janaína e Edson entraram com uma ação civil contra o coronel reformado do Exército Carlos Alberto Brilhante Ustra, que comandava o Doi-Codi de São Paulo. Em agosto do ano passado, Ustra se tornou o primeiro militar a ser declarado torturador pela Justiça. Joca e Igor, por sua vez, estão entre os autores da ação junto à Corte Interamericana de Direitos Humanos que condenou o Brasil a esclarecer e determinar as responsabilidades penais pela detenção arbitrária, tortura e desaparecimento forçado de guerrilheiros e camponeses do Araguaia.
Deixe um comentário