Parece que o ar está parado e um filme se desenrola à sua frente. A última vez que eu tive essa sensação de estar testemunhando a História foi no dia 11 de setembro de 2001, em Nova York. Andando pelas ruas do West Village, logo depois de as duas torres do World Trade Center terem caído, vi centenas de pessoas correndo, apavoradas, diante do fim do mundo como o conhecíamos.

No dia 4 de novembro de 2008, de novo testemunhei a História. Só que desta vez o filme que passou na minha frente mostrava milhares de pessoas correndo, dançando e chorando de alegria. A América elegeu Barack Hussein Obama, seu primeiro presidente negro.
[nggallery id=15566]

Eu era muito nova na campanha das Diretas Já, mas me contam que a emoção foi semelhante. E acho que 4 de novembro de 2008 será um dia tão marcante como a tarde fatídica em que John F. Kennedy morreu – todo mundo que viveu lembra exatamente o que estava fazendo naquele momento.

Em Chicago, o clima era final da Copa do Mundo misturado com a marcha sobre Washington de Martin Luther King. Eram 250 mil pessoas em júbilo, esperando para ouvir o messias. As filas para entrar na festa da vitória de Barack Obama chegavam a 15 quarteirões – eram jovens e velhos, crianças de colo, negros, brancos latinos e asiáticos. Ninguém reclamou. “Barack é tudo o que nós precisávamos”, disse a estudante Janelle Sims, de 26 anos.

Nas ruas, em vez do radinho de pilha para ouvir os gols, todo mundo estava acompanhando os resultados da eleição em seus iPhones e Blackberrys. Muitos ligavam para avisar amigos: “O Barack ganhou na Pensilvânia! O Barack ganhou em Ohio!” Outros se limitavam a gritar de tempos em tempos: “Sim, nós podemos”, o slogan da campanha do senador.

Os figurinos eram elaborados – bonés Obama que piscam, jaquetas bordadas com o nome do candidato, brincos, óculos e relógios temáticos. Ambulantes vendiam vários moletons que retratavam o senador como um Che Guevara contemporâneo. As camisetas eram criativas: “Obama Jama – precisamos de um presidente que saiba dançar”; “Yes we did it”; “Eu estava lá – Noite da vitória Grant Park 5 de novembro”.

Dentro da área reservada no parque estavam pouco mais de 70 mil sortudos que conseguiram entradas. Outras dezenas de milhares ficaram espalhadas pelo parque e pelas ruas. “Testando som, testando som do próximo presidente dos Estados Unidos”, dizia o técnico no palco. Tudo era motivo de comemoração. “CNN projeta que Obama venceu em New Hampshire; CNN projeta que Obama venceu em Ohio; CNN projeta que Obama venceu na Virgínia”.

Quando finalmente anunciaram – Barack Obama vai ser o próximo presidente dos Estados Unidos – muitos se abraçaram e começaram a chorar. Até alguns jornalistas esqueceram da sua suposta imparcialidade e choraram, comemorando a vitória depois de dois longos anos de campanha.

Depois, veio o hino não oficial da campanha – “Signed, Sealed, Delivered, I’m Yours”, de Stevie Wonder -, e todo mundo começou a dançar. Eram 11 da noite quando Obama subiu ao palco e disse “Hello Chicago”. A gritaria foi ensurdecedora, eram (éramos?) todos adolescentes em um show de rock.

“Se alguém ainda duvida que a América é o lugar onde tudo é possível, o dia de hoje é a resposta”, disse Obama.

Todos acreditaram.

Eu acreditei.


Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.