Entrevistas com Selton Mello e Henrique Goldman

Selton Mello, o Jean Charles

OUÇA:

Brasileiros - Quando você ouviu a história do Jean Charles pela primeira vez?
Selton Mello -
Foi um caso que repercutiu muito no Brasil. Provavelmente, eu devo ter visto em algum telejornal.

Brasileiros - O caso chamou-lhe a atenção?
S.M. -
Sempre chama, mas não foi uma história que marcou profundamente. Foi mais uma das histórias violentas que a gente ouve todos os dias. Como o caso em que arrastaram uma criança no carro… Mataram um brasileiro no metrô em Londres.

Brasileiros - Como foi o contato com o roteiro?
S.M. -
Foi há três anos e meio. O Henrique me procurou dizendo que queria fazer um filme sobre esse caso. Eu lembrava da história e achei interessante, mas queria ler o roteiro pra saber melhor o que ele queria mostrar. Desde o início o que eu mais gostei dessa história foi que, quando o Jean morreu, ninguém sabia quem ele era. Uma pessoa que morreu de uma maneira equivocada, a polícia cometeu um erro, matou um cara inocente, mas quem era Jean Charles? O que ele fazia? Como ele era com os amigos e família? E é isso que o filme se propõe a contar, a vida desse personagem.

Brasileiros - Para você, quem foi Jean Charles?
S.M. -
Um entre muitos que vêm para cá (Londres) com o sonho de juntar dinheiro e voltar com uma grana que não conseguiriam juntar no Brasil. O Jean foi um sonhador.

Brasileiros - Houve muita comparação entre você e o Jean Charles?
S.M. -
Sempre rola. Mas eu criei o meu Jean baseado em coisas que eu ouvi, não fiquei querendo imitá-lo. Eu fiz o meu Jean Charles.

Brasileiros - Como foi sua relação com a família dele durante as filmagens?
S.M. -
Respeitosa. Num certo ponto eles entenderam que eu não iria imitar o Jean. E eu não fiquei azucrinando, indo atrás deles, pedindo mais coisas. Vi algumas fotos e foi isso.

Brasileiros - Qual sua expectativa em relação ao filme?
S.M. -
Quando você fala do Jean Charles de Menezes, imediatamente o que vem em mente é a cena da tragédia. Mas, na verdade, é um filme muito legal de ver, divertido, cheio de sonhos, de histórias engraçadas dos brasileiros em Londres. Tem um açougueiro muito engraçado que faz o personagem de açougueiro. É até um pouco nonsense, mas é a realidade! Acho que vai ser um filme superlegal de ver.

Henrique Goldman, o diretor

OUÇA:

Brasileiros - O que o motivou a fazer o filme?
Henrique Goldman -
Por alguma razão, eu me identifiquei com essa história. Eu sou fascinado por outsiders. Todos os filmes que eu faço acabam, de um modo ou de outro, retratando os estrangeiros, gente estranha em terras estranhas. E essa história é isso, do brasileiro aqui em Londres. Começamos a investigar a vida dele – não no sentido policial -, para saber quem era o Jean Charles. Eu descobri muitas coisas em comum entre nós.

Brasileiros - Como você descreveria o brasileiro Jean Charles?
H. G. -
É uma pessoa bem contraditória, complexa, interessante também.

Brasileiros - O filme culpa a polícia pela morte de Jean Charles?
H. G. -
No fundo, o filme é um libelo contra a polícia. O tema principal não é a polícia, mas a gente espera que a revolta das pessoas contra a polícia seja maior ainda.

Brasileiros - Como foi a aproximação de vocês com a família? Como eles estão colaborando com o filme?
H. G. -
A família do Jean, especialmente os primos, sofreu muito. Claro que os pais também sofreram, mas o filme é sobre os primos que estavam morando aqui com ele. Eles foram tratados muito mal pela imprensa, pela polícia, eles foram usados. No princípio, com razão, eles tinham muitas suspeitas sobre quem iria fazer o filme, o que é totalmente compreensível. Com o tempo a gente se aproximou. Eles todos, de uma maneira ou de outra, colaboraram com o filme.

Brasileiros - Como foi a experiência em trabalhar com não-atores?
H. G. -
Um tesão! Não tem outro jeito de dizer. É que esse filme tem toda uma dualidade. Por um lado é baseado em fatos reais, mas em nosso roteiro nós ficcionalizamos esses fatos. Por um lado a gente tem atores que nunca trabalharam e pessoas que fazem papel de si mesmas, e, por outro, a gente tem Selton Mello e Vanessa Giácomo. Por um lado é um filme brasileiro, por outro, é um filme inglês. Ele é um filme cheio de dois lados.

Brasileiros - É um filme realista?
H. G. -
É realista, sim. É um filme mil por cento fiel a quem Jean Charles era, ao seu mundo e ao seu espírito.

Brasileiros - Qual a maior dificuldade na produção do filme até o momento?
H. G. -
A dificuldade normal, que é levantar dinheiro para pagar o filme. Nós estamos com esse projeto há pouco mais de dois anos, o que em termos cinematográficos nem é muito tempo.

 


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