Ficou para domingo que vem a festa tricolor

Pois é, caros amigos do Balaio, com tantos secadores, hoje não deu. Empatamos com o Fluminense, jogando muito mal, coisa que nenhum de nós esperava, e o Gremio ganhou do Ipatinga.

Assim, ainda com três pontos de vantagem, só adiamos para domingo que vem, contra o Goiás, em Brasília, a festa do nosso hexacampeonato e do terceiro título seguido do campeonato brasileiro, que ninguém tem, nem vai tirar de nós. É só uma questão de tempo.

Tinha tanta certeza de que a festa seria hoje que escrevi um texto do fundo da minha alma e do coração antes do jogo começar. Estava só esperando o jogo acabar para publicá-lo. Mas não é o resultado de um jogo que vai mudar o que penso e sinto. Domingo que vem, só vai mudar a data deste post. Mas o amor à camisa continua o mesmo.

Para quem não sabe, torcedores de outros times, a palavra hexa, que tem 3.120.000 citações no Google, vem do grego hex , designativo de seis: seis vezes campeão brasileiro.

Endeusaram tanto o planejamento e o profissionalismo do São Paulo, que se esqueceram de um detalhe fundamental: a trajetória deste time, desde 1935, é uma longa história de amor à camisa tricolor, de garra e de superação, mesmo quando o time não era lá grande coisa, a exemplo do que aconteceu este ano.

Já tivemos times melhores e piores, mas esta paixão sobreviveu a longas temporadas sem títulos, como a dos anos 60 a 70 do século passado, quando o clube investia tudo o que tinha e o que não tinha para terminar a construção do Morumbi.

Eu estava lá, tinha 12 anos, quando o nosso estádio, ainda só com meio anel das arquibancadas, foi inaugurado em 1960, poucos meses após a morte de meu pai, o engenheiro Nikolaus Kotscho, que todos chamavam de Nik.

Nascido na antiga Bessarábia, de onde veio também o grande jornalista Samuel Wainer, emigrou com minha mãe para o Brasil no pós-guerra, e não sei explicar como e por quê ele se tornou e me fez são-paulino.

Só sei que era fanático pelo time. Desde que me conheço por gente, me levava a todos os jogos. Tinha nove anos quando comemorei com ele meu primeiro título de campeão paulista, em 1957, no inesquecível 3 a 1 que metemos no Corínthians, naquela memorável “tarde das garrafadas”, como ficou conhecido o conflito generalizado entre as duas torcidas.

No meio da confusão, perdi-me de meu pai, que gostava de uma boa briga. Não lembro como o encontrei depois, mas nunca vou esquecer daquele time, que até hoje tenho na memória: Poy; De Sordi e Mauro; Sarará (jogou no lugar de Dino Sani, contundido), Vitor e Riberto; Maurinho, Amauri, Gino, Zizinho e Canhoteiro.

O goleiro argentino José Poy, também já falecido, era amigo de meu pai, que não era nada no São Paulo, mas gostava de dar palpite em tudo, no time e nas obras do estádio, para onde me levava todo sábado de manhã.

Nik era o que mais tarde viria a ser chamado de “corneteiro”. O São Paulo estava numa pindaíba tão grande que não tinha nem ônibus para levar os jogadores do acanhado campo de treinamento do Morumbi para a concentração, no Hotel São Paulo, no Vale do Anhangabaú.

O vestiário era um galpão de madeira e os jogadores eram levados de carona para o hotel por conselheiros e “corneteiros” como meu pai, que tinha um Chevrolet preto e era metido a descobrir novos talentos na várzea. Nenhum deu certo

Pena que meu pai morreu sem ver a torcida lotando o Morumbi para festejar tantos títulos, de 1970 para cá, que até já perdi a conta.

Para mim, os melhores exemplos deste amor à camisa do São Paulo vem do meu pai e de José Poy, passando pelo grande Roberto Dias, único ídolo do tempo das vacas magras, e pelo mestre Telê Santana dos dois primeiros títulos mundiais, até chegar a Muricy Ramalho e Rogério Ceni, os maiores símbolos deste time que está prestes a conquistar três vezes seguidas o Campeonato Nacional, o primeiro tri na história do tricolor.

Meu pai precisava ver como a Bebel, minha neta do meio, e única são-paulina dos três, aos dois anos, segue o bisavô e já pede para vestir a camisa do nosso time, canta o hino do São Paulo e dança para comemorar as vitórias. Agora, a Bebel, como todos nós são-pauilinos, vai ter que esperar atéo próximo domingo. Vai ser mais sofrido, mas vai ser bom.


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