Dicas para o verão no Litoral Norte

Neste sábado nublado e sem assunto em São Paulo, caiu do céu, como diria o Magri, esta contribuição do amigo repórter Ivan Quadros, diretamente de São Sebastião.

Em seu peculiar estilo literário musical, ele vem falar de coisa boa: histórias e dicas do Litoral Norte de São Paulo, bem-vindas nestes dias que antecedem o verão, e muita gente só está pensando em pegar uma boa praia.

Enquanto eu descanso um pouco, que ninguém é de ferro, e vou ali no Santo Grão tomar um café no meu bar da esquina, fiquem com o Ivan Quadros:

São ancestrais os caminhos que levam ao conhecimento do Litoral Norte paulista.

Por detrás das pedras, onde se estatelam as ondas, no vai e vem do mar, existe um ecoar de lendas e registros históricos que tornam a região uma das mais importantes no cenário antropológico brasileiro.

Há rumores de que, mesmo antes de Cristo, aqui viveram tribos nômades que deixaram rastros nas areias das praias e sinais de vida no frescor da Mata Atlântica. São os chamados “primeiros brasileiros”.

Pelos séculos subseqüentes, o caiçara ganhou características físicas peculiares graças à miscigenação com europeus (piratas), africanos (escravos), asiáticos (japoneses) e com o índio.

Ficou também o nobre espírito de superação para manter a raça e suas tradições, diante das adversidades oriundas principalmente do interesse econômico especulativo.

A história do Litoral Norte paulista só é longínqua porque, a exemplo do Antigo Testamento, ela foi repassada de geração em geração pela oralidade, através dos causos que até hoje ouvimos.

Temos aqui vários contadores, como dona Neide Palumbo, que lecionou e morou numa aldeia de pescadores em Boiçucanga, na costa sul de São Sebastião, uma de nossas quatro cidades.

Ao ouvir dona Neide Palumbo sapecar um causo notamos que o caiçara, como ela, troca o V pelo B. Aqui, vovó é bobó. Já “Arrelá” é uma expressão de espanto, às vezes de contrariedade: “Arrelá! O que bós quereis?”

Desde que cheguei aqui para morar, há quase oito anos, descobri, além de dona Neide, outros contadores, poetas, pescadores, artistas plásticos, músicos, colegas jornalistas, que compõem a cultura caiçara, aos quais eu sempre presto reverência.

Tendo então o caiçara como personagem principal, o Litoral Norte de São Paulo fica com certeza mais atraente. É uma opção de lazer que reúne informações dos nossos antepassados e ao mesmo tempo o usufruto de um dos mais encantadores recantos naturais.

Como a Pedra da Cruz, para citar um exemplo próximo de mim, a alguns metros de minha casa, na Praia Deserta.

Trata-se de um belo lugar a beira-mar de onde se contempla o Canal de Toc-Toc (também conhecido como Canal de São Sebastião).

Mas, na medida do possível, e tal qual um turista, aos poucos eu mesmo vou conhecendo também outros lugares interessantes, fazendo questão de realizar algumas excursões por mais breves que sejam.

E cá entre nós, sem querer despertar nenhuma inveja, trata-se de um raro privilégio fazer turismo na própria cidade onde se vive e trabalha.

Eu já conhecia o Litoral Norte paulista desde as férias do ginásio. Mas somente depois de estar morando aqui interessei-me por passeios muito especiais que convido o amigo leitor a fazer.

Como uma visita à comunidade do Bonete, em Ilhabela, até onde se chega somente de barco ou a pé; a praia de pescadores da Almada, em Ubatuba, cujo acesso de carro só é possível até as proximidades devido aos limites naturais; o Sítio Arqueológico de São Sebastião, através de uma trilha íngreme onde se encontram as ruínas e uma fazenda utilizada para o tráfico de escravos.

A fim de que tudo isso seja preservado e sirva mais e mais de alavanca para a economia da região, as ONGs se mobilizam para tratar das questões ambientais.

A Realnorte, que reúne as ONGs, fez parceria com a Universidade de Santos. Com o apoio da Petrobras, acabam de lançar o “Diálogo para a Sustentabilidade do Litoral Norte Paulista”.

Trata-se de uma série de palestras e oficinas com programação prevista para durar todo o próximo ano e que terá como finalidade debater idéias que visem a preservação do meio ambiente, apesar dos fortes investimentos já em andamento aqui, como a Unidade de Gás da Petrobras em Caraguatatuba, a ampliação do porto de São Sebastião e a ampliação da rodovia dos Tamoios.

É de fato uma boa notícia para uma região tão atraente, que busca a utopia do desenvolvimento sustentável, ainda mais depois do dilúvio que até geograficamente modificou a configuração de cidades catarinenses, que por sinal têm características semelhantes às quatro cidades de nossa região: mar, montanhas, encostas ocupadas, e vocação econômica voltada para o turismo.

Boa viagem e seja bem-vindo.

Com abraços do Ivan Quadros


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