A esta altura, todo mundo já viu o tape onde o presidente George Bush, em Bagdá, é alvejado pelos sapatos de um repórter. Não acho que jornalistas devam atirar objetos sólidos em qualquer pessoa. Os petardos, no caso, devem vir na forma de palavras. Muntazar al-Zaidi, funcionário da rede Al-Baghdadia, errou. Tanto no gesto, como na pontaria. Mas que a cena é engraçada, isso ninguém nega.
Bush até que poderia ter se saído muito pior. Imagine se o episódio tivesse ocorrido na Holanda, onde os tamancos de madeira sólida são vendidos em qualquer mercado. E o ataque adquiriria caráter definitivamente catastrófico se envolvesse alguém das redações do American Spector, Fox News, ou New Republic. Os projéteis seriam ferraduras. Mas essa parte da imprensa sempre esteve solidamente na fileira de apoiadores do presidente americano.
Pouco antes da invasão do Iraque, a Casa Branca dizia que as tropas americanas seriam recebidas com flores e doces. Bush deve estar achando que o incidente de agora prova que sua política aumentou o poder aquisitivo dos nativos. Afinal, rosas e haleu custam tostões nos bazares iraquianos. Calçados são caríssimos. O atacante preso eleva ao paroxismo, com seu ato, a máxima jornalística de que repórter tem de gastar sola de sapato. Este gastou o mocassim inteiro.
No entanto, ficou patente a incompetência do alvejador. Num país onde granadas e pedras são lançadas com pontaria mortal, esse iraquiano sequer conseguiu atingir um alvo a meros cinco metros de distância. Bush, por seu lado, deu mostras de que é um craque natural para os jogos de “queimada”. Vejam no tape como se esquiva. Usou até o primeiro-ministro Nouri al-Maliki como escudo. Este, na função de goleiro, foi um desastre: não conseguiu espalmar nenhum dos petardos. E o serviço secreto americano, então, não merece sequer comentários. Atentem para o replay, caros telespectadores, e vejam quanto tempo demorou a aparecer um leão-de-chácara para tirar o presidente da linha de tiro. Com zagueiro como esse, não dá para ganhar jogo.
De todo modo, o gesto foi inócuo: não vale a pena jogar sapato em pato manco.
* A expressão “pato manco” é uma tradução ao pé da letra de lame duck, em inglês. A denominação é usada para definir um político em fim de mandato, que já sabe o sucessor e que, portanto, não é mais visto como o verdadeiro mandatário do país. É o caso de George W. Bush que, ao fim de seu segundo mandato, vê Barack Obama chegando à Casa Branca.
Veja reportagem da rede CNN sobre o episódio:
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