Malas do Ano: leitores elegem Gilmar e Luana

“Mala é aquele que incomoda, que chateia, que perturba” (Artur Xexéo, o jornalista carioca criador do concurso Malas do Ano em sua coluna do jornal O Globo).

Ufa! Terminei agora de fazer a apuração, quer dizer, a leitura dos mais de 1.500 votos/comentários enviados pelos eleitores para diferentes posts do blog, desde a última quarta-feira, quando o Balaio lançou esta enquete para eleger os Malas do Ano de 2008.

Não houve surpresas. De cada três votos, pelo menos dois foram para Gilmar Mendes, presidente do Supremo Tribunal Federal, que ganhou disparado a disputa com Luana Piovani, a segunda colocada na votação dos leitores.

No começo de 2008, nada poderia parecer mais improvável do que a eleição destes dois personagens da cena brasileira, onipresentes na mídia durante todo o ano, tão diferentes em suas trajetórias de vida.

O jurista Gilmar Ferreira Mendes, 52 anos, é de Diamantino (MT) e ocupou o cargo de Advogado-Geral da União no governo FHC antes de ser nomeado ministro do Supremo Tribunal Federal.

Celebrizou-se por conceder dois habeas corpus ao banqueiro Daniel Dantas em menos de 48 horas e ter opinião formada sobre todos os assuntos (só não se manifestou sobre a contratação de Ronaldo Gorducho pelo Corínthians, talvez porque não tenha sido perguntado).

O próprio Dantas e até o delegado Protógenes Queiroz, protagonistas da Operação Satiagraha, também tiveram eleitores em bom número.

A modelo e atriz Luana Elídia Afonso Piovani, 32 anos, é de Jaboticabal (SP) e quase não saiu da mídia este ano, metendo-se numa confusão atrás da outra, até romper publicamente com seu namorado Dado Dolabella, outro bem votado, numa briga de boate em que sobrou bolacha até para a camareira da atriz.

Ficaram atrás dela na categoria celebridades Ana Maria Braga, as mulheres-fruta (Melão, Melancia, Moranguinho, Jaca), Luciana Gimenez, Gugu, Eliana, Carolina Dieckman, Angélica, Sonia Abrão, Xuxa, Clodovil, personagens de novelas, Hebe e a menina Maisa (SBT), Ronaldo Esper, Amaury Jr., Suzana Vieira e seu falecido ex-marido, e o casal Nardoni.

Também bem votados chegaram dois velhos amigos meus, habituais frequentadores destas enquetes, mostrando uma implicância de parte da galera do mesmo tamanho do sucesso que eles fazem há mais de 20 anos: são eles, como vocês já imaginam, o narrador esportivo Galvão Bueno e o apresentador Fausto Silva, ambos da TV Globo, que ficaram embolados.

O leitor Marco, das 15h26 do dia 22, justificou seu voto assim: “Sem dúvida, continua sendo o Fausto Silva, aquele que nunca vai corrigir seu defeito de falar mais do que o homem da cobra”.

Na política, o mais sufragado foi outro amigo meu, o presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, que começou com poucos votos, mas na reta final recebeu um balaio de votos, certamente dos 7% que desaprovam seu governo nas pesquisas (na internet, como sabemos, esta faixa é bem maior e mais organizada do que entre os sem tela). Sua candidata à sucessão, Dilma Roussef, foi pouco votada.

Tucanos votaram em Lula, Marta Suplicy e no PT, e os petistas em José Serra, Alckmin e Kassab e no PSDB/DEM, como era de se esperar, reproduzindo o embate que tiveram o tempo todo aqui no Balaio, qualquer que fosse o assunto.

Na oposição, os mais votados foram o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o ex-blogueiro Cesar Maia, o prefeito Gilberto Kassab, Soninha (ex-candidata a prefeita de São Paulo pelo PPS e futura subprefeita de Cidade Tiradentes), os senadores Mão Santa e Heráclito Fortes (os dois do Piauí, como lamentaram alguns eleitores de lá), Demóstenes Torres, Arthur Virgílio, Renan Calheiros, José Agripino e Garibaldi Alves, aquele dos 7 mil novos vereadores.

Meus amigos governadores Sérgio Cabral, do Rio, Aécio Neves, de Minas, Roberto Requião, do Paraná, e Cássio da Cunha Lima, da Paraíba, tiveram alguns votos também. O problema é que tenho muitos amigos, eu sei. Fazer o quê? Como diziam os antigos, de urna, cabeça de juiz e bunda de nenê nunca se sabe o que vai sair

O quase ex-presidente americano George Bush e o quase eterno presidente venezuelano Hugo Chavez foram os mais votados entre os líderes de outros países, tendo sido lembrados também Evo Morales, da Bolívia, e Rafael Correa, do Equador, que estão querendo passar uma rasteira no Brasil.

Além de votar em pessoas físicas, os eleitores/leitores também indicaram pessoas jurídicas, as Malas do Ano coletivas, entidades ou instituições que foram para o guarda volumes de 2008.

Receberam declarações de votos, algumas indignadas, a programação das redes de televisão em geral; igrejas eletrônicas dos pastores evangélicos, com Edir Macedo à frente; o pessoal do funk; Imprensa, pelo conjunto da obra; Poder Judiciário, idem; Senado Federal, idem; PT e PSDB/DEM; a “elite arcaica paulistana” e o natimorto movimento “Cansei”, com sua porta-bandeira Ivete Sangalo.

Sobrou para mim também. Não fui um campeão de votos, mas mereci a lembrança de vários leitores, como o que assina Trivelados, às 11h12 do dia 22, que escreveu:

“Ricardo, eu acho que você é o Mala do Ano, porque uma pessoa que consegue juntar tanto chato, falando de outros chatos, tem que ser muito chato, com todo o respeito”.

O voto mais original e, com toda certeza, sincero, veio do leitor Giu, às 13h03 de segunda-feira. Em vez de eleger uma celebridade, ele aproveitou para se vingar de um desafeto:

“O mala do ano foi o ex da minha paixão!!! O cara não se toca!!! Separou separou Orra, meu Cai na real e vai ser feliz pras outras bandas rsss”. Já o leitor Luciano Lopes, das 17h01 do mesmo dia, foi direto ao assunto:

“O mala do ano é meu sogro”.

Leitores/eleitores alternaram bom humor com indignação em seus votos. Antonio da Costa, por exemplo, escreveu logo no primeiro dia da enquete, às 22h48:

“Chamar ministro do STF de mala pode dar cadeia? E, se der, há chance de conseguir um habeas corpus? Na dúvida, silêncio”.

Passando para o esporte, Vanderley Luxemburgo, sempre ele, disparou na frente no futebol e Rubinho Barrichello entre as outras modalidades. Mas também foram lembrados os hexacampeões Muricy Ramalho e Rogério Ceni (certamente pelos torcedores de outros times), o garoto propaganda Ronaldo Gorducho, o rebaixado Renato Gaúcho, os perdedores Márcio Braga (Flamengo) e Eurico Miranda/Roberto Dinamite (Vasco), o técnico Dunga e a sua seleção, o ex-jogador e comentarista Neto e o presidente da Federação Paulista de Futebol, Marco Polo Del Nero, o da lambança do juiz na final do Campeonato Brasileiro.

Outros amigos meus, além de Galvão e Faustão, como não poderia deixar de ser, também foram bem votados na área de jornalistas/colunistas/comentaristas/apresentadores.

Entre outros, foram sufragados dois desafetos juramentados, Milton Neves e Juca Kfouri, nomes antigos como Alexandre Garcia, Carlos Nascimento, Pedro Bial, Datena, Miriam Leitão, Arnaldo Jabor e William Waack. Foram também bem votados aqueles dois rapazes da Veja, o açougueiro dos palcos e o antagonista avulso numa categoria que está mais para entretenimento do que jornalismo.

Desta vez, William Bonner, a voz do Jornal Nacional, teve mais votos do que o veterano Boris Casoy, agora nas madrugadas da Bandeirantes, o que só prova uma coisa: quem tem mais audiência tem também mais chances no concurso de Mala do Ano, embora, claro, isto não valha para todos os casos.

Ao justificar seu voto, o leitor Lúcio, das 15h32 do dia 22, escreveu sobre Bonner: “Êta sujeito metido a dizer aos brasileiros o que devem pensar ou deixar de pensar”.

A respeito do vencedor absoluto da enquete de 2008, o ombudsman da Folha, Carlos EduardoLins da Silva, escreveu em sua coluna no último domingo uma crítica ao jornal sob a rubrica “onde foi mal”, que pode explicar o voto dos leitores/eleitores:

“É excessiva a presença do presidente do STF no jornal”.

Um desses leitores, Altair Oliveira da Silva, das 15h26, também de segunda-feira, escreveu no seu voto:

“Ele é muito esperto, só se esqueceu que estava numa vitrine”.

Tudo que é demais enjoa, já dizia minha vó alemã, frau Tünes. Em 2009, tem mais.

Em tempo: se cometi algum engano, deixando de citar outros nomes votados, peço desculpas, mas é porque ainda não chegaram os supercomputadores do DataBalaio e tive que fazer este balanço a mão mesmo.

Claro que não se trata de uma pesquisa científica, com metodologia e tudo, como as do Ibope e Datafolha, mas a amostragem da enquete acima é significativa pelo número de leitores/eleitores que votaram, próximo ao universo normalmente ouvido em levantamentos nacionais pelos grandes institutos. Desconfio que os resultados da enquete do Xexéo não serão muito diferentes.

Melhor do que tudo, é recomendar a todos que não deixem de ler os comentários, com as respectivas declarações de voto, enviadas pelos leitores do Balaio para diferentes posts durante os últimos cinco dias. Temos ali uma boa amostra do que pensa o brasileiro nestes últimos dias de 2008.


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