Aos 88 anos, Tinoco precisa de trabalho

Que Obama, que política, que futebol, que nada!

Vamos mudar o disco do Balaio. Sim, o assunto hoje é música e o drama vivido no momento por um dos maiores artistas da história da arte e da cultura popular brasileiras.

Depois da bela festa de ontem em Washington, no Balaio e no mundo todo, vamos voltar à vida real para falar do meu amigo Tinoco, aquele da célebre dupla sertaneja formada com seu irmão Tonico, que conquistou o Brasil inteiro.

Aos 88 anos, com 73 de carreira, numa idade em que os grandes artistas só querem saber de sombra, água fresca e um bom chinelo, curtindo a justa aposentadoria, ele está no maior sufoco em busca de trabalho para pagar suas contas.

Seu único filho, José Carlos, que acumula as funções de motorista, empresário e operador de som, me ligou esta semana para contar que resolveram passar uma rifa e vão sortear o carro deles.

Em agosto do ano passado, mesmo com sua mulher, dona Nadir, com quem está casado faz 56 anos, internada no hospital, recém-operada de câncer no pâncreas, reencontrei-o num sábado ensaiando para um show, na cidade de Piracicaba, no interior paulista.

Passamos o dia todo conversando, entre um telefonema e outro para saber notícias de dona Nadir. Pela milésima vez, Tinoco, com a maior paciência do mundo, relembrou passagens da sua história de sucesso, desde a primeira viagem com Tonico a São Paulo, em 1942, para cantar no programa do Capitão Furtado, na Rádio Difusora.

“Tinoco sem Tonico – sozinho na estrada e nos palcos canta para viver, aos 88 anos”, foi o título da reportagem que escrevi para a “Brasileiros” de setembro – até hoje, a que teve mais acessos quando foi publicada no site da revista no iG.

Naquele dia, a situação do cidadão José Perez, mais conhecido por Tinoco, já era bem delicada. Com a mulher no hospital, ele vivia dos seguintes rendimentos:

* Aposentadoria de R$ 1 mil por mês do INSS.

* Cerca de R$ 2 mil de direitos autorais, pagos a cada três meses, pelas suas mais de 1.200 composições em parceria com Tonico, gravadas pela dupla e por outros cantores, em milhões de discos (nem ele mesmo sabe quantos foram vendidos).

* Um cachê de R$ 2.500 brutos por show para se apresentar nos sorteios semanais da Loteria Estadual Paulista (despesas de viagem por conta dele).

* Um ou outro show em festas de casamento ou batizado, casas de fazenda ou eventos, onde não tinha cachê fixo, ganhava o que pagavam.

Agora, a situação piorou. Com a venda da Nossa Caixa para o Banco do Brasil, a Loteria Paulista deve acabar e seu contrato também, conforme me relatou José Carlos.

Quando a reportagem saiu na revista, Álvaro Loas, um dos donos do Bar Brahma, onde Cauby Peixoto canta, no centro de São Paulo, ligou-me para pedir os contatos de Tinoco. Queria convidá-lo para se apresentar em sua casa.

Até escrevi sobre isso no Balaio, feliz por ter aberto as portas para o amigo. Mas ele nunca ligou para Tinoco e agora não retorna mais as ligações que lhe faço para saber o que aconteceu.

Falei da difícil situação vivida por Tinoco na época aos meus amigos do governo federal, mas até agora também nada consegui.

Por isso, sem outra alternativa, volto ao assunto aqui no Balaio para ver se algum empresário de artistas, banco que promove circuitos culturais, empresas estatais que investem em música, apresentador ou diretor de TV ou qualquer alma boa desta terra possa ajudar Tinoco a fazer o que mais gosta: subir num palco para cantar junto com a platéia clássicos como “Chico Mineiro” e “João de Barro”.

Que fique bem claro: Tinoco não está pedindo benemerência, mas apenas o direito de continuar trabalhando naquilo que sabe fazer tão bem e com tanta alegria, desde o tempo em que o Brasil era governado por Getúlio Vargas e televisão não existia.

Para quem não ainda não conhece ou tem dúvidas sobre a riqueza desta bela história de um legítimo artista popular brasileiro – dos palcos, do rádio e da televisão – peço para linkar na reportagem que escrevi sobre ele na revista “Brasileiros”.

Leia a matéria sobre Tinoco aqui!


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