A valente luta de José Alencar pela vida

Um dos médicos que entraram hoje de manhã na UTI do Hospital Sírio-Libanes, onde o vice-presidente José Alencar se recupera faz três dias de uma cirurgia de quase 18 horas no abdome, para a retirada de tumores cancerígenos, sorriu quando leu os números dos equipamentos que avaliam o estado do paciente.”Quem entrasse aqui agora e não soubesse da tua história, não iria acreditar no que estou vendo”Todos os sinais vitais do paciente estão estabilizados, a pressão é de 13 por 8 (excelente para seus 77 anos), ele está consciente e respira normalmente, sem aparelhos.A história de José Alencar na batalha contra o câncer – num dos rins e na próstata, que foram retirados há mais tempo, e as sucessivas cirurgias no abdome -, que já dura uns dez anos, resume a valente luta de um homem pela vida, contrariando todas as estatísticas e dogmas da medicina.Estive com ele por algumas horas na manhã de sábado, quando José Alencar se preparava para a cirurgia do dia seguinte – um ritual que já se tornou rotina, sem que em nenhum momento ele se queixe da vida.Até demos algumas boas risadas e combinamos de comer uma feijoada na Lana (restaurante da Vila Madalena), “assim que eu conseguir me livrar do hospital”.

No quarto, apenas sua mulher, dona Mariza, uma filha, um neto, uma neta e o marido, e seu fiel secretário Adriano Silva, assessor para todos os assuntos. Nunca encontrei um sem o outro por perto.Como disse o médico hoje de manhã, quem visse sua tranquilidade no sábado, apesar de todos os riscos que corria, detalhadamente descrita pelos vários médicos que o assistem, não poderia imaginar que dali a algumas horas ele se submeteria à mais longa e complexa das mais de dez cirurgias que já fez (cada jornal publica um número diferente e, a esta altura, nem ele deve saber exatamente quantas foram).Mais do que a competência dos melhores médicos do país e dos mais sofisticados equipamentos colocados à sua disposição, o que dava força e paz à família Alencar naquele momento era o bom astral do paciente e sua inabalável fé de que tudo daria certo, mais uma vez.

Ele era capaz de descrever em detalhes cada procedimento que os médicos fariam durante a cirurgia, como se estivesse falando de outra pessoa, não dele mesmo. Parecia até um médico falando.

Mas não falava só dele. Queria saber do trabalho dos netos, perguntava de outros parentes que estavam para chegar, comentava as últimas notícias e lembrava histórias da política mineira de antigamente, seu assunto predileto. Como bom mineiro, Alencar é um contador de causos, geralmente engraçados.É curioso isso, por que ele entrou tarde na política, quando já era um dos maiores empresários do país, presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais, dono da Coteminas, um império textil que começou com uma lojinha no interior mineiro chamada “A Queimadeira” e já chegou à China.Lula já tinha ligado, conversaram bastante sobre a cirurgia e a vida, e o presidente prometeu visitá-lo após a cirurgia (esteve no hospital na terça-feira e na saída chamou o vice de “fortaleza”).

Os dois se conheceram em Belo Horizonte, meados de 2001, quando José Alencar recebeu uma homenagem dos empresários mineiros – e Lula, em busca de um vice, já pensava nas eleições do ano seguinte, em que finalmente chegou ao poder central depois de três derrotas.Em pouco tempo, durante as muitas e longas viagens na campanha presidencial de 2002, os dois se tornariam velhos amigos e confidentes, cada um contando mais vantagens do que o outro ao falar de suas trajetórias de vida tão diferentes e, ao mesmo tempo, tão semelhantes, na origem e no destino – um no ramo empresarial, outro na vida sindical, e ambos na política.Para regar a conversa e selar a amizade, nunca faltava no final da jornada um gole (Zé Alencar chama de “golo”) de Maria da Cruz, a fantástica cachaça que ele mesmo fabrica numa das suas fazendas em Minas.

O resto é história conhecida. Quando os médicos liberarem visitas, vou lá de novo para a gente continuar a conversa. José Alencar é mesmo um paciente diferente: é ele quem passa sua força a quem o visita, e não o contrário, como normalmente acontece. Quando o visito, sempre saio do hospital mais animado com a vida.


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