Como parte das atividades do 18o Festival Sesc_Videobrasil, foi lançado nesta quinta-feira, dia 5, o caderno Geografias em Movimento, um projeto híbrido entre livro de artista e publicação de ensaios, editado pela artista e pesquisadora Marie Ange Bordas. Para o lançamento, o festival promoveu no Sesc Pompeia uma conversa com a editora e dois dos colaboradores do caderno, os brasileiros Rogério Haesbaert e Ana Paula do Val.
Com contribuições ainda dos africanos Achille Mbembe e Willian Kentridge, da cubana Maria Magdalena Campos-Pons e do suíco-camaronês Simon Njami, o caderno assume o que pode-se chamar de uma perspectiva do sul geopolítico (dos países ditos periféricos) e discute questões sobre pertencimento, desenraizamento e identidade. De modo geral, investiga também a capacidade humana de redesenhar mapas próprios.
“A Europa não é mais o centro do mundo”, disse Marie no início de sua fala. Nascida no Rio Grande do Sul, ela desenvolveu durante a última década o projeto Deslocamentos, pautado na ideia de um “estar no mundo em movimento”. Marie viajou por campos de desabrigados e refugiados em cidades da África e da Europa, em “um século que viu um aumento incrível no número de pessoas deslocadas no mundo”.
Desse modo, a artista viu no convite do Sesc para a realização do caderno a oportunidade de concluir um projeto, encerrar um período de trabalho. A escolha dos colaboradores, segundo ela, esteve muito mais relacionada à sua experiência subjetiva própria do que à uma linha teórica coerente.
Com as ideias de Mbembe, filósofo e cientista político que colabora com texto inédito, Marie diz ter se identificado em uma série de questões sobre o olhar para a alteridade humana. “Como ele diz, o pensamento europeu abordou a questão da identidade não tanto em termos de pertencimento mútuo, mas da ideia de alteridade. Ou seja, a partir não da semelhança, mas da diferença (…)A ideia de raça é uma construção impositiva que até os pós coloniais continuaram e que ele quer quebrar”.
A arquiteta Ana Paula do Val, por sua vez, discorreu sobre seu texto Cartografias Afetivas, no qual questiona o papel oficial de mapas e cartografias e propõe novos modos de pensar a territorialidade. Um mapa, uma cartografia, são sempre feitos por alguém, e esse alguém tem sempre intenções, disse ela. Desse modo, a melhor cartografia que uma pessoa pode fazer é aquela que considera seus afetos, sua relação verdadeira com os espaços.
Último a falar, o geógrafo Haesbaert leu um texto que produziu para o debate, mistura de ensaio e poesia, baseado em fotos feitas pelo mundo. Em um dos trechos, ao falar sobre os deslocamentos e as “geografias em movimento”, disse: “Na fronteira, que é também um front, os territórios não deveriam se separar, mas se mesclar, se sobrepor. (…) O grande poeta Manoel de Barros já dizia que é preciso transver o mundo. Podemos acrescentar que é preciso transterritorializar o mundo, inverter seus polos, colocar o sul no norte, fazer das andanças pelas diferenças do mundo a nossa sempre múltipla jornada”.
Deixe um comentário