No hospício dos “loucos por futebol”

Gravar um programa de esportes e humor às oito da manhã parece coisa de doido – e é. Nesta quarta-feira de muita chuva em São Paulo, acordei cedo, cheguei no horário marcado aos estúdios da ESPN Brasil, passei pela maquiagem e entrei logo no hospício do programa “Loucos por futebol”, comandado pelo Marcelo Duarte, nosso colega do iG.

Os três loucos fixos do programa – além de Duarte, os jovens e competentes jornalistas esportivos Paulo Vinícius Coelho e Celso Unzelte – já estavam a mil por hora discutindo jogos e lances de dez, vinte, trinta anos atrás, como se tivessem acontecido ontem à noite.

Entrei de artista convidado porque dia 16, segunda-feira, é o “Dia do Repórter” (nem me sabia disso) e eles queriam me prestar uma homenagem, certamente pelo tempo de serviço. O programa vai ao ar dia 14, sábado, às 22 horas, e será reprisado na segunda, 16, às 20 horas.

Já fui um deles uns 40 anos atrás, quando Clóvis Rossi e eu ficamos um tempão exilados na Editoria de Esportes do Estadão, sob o comando de Ludembergue Góes, por sermos considerados muito subversivos para a época, o que era evidente exagero.

Foi um tempo bom para ser jornalista esportivo: ganhamos o tricampeonato mundial de futebol no México, Thomas Koch era o nosso Pelé do tênis e Emerson Fittipaldi estava começando na Fórmula-2.

Cheguei a cobrir duas Copas do Mundo – em 1974, na Alemanha, e em 1986, no México, e perdemos as duas -, mas minha experiência nesse mundo dos “loucos por futebol” acabou por aí. Virei apenas um torcedor de jogo na TV.

Num cenário que lembra o São Cristóvão, um bar temático de futebol da Vila Madalena, os três se divertem, e ainda ganham no final do mês, contando histórias de times e torcidas de tudo quanto é canto do Brasil, em que mostram uma memória e um conhecimento de dar inveja em qualquer veterano.

O programa parece mesmo um papo de boteco em que se fala de tudo:

* De uma foto tirada em 1979, com metade do time do Corinthians vestindo camisas do Palmeiras numa pelada disputada por jogadores dos dois clubes em um sítio. Quem perdesse tinha que botar a camisa do adversário.

* Do técnico Cuca, agora no Flamengo, quando ainda era jogador do Grêmio que em 1988 conquistou a Copa do Brasil. Ao falar dos 20 anos de disputa deste campeonato no ano passado, lembraram de sacanagem que o meu São Paulo ainda não conquistou este título. Respondi na lata que também nunca fomos campeões da segunda divisão.

* Dos muitos times espalhados pelo país que levam o mesmo nome. O que tem mais clones é o Ameriquinha do Rio, que tem nove clones, seguido do Corinthians, Flamengo, Botafogo, Vasco, Fluminense, Palmeiras e São Paulo (tem um com este nome no Amapá e outro no Rio Grande do Sul).

Aproveitei para mostrar a capa do próximo número da revista Brasileiros, que vai para as bancas na segunda-feira, com uma fotografia de Muricy Ramalho de capacete de operário, clicado por J. R. Duran, e o título “um trabalhador dos gramados”.

Eles não acreditaram muito, mas demos boas risadas durante os 90 minutos de entrevista em que Muricy mostrou muito bom humor ao contar sua vida de jogador e técnico, apesar da derrota na véspera para o Santo André, quebrando uma longa série invicta do São Paulo.

No final, me deram de presente uma garrafa da boa cerveja Colorado, de Ribeirão Preto, e ainda encontrei meu irmão Ronaldo, mais conhecido por Alemão, que há dez anos faz o programa “Histórias do Esporte” na ESPN, ao lado de Roberto Salim.

Valeu a pena acordar cedo e conhecer de perto este hospício em que ninguém rasga dinheiro, mas faz a gente dar boas risadas.


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