Marcelo Backes é um dos assinantes brasileiros do manifesto dos escritores contra o esquema de espionagem, assinado por mais de 500 autores de 82 países, entre eles cinco Prêmios Nobel de Literatura – J. M. Coetzee, Günter Grass, Tomas Tranströmer, Orhan Pamuk e Elfriede Jelinek – e outros escritores importantes, do calibre de Ian McEwan, Paul Auster, Don DeLillo e David Grossman.
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O manifesto foi publicado simultaneamente ontem em vários dos principais jornais do mundo como o The Guardian, o Frankfurter Allgemeine Zeitung, o Le Monde, o El País e o La Reppublica. No depoimento abaixo, exclusivo para o portal Brasileiros, Backes conta como ficou sabendo do ideia, dá os motivos de sua adesão, defende a importância do manifesto e especula – negativamente – sobre as possibilidades de se alcançar algo concreto com ele. Segue:
O manifesto vai direto ao centro da questão e talvez ajude os inocentes a perceber tudo aquilo que, em última instância, está em curso: um processo universal – que em âmbito mais restrito já teve consequências terríveis no passado – de eliminação de liberdade, de subjetividade e até de identidade, vide Hannah Arendt.
Historicamente, sempre demoramos a perceber as coisas e o manifesto talvez ajude a arrancar as traves que encobrem nossa vista. O caso Dreyfus de certa forma foi o embrião nem um pouco metafórico do holocausto – um judeu na França que depois se transformaria em todos os judeus, perseguidos pela Alemanha nazista –, e à época muitos fecharam os olhos diante do que estava acontecendo, e quando descobriram o que estava acontecendo continuaram a esconder a verdade debaixo do tapete pra salvar a honra de uma nação mentirosa.
No capítulo chamado “O grande inquisidor”, de Os irmãos Karamázov de Dostoiévski, o referido grande inquisidor diz que os homens estão mais convictos do que nunca de que são plenamente livres, e entretanto levam eles mesmos sua liberdade e a depositam obedientemente aos pés do que hoje seriam os vigias, os bisbilhoteiros universais. Não estamos nos curvando mais uma vez ao nosso desejo mesquinho de submissão, escravizados a um pãozinho de segurança e preferindo aquilo que chamamos hipocritamente de paz à toda a liberdade de escolher o que queremos fazer, protegidos por nossa perdida privacidade? E o grande inquisidor de Dostoiévski ainda alega que apenas o fato de ter conseguido fazer com que os humanos vencessem sua liberdade lhes propiciou a felicidade – é do que também tentam nos convencer os grandes inquisidores de hoje.
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