Beatriz Bracher é uma autora no domínio completo de sua arte e essa coletânea é uma boa mostra disso. São contos variados, na forma e conteúdo, feitos para diversos veículos. A despeito das circunstâncias díspares, todos primam igualmente pelo refinamento literário – um caso de ourivesaria mesmo, para usar o clichê. Aliás, ambos os temas (o garimpo e o clichê) estão no conto-título, um diário minuciosamente plausível em seus erros e lacunas de uma escritora e professora que viaja para encontrar o irmão nos confins da Amazônia.
Pequenos animais grotescos, como um sapo (que abre o ótimo conto escrito em parceria com Noemi Jaffe, O Sapo e o Violino), morcegos (no perturbador O Pensamento de Rubens), e ratos (microassombrações no melhor conto, O que não Existe), povoam as narrativas como seres saídos de uma gravura de Goya, pontuando delírios e uma sexualidade sombria, ou a mesquinhez abafada de um ciúme. Em contraponto, há a beleza de joias (Rubens é restaurador) e das pequenas mensagens de um amor tão irreal quanto profundo (no engenhoso Michel e Flora). Tomados em conjunto, esses elementos parecem compor um cenário em que o horror e o sublime e/ou as dores e prazeres da existência e da escrita estão camuflados, esperando para serem desvelados.
Garimpo, Beatriz Bracher, Editora 34, 136 páginas
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