Na década de 1960, a cidade de Itatiba, no interior de São Paulo, não possuía muitas livrarias. Naquela época, era trabalhoso encontrar um acervo diversificado de obras. É nesse cenário que um ávido leitor adolescente daria início às suas atividades como livreiro.
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José Reinaldo Pontes, 61 anos, é o dono da Livraria Pontes, em Campinas (SP), mas sua história com o livro começou em outra cidade e muito mais cedo. Ele sempre foi um leitor voraz, que não sentia sua sede saciada com as indicações dos professores. “O vírus do livro me pegou quando eu tinha 15 ou 16 anos. Nunca consegui escapar”, diz ele. “Contaminado”, iniciou sua busca por novas obras, passando a adquiri-las junto às editoras.
Com o tempo, passou a comprar livros para os amigos da escola. Quando fazia isso, Pontes revendia o exemplar a um preço um pouco acima do que pagara. Assim nasceu seu tino comercial. O gosto pela literatura fez com que ele escolhesse o curso de letras. Formou-se pela PUC-Campinas em 1970.
Dois anos antes de se formar, em 1968, ele inaugura, ainda em Itatiba, junto com sua irmã, Eva, a Livraria Pontes. No início dos anos 1970, José Reinaldo Pontes fazia pós-graduação na Unicamp, lecionava em escola pública e cuidava de seu estabelecimento. Devido ao tempo escasso, largou as duas primeiras atividades para concentrar-se apenas na livraria. O universo daquela pequena cidade do interior começou a ficar restrito para o livreiro. Até que, em 1972, Pontes se instala no centro de Campinas.
Em 1987, o livreiro itatibense alça voos mais altos e monta uma editora, homônima à livraria. Os primeiros livros eram relacionados à linguística, mas logo foi aberto espaço para outras áreas nas ciências humanas. Hoje, a editora tem um catálogo com 300 livros. A maioria é sobre linguística e educação; há também obras sobre sociologia, literatura do Brasil e do exterior e, claro, livros sobre futebol.
A livraria, localizada na Rua Doutor Quirino, centro de Campinas, é maior do que sugere a fachada. São seis pisos, cada um com uma temática. Na entrada estão os livros infantis e os lançamentos. No segundo piso há literatura nacional e internacional. No terceiro, o tema é futebol. O quarto andar conta com dicionários e livros técnicos (de engenharia, medicina, matemática e outros). Já o quinto, é destinado aos livros de artes em geral. No sexto andar fica o sebo. Lá é possível encontrar jornais antigos, como edições de O Estado de S. Paulo de 1939, além de revistas nacionais e estrangeiras, da esportiva Placar à americana Life.
Apesar da diversidade de livros, o estabelecimento tem alma de uma pequena livraria interiorana, na qual o ambiente é familiar. Além disso, muitos clientes são amigos do livreiro. “Tem gente que vem aqui, compra uns livros e depois sai para almoçar comigo”, conta Pontes, sorrindo. “Não é só a compra do livro. O que vale é a amizade”, declara o professor de inglês Ronei Bossolano, que veio de Capivari para fazer suas compras.
Pontes e o Futebol
Torcedor do Operário de Itatiba, de sua terra natal, do Juventus da Mooca, do Vasco da Gama e da Ponte Preta. Além destes, Pontes também é simpatizante do Lanús, da Argentina, e do Torino, da Itália. “Eu acho muito legal o sujeito que tem um time só. Mas eu sou um cara democrático”, diverte-se. É curioso a forma como passou a torcer para essas equipes.
O Operário é uma das equipes de sua cidade natal, o vínculo é mais “geográfico”. A Ponte Preta o cativou quando ele estudava em Campinas. O livreiro foi ao Moisés Lucarelli assistir a um jogo da Macaca contra a Portuguesa Santista. A Ponte perdeu por 2 a 1, mas ganhou um torcedor. Ainda na infância, o Vasco da Gama ganhou sua simpatia pela história e pelo escudo, que ele admirava nos álbuns de figurinhas.
O carinho que Pontes tem pelo simpático Juventus surgiu de forma inusitada. Na década de 1960, ele torcia para o Corinthians. Em um jogo contra o Moleque Travesso, o Timão, para a alegria de Pontes, abriu 2 a 0. Mas no segundo tempo, o Moleque armou a travessura e virou a partida, 3 a 2. “Eu torci ferrenhamente e fiquei com muita raiva. Depois disso, passei a não gostar do Corinthians e torcer pelo Juventus. Coisa de criança”, comenta. Os times estrangeiros pelos quais torce ganharam seu carinho por terem as mesmas cores do clube da Mooca (Lanús e Torino).
OUÇA A EXPLICAÇÃO PELA ESCOLHA DOS TIMES:
Em sua livraria é nítido esse seu viés democrático. Lá é possível encontrar obras sobre inúmeros times do País e do exterior, desde grandes e tradicionais a pequenos e pitorescos. Também são encontradas biografias sobre os mais diversos personagens do mundo da bola, além de outros sobre sociologia, história e literatura futebolística.
O ambiente dedicado ao esporte bretão conta com um “gramado”, estantes repletas de livros e camisas de time emolduradas nas paredes. Pontes começou a voltar sua atenção literária para o futebol em 1993. Desde então, atrai um diversificado grupo, de anônimos loucos por futebol a jornalistas apaixonados pelo tema.
Outro modo de conquistar fãs do esporte mais popular do mundo é o site: www.livrariapontes.com.br. Foi dessa forma que a Pontes conseguiu conquistar clientes do Rio Grande do Sul até a região Norte.
As histórias do livreiro garimpando obras
Pontes viaja bastante para adquirir livros. Há histórias muito interessantes sobre suas andanças. Em 2000, por exemplo, Pontes estava em Paris e visitava a Livraria L’Harmattan. O livreiro decidiu ver a seção de esporte, na qual havia obras em diversos idiomas. Eis que viu uma edição encadernada na cor grená que chamou muito sua atenção. Ele ficou pasmado ao descobrir que era uma compilação de 12 exemplares de uma revista lançada por um de seus times, o Juventus. Tratava-se da revista Amigão. Nela se falava de futebol em geral e um pouco sobre o clube. Pontes não titubeou e logo adquiriu o exemplar. “Eu saí de lá crente que estava trazendo um tesouro”, relata contente.
OUÇA A HISTÓRIA SOBRE A REVISTA AMIGÃO:
Não é apenas por sorte que o livreiro consegue obras raras, ele está sempre atento em busca de indicações bibliográficas. “Eu tenho os meus ‘informantes’, são programas de rádio e televisão, como o Loucos por Futebol e o Juca Entrevista“, explica.
Outra grande história de Pontes ocorreu quando adquiriu o livro Edson Arantes do Nascimento – Pelé, uma biografia encadernada de 696 páginas publicada pela britânica Gloria Books, em 2006. Escrita por Allan Tannembaum e Marvin Newman, a obra conta com trechos do punho real de Pelé e de jornalistas de todo o mundo, como o brasileiro Ruy Castro. O preço, porém, é bastante salgado: 2.000 libras (R$ 8.083,00). Foram impressos apenas 2.500 exemplares e não haverá reedição. Pontes soube dessa obra por meio dos jornais em maio de 2006. Prontamente, comprou três exemplares. Vendeu dois por R$ 9.000,00 cada um e o outro foi rifado.
O administrador de empresas Alexandre Andolpho foi um dos compradores do livro. Cliente de Pontes há dois anos, ele afirma: “Apesar de ser um investimento alto, vale a pena. É uma obra de arte”.
Com tantos livros e tantos clientes, José Reinaldo Pontes é um craque do futebol fora de campo. O esporte que é um patrimônio cultural nacional tem na livraria Pontes um de seus principais pilares da conservação.
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