Geraldão, baiano no gerúndio

Uma das coisas boas de ser blogueiro é receber mensagens de amigos que a gente tem vontade que outros amigos leiam – e poder publicar. É um espaço para partilhar idéias e sentimentos, já que a vida não pode ser feita só de notícias ruins.

Foi o que pensei ao receber o texto em homenagem ao publicitário Geraldo Walter, o popular Geraldão, que me foi enviado hoje de manhã pelo amigo Sérgio Valente, presidente da DM9DDB, onde os dois trabalharam juntos por muitos anos.

Geraldão foi um dos mestres do marketing político no Brasil. Como sempre trabalhamos em lados opostos nas campanhas políticas, posso testemunhar como ele era bom de serviço. Fui vítima do talento deste baiano fera algumas vezes e só consegui ganhar do time dele após a sua morte.

Abaixo segue o texto do Sérgio Valente.

Praça? Prefiro Avenida

Sábado, sem pompa, mas com toda a circunstância, o Rio Vermelho, em Salvador, presenciou a reinauguração da Praça Geraldo Walter, o Geraldão, um dos mestres da publicidade brasileira.

Praça? De uma coisa eu tenho certeza: depois de tantos anos de convivência com o Geraldo, a última coisa de que ele gostaria é que dessem o seu nome a uma praça.

Não que ele não fosse gostar da homenagem. A homenagem, ele adoraria. Mas, com certeza, ele iria preferir que o seu nome fosse dado a uma avenida, a um aeroporto, a um porto. A um lugar que representasse tudo o que ele foi na vida: movimento.

Por isso, acho que ele preferiria nomear uma avenida, um local de ação, de transformação, de deslocamento. Geraldo nunca foi uma pessoa contemplativa.

Durante todos os anos em que convivi com ele – e foram muitos -, nunca o vi parado, nunca o vi sentado olhando um lugar para relaxar. Geraldo só relaxava quando estava andando, comendo, agindo, atuando.

Talvez o melhor tempo verbal para definir a personalidade do Geraldão seja o gerúndio. Ele não era passado e não era futuro. Geraldo era o caminhar do passado para o futuro. Impossível imaginá-lo em situações em que não estivesse agindo, criando, planejando, inventando, inovando.

A praça nos remete muito ao sentido do ócio, do contemplativo, da passividade perante o tempo e o espaço. A praça nos remete muito à sensação do descansar. Nada disso, ao meu ver, era o Geraldão.

Geraldo Walter era publicitário, nascido e criado na Bahia. Apesar de eu ser também um publicitário nascido em Salvador, conheci essa grande figura em mares que nada têm a ver com a publicidade.

A primeira vez que o vi foi durante uma Gincana da Primavera. Com todo aquele tamanho – e Geraldo era realmente alto e muito forte -, ele era um dos líderes mais realizadores, mais ativos, mais brincalhões daquela gincana.

Depois, conheci um outro Geraldão, de cursinho vestibular. No meio das preocupações com provas e novos desafios, ele despontava como um líder de turma, inspirador, atuante.

Também conheci um Geraldo dos carnavais da Bahia. Um sujeito alegre que adorava sair atrás dos blocos, atrás do Camaleão. Ele sozinho fazia um carnaval, ele sozinho abria o caminho para o bloco passar.

Por isso digo que um cara como esse não é uma praça. Um cara como esse é uma avenida, é um eterno caminhar. Ou é um porto de onde muitos talentos partiram rumo ao futuro.

O talento baiano pegou, com Geraldo, um porto, um aeroporto rumo a Angola para construir a história da propaganda mundial. Hoje se fala muito no marketing político, mas fico pensando o que seria o marketing político se não fosse o Geraldo.

E também como seria se ainda estivesse por aqui, atuando, brigando, inovando, agindo neste eterno gerúndio que tanto o caracterizava. Com certeza, ele estaria elegendo presidente nos Estados Unidos, na Europa, ou construindo a imagem de grandes lideranças do mundo árabe, chinês ou russo.

Geraldo era um mago do planejamento. Sabia como ninguém extrair o que as pessoas tinham de melhor. Isso para mim não combina com uma praça. Bom, mas o nome dele está numa praça. Um lugar no Rio Vermelho, em frente à antiga D&E que durante muito tempo foi a casa de Geraldo.

Mas eu não vou ficar falando aqui que dar nome a praça é ruim. Porque não é isso. Neste caso, porém, eu prefiro olhar a praça como se fosse uma avenida.

Quero olhar para ela e enxergar ali um aeroporto onde os meninos do conservatório, instalado bem à sua frente, se reunirão para tocar enquanto se preparam para decolar para o mundo.

Onde Iemanjá poderá pousar no dia 2 de fevereiro para conquistar pessoas que a levarão para o mundo. Um lugar que seja um pit stop e não uma garagem.

Enxergo a Praça Geraldo Walter como um lugar construído para fazer com que cada um que se sentar ali se lembre de que ninguém pode ficar parado esperando a vida passar.

Desejo que essa praça seja um lugar em mutação. Hoje com bromélias, amanhã com acácias, e depois com granitos que a transformem em um anfiteatro, em palco, em espaço de construção que inspire pensamentos, planejamentos, mudanças, decisões.

Que a Praça Geraldo Walter seja uma praça do gerúndio, de onde as pessoas decolem para o futuro. Assim como Geraldo foi para mim: uma pessoa que me fez decolar para o futuro.

Hoje devo muito do que sou a Geraldo. Foi ele que me ensinou a ser um cara de criação focado em planejamento, a ser um homem que consegue olhar para os problemas encontrando soluções e não uma razão para a imobilidade.

Que essa praça seja o símbolo de alguém que nunca ficou sentado em uma praça, parado. Que seja o símbolo de como uma coisa pode ter outro significado: que essa praça seja uma avenida.

E acho melhor parar este texto por aqui, porque se Geraldo o lesse, iria brigar comigo, dizendo que estava grande demais e que eu podia ser mais objetivo.

Muito obrigado Geraldo Walter! E que muitos de vocês aproveitem essa avenida Geraldo Walter que, por acaso, na Bahia, tem o nome de praça.


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