Custei a acreditar, mas era verdade.
Alertado por Robson Narciso de Oliveira (aqui no Balaio, os leitores costumam se identificar com o próprio nome e sobrenome), fui ver no Último Segundo e estava lá: o senador Cristovam Buarque (PDT-DF), meu bom e velho amigo, propõe um plebiscito para saber se a população aprova ou não o fechamendo do Congresso Nacional.
Que é isso, senador? Nas últimas semanas, alguns leitores mais exaltados, depois de tantas e repetidas denúncias de corrupção e mordomias, até defenderam o fechamento do Senado, por considerá-lo supérfluo e perdulário, mas fechar o Congresso Nacional inteiro?
De acordo com a nota do US, antes de apresentar a idéia do plebiscito no plenário do Senado, Cristovam a comentou num programa de rádio do Recife e “foi uma felicidade” ter recebido diversas críticas de pessoas que consideraram um absurdo “a simples idéia de se pensar num plebiscito” para o fechamento do Congresso.
Como assim? O senador propõe uma sandice dessas, que representaria na prática voltarmos à ditadura, e depois fica feliz porque as pessoas acharam sua ideia um absurdo?
Bem, tem acontecido tanta coisa absurda no nosso país, que a gente começa a não duvidar de mais nada.
Cristovam Buarque é educador dos mais respeitados aqui e lá fora, um dos homens mais sérios que conheci na política, foi governador de Brasília com reconhecidos méritos, mas de vez em quando viaja na maionese.
Aprendi a respeitá-lo ainda mais quando trabalhamos juntos no primeiro governo Lula por sua competência e dedicação. Só que seus grandes projetos para a Educação não cabiam dentro do orçamento, eram ambiciosos além da conta dos nossos recursos.
“Para fazer tudo o que ele quer, precisaríamos ter o orçamento dos Estados Unidos e a população do Uruguai”, comentou certa vez o presidente Lula, notando o abismo entre os sonhos de Cristovam e a realidade.
Todo político precisa da mídia para sobreviver, mas já na época dava para perceber que ele exagerava na dose, não calculando o peso das palavras de um ministro de Estado, jogando a opinião pública contra seus colegas de governo responsáveis por liberar recursos.
Parece que aconteceu a mesma coisa agora. Talvez sensibilizado com o que ouviu dos seus conterrâneos no Recife, como o resto dos brasileiros certamente indignados com o que anda acontecendo no Congresso Nacional, ele achou que a melhor solução seria cortar o mal pela raíz, quer dizer, fechar o parlamento.
Tem coisas que a gente pode até pensar, em momento de raiva, mas um homem público, com a sua responsabilidade, jamais pode dizer em público, nem de brincadeira.
Sabemos todos que hoje , diante da crescente revolta da população contra a violência e os desmandos dos parlamentares, um plebisicito pode aprovar tanto a pena de morte como o fechamento do Congresso Nacional.
Mas pode alguém em sã consciência imaginar que isto seria solução para algum dos nossos problemas?
Com todo respeito, amigo Cristovam, não adianta depois dizer que “um Congresso ruim aberto é melhor que um Congresso fechado” e que faria campanha pela manutenção do parlamento aberto.
O simples fato de levantar esta questão do plebiscito sobre o fechamento do Congresso Nacional é um desserviço à democracia.
Precisamos, sim, lutar para limpar, aperfeiçoar e democratizar cada vez mais as nossas instituições, jamais fechá-las. Quando isto aconteceu, e nem faz tanto tempo, não deu certo, e até hoje o país sofre as sequelas das mais de duas décadas da falta de liberdade.
Qual é a sua opinião? Eu já dei a minha, mas gostaria de saber o que os leitores pensam sobre esta proposta do senador Cristovam Buarque.
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