Isso sim é ménage à trois!

O que dá pra fazer em dois meses? Tirar umas férias no Havaí, aprender a falar russo, construir aquela laje pra tomar um sol ou quem sabe tentar escrever um artigo… Dá pra fazer qualquer coisa. Pode acreditar. Às vezes parece improvável, uma imagem difícil de ver, como se olhássemos um caleidoscópio. Coisa de quem fica jogando no quintal, como criança. Mas pode escrever – ou melhor, eu escrevo – dá pra fazer arte e história em dois meses.
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Foi o que se viu no Tuca (Teatro da Universidade Católica) em março e abril. Por exatamente oito semanas, o teatro da PUC (Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo exibiu concomitantemente três espetáculos de improvisação. Não, meu amigo. Não foi um mísero, único espetáculo. Foi um trio, no teatro principal do Tuca e no Tucarena, exibindo-se de quinta a domingo. Um feito, se não inédito, raríssimo! Tanto por reunir três espetáculos de impro num mesmo teatro como por reunir três espetáculos ligados a um mesmo tema num mesmo teatro! E é pra ficar repetitivo MESMO, pra se entender a relevância da reunião, que só costuma acontecer em festivais.

Jogando no Quintal, Caleidoscópio e Improvável não fazem parte do clero, mantenedor da PUC e do Tuca, tampouco ganharam na loteria pra adquirir um dos teatros mais famosos e tradicionais da capital paulista, mas foram os responsáveis pela façanha. Mariana de Lima e Muniz, diretora teatral e professora de improvisação da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), só recorda de encontros desse tipo no exterior: “Na Espanha, por exemplo, o Teatro Alfil é o lugar dos espetáculos de impro. É um teatro central e muito conceituado, mas sempre esteve ligado à comédia e ao jogo”. Outro caso é o da companhia canadense Loose Moose, que se dá ao luxo de ter quatro espetáculos em cartaz juntos no mesmo local porque tem seu próprio teatro.

Por um mês, março inteiro, o espaço foi todo do trio de improvisação que, aposto, antes de continuarmos, você vai querer conhecer melhor ao vivo: o Jogando no Quintal, improvisação de palhaços que é sucesso há sete anos e já contabiliza um público de mais de 150 mil pessoas; o Improvável, com jogos baseados no famoso Whose Line Is It Anyway? e com pelo menos um mês de espera para conseguir um ingresso; e o Caleidoscópio, de improvisos mais longos, audacioso e inovador, de humor e lirismo. O detalhe: todos lotados!

“É muito legal os três espetáculos estarem no Tuca, porque é como um esporte: quanto mais gente praticar, mais gente vai conhecer e se interessar. E isso se firma como linguagem, o que é uma coisa que nos interessa. Porque como a gente ama a improvisação, queremos mais é que ela se perpetue. Esse é o grande barato (do trio junto), esse boom pra gente é sensacional”, opinou Marco Gonçalves, palhaço-atleta do Jogando, improvisador do Caleidoscópio e convidado do Improvável.

Como alegria de pobre dura pouco, porém, não deu nem pra se sentir dono da casa. Logo na primeira semana de abril veio o primeiro intruso: O Fingidor, que nada tem de impro. Depois, a partir do dia 18, virá mais um: Cyrano. Normal. O Tuca até pode ser considerado por um tempo um centro de improvisação, mas ele não é um centro de improvisação. É por isso que, já em maio, sobrará apenas um representante: o Improvável, que fica até o fim de julho. Jogando no quintal e Caleidoscópio despedem-se no último fim de semana do mês. Pode até ser que retornem, mas ainda não há nada definido. Uma pena, né?

“Seria muito importante para uma cidade supergrande como São Paulo poder ter um endereço certo de algo que elas curtem. Se você produz aquilo naquele ponto agrega mais gente, as pessoas voltam pra ver outras coisas, há uma relação de diálogo. Só assim se constroem as coisas”, lembrou Hugo Possolo, um dos fundadores do grupo Parlapatões, Patifes e Paspalhões, palhaço, ator, dramaturgo, e – ufa! – ligado à improvisação.

Sinergia
Agora você deve estar louco pra me perguntar – ou não, como diria Caetano -: como esses três espetáculos de improvisação conseguiram a proeza de se apresentar ao mesmo tempo no Tuca? Simples, meu caro leitor. É tudo uma questão de sinergia. Não sabe o que é sinergia ou só tem uma vaga ideia? Sem problemas, eu também, mas tem pai-dos-burros pra quê, né? Segundo o Aurélio, sinergia é uma “associação simultânea de vários fatores que contribuem para uma ação coordenada” ou uma “ação simultânea, em comum”.

É exatamente a palavra – e é por isso que eu usei sinergia, depois de ouvir da boca do Joca Paciello, diretor executivo do Jogando No Quintal, umas três vezes durante a entrevista! – que melhor explica a situação. O Jogando queria inovar. Deixar um pouco de lado a apresentação convencional, com as costas para a parede. E queria experimentar o formato de 360 graus, em que há público em todas as direções. Foi quando decidiu conversar com a direção do teatro para se apresentar no Tucarena e deu o start.

“Era um desafio profissional muito importante para os atores atuar em uma arena. E vínhamos de uma temporada muito exitosa no Teatro Santa Cruz, o que nos deu credibilidade para pleitear pauta no Tuca. Também chegamos com o apoio cultural dos nossos patrocinadores. Para um teatro, apresentarmos uma inovação técnica, artística, um espetáculo de sucesso e sem risco comercial, era ótimo”, explicou Joca.

A direção do Tuca concordou – e adorou a ideia. A superintendente Ana Salles Mariano já conhecia o Jogando desde as primeiras apresentações, quando ainda aconteciam de fato em um quintal (do César Gouvêa, o palhaço-atleta Cizar Parker, um dos criadores do espetáculo), e sabia do potencial para atrair jovens e pessoas que não costumam ir ao teatro. Assim, desde o segundo semestre de 2008, o Jogando já estava em cartaz no teatro da PUC-SP.

O bom relacionamento entre Jogando e Tuca – além, claro, do sucesso de bilheteria – facilitou a renovação por mais uma temporada, a do primeiro semestre de 2009. E, mais do que isso, foi fundamental para a entrada dos outros dois espetáculos da mesma produtora do Jogando (o Quintal de Criação), comandada por Joca Paciello: “É uma oportunidade única, você já está naquele espaço, a estrutura está montada, já nos conhecem. Você tem uma condição melhor de tentar colocar o espetáculo. E dividir o espaço com os nossos é melhor do que com terceiros. É bom para nós e para o teatro, que não precisa administrar conflito”.

“Com o Jogando, o nosso foco já era o público jovem, com o Caleidoscópio e o Improvável decidimos mesmo insistir no jovem e aproveitar este início de ano letivo para atrair os calouros da PUC”, completou Ana, lembrando que os alunos da universidade têm o privilégio de pagar só R$ 10 (!) por qualquer espetáculo no teatro.

Vídeo do Improvável, com Marcelo Tas e Rafinha Bastos, do CQC:

Desumbigando
Além da tal sinergia, que permitiu a reunião de três espetáculos de improvisação no teatro da PUC-SP, também entra na conta o desenvolvimento de todos os palhaços-atletas como criadores, como gente que se arrisca em novas linguagens e não tem medo de tentar novos projetos depois de um sucesso como o do Jogando.

Por pouco o trio do Tuca não foi um quarteto. Antes de Caleidoscópio e Improvável se juntarem ao Jogando, passou pelo Tucarena O Mágico de Nós, um infantil de improvisação que tem como realizadores César Gouvêa e Cláudio Thebas, os palhaços-atletas Cizar Parker e Olimpio, do Jogando. Hoje, o espetáculo está no Teatro Alfa, mas é uma mostra de como estão interligados. O melhor exemplo, porém, é Márcio Ballas. Um dos criadores do Jogando e entre os mais famosos e queridos palhaços-atletas (João Grandão), ele ainda é diretor e improvisador do Caleidoscópio e diretor de improviso e convidado do Improvável!

“O pessoal do Jogando não ficou parado na mesma fórmula, eles estão sempre experimentando, procuram agregar outros núcleos, aproximam-se de outras pessoas e vão criando uma rede. Não ficam limitados a eles mesmos, umbigados, o que acaba os fortalecendo e também a cena teatral. Essa é a grande chave, a grande sacada”, explicou Hugo Possolo.

Mais um vídeo do Improvável, com Marco Luque, também do CQC:

Tudo começou há três anos quando o Jogando quis se aprofundar na investigação da improvisação e passou a organizar festivais pra promover o intercâmbio com grupos da América do Sul e da Europa. Foi ali que alguns palhaços-atletas descobriram que queriam ir além das engraçadíssimas, mas curtas, cenas que faziam. E tateando, sem saber precisamente o que e muito menos como, foram para o tablado praticar.

E a gestão do espetáculo não foi curta, durou aproximadamente dois anos: “Não é que ninguém falou ‘ah, vamos demorar tanto tempo’. Fomos treinando, ensaiando, vendo o que ia acontecendo sem ainda colocar nenhuma meta nem nada, até porque nem sabíamos se ia dar para chegar em alguma coisa”, recordou Márcio Ballas. Depois de uma exibição em um Festival de Impro em Belo Horizonte e duas na Crisantempo, em São Paulo, o grupo se sentiu seguro e aproveitou a abertura com o Tuca para se apresentar no Tucarena: deu certo.

Enquanto aprimorava o Caleidoscópio, Márcio Ballas conheceu os meninos do Cia. Barbixas de Humor. O trio percebeu que podia fazer dar certo o programa de TV Whose Line Is It Anyway? no teatro depois de ter conhecimento do Zenas Emprovisadas, que já fazia sucesso no Rio de Janeiro, e decidiu procurar quem entendia de improvisação. “O Márcio Ballas ficou meio encucado, do tipo ‘O que vocês querem mesmo fazer?’ (risos). Depois ele se interessou e foi dando uma aula ou outra para nós e acabou se envolvendo com o projeto. E hoje é ele quem cuida da cena, é o diretor de improviso do grupo”, disse Anderson Bizzocchi, improvisador do Improvável.

A primeira vez dos Barbixas na improvisação não foi no Tuca, mas no Teatro Jardim São Paulo, onde costumavam se apresentar, no fim de 2007. Decidiram gravar a exibição para depois assistirem e analisarem o próprio desempenho. Acabaram colocando no Youtube para facilitar quando precisassem mostrar o material aos teatros em que fossem pedir pauta. Por obra do destino – e do talento do grupo, claro – foram colocados entre os destaques do site de vídeos e viraram febre da internet.

No ano seguinte, sempre tinham casa cheia nos espetáculos, que ainda eram mensais. A demanda foi crescendo e, aproveitando a ligação com o Jogando, conseguiram as quintas-feiras à noite do Tuca, que por sorte estava livre. Agora só se consegue comprar ingressos para assisti-los se for para daqui a um mês. Para quem não desistir de ver ao vivo, há o programa Quinta Categoria, da MTV, em que o grupo participa.

Enfim, “o Tuca meio que se tornou uma central de improviso, quase isso”, concluiu Anderson. É, garoto, quase. Bem que podia ser, né? Quem sabe um dia…

TUCA
Endereço: Rua Monte Alegre, 1.024 (esquina com a Rua Bartira), Perdizes
Horários da bilheteria: às quartas e quintas, das 15h às 20h; sextas, sábados e domingos, das 15h ao início do espetáculo – Os pagamentos podem ser feitos em cheque ou dinheiro e cartão de débito Visa e Redeshop
Televendas: (11) 2198.7726 – de segunda a domingo, das 9h às 21h, aceita todos os cartões
Compra pela Internet: http: //www.compreingressos.com
Showtickets – Shopping Iguatemi – piso superior – Av. Brig. Faria Lima, 2.232, Lj S 02.
Tel: 3031-2098
Ingressos para PUC-SP: R$ 10,00 (estudantes, professores e funcionários)
Estacionamento conveniado: Riti Estacionamentos – Rua Monte Alegre, 835 –
R$ 10,00 – Tel: 3167-7111

JOGANDO NO QUINTAL CALEIDOSCÓPIO IMPROVÁVEL
É uma competição de improvisação entre dois times de palhaços, com árbitro, placar e, claro, você na torcida.

Depois de compartilhar experiências e receber contribuições da platéia, os improvisadores se apropriam das histórias e as usam como ponto de partida para novas.

Não importa se você já viu no Youtube, é como dizem: é sempre melhor ao vivo. Nos moldes do programa de TV Whose Line Is It Anyway.

FICHA TÉCNICA
Fim da temporada: 26 de abril
Horários: sábado às 21h e domingo às 19h30
Recomendação: 10 anos
Duração: 2h30
Ingressos: R$ 40,00 (meia-entrada para estudantes, idosos e aposentados)
Bancos especiais sem numeração: R$ 20,00 (65 lugares).

FICHA TÉCNICA
Fim da temporada: 24 de abril
Horário: sexta-feira às 21h30
Recomendação: 14 anos
Duração: 1 hora
Ingresso: R$ 30,00 (meia-entrada para estudantes, idosos e aposentados).
FICHA TÉCNICA
Fim da temporada: 30 de julho
Horários: quintas-feiras às 21h30
Recomendação: 14 anos
Duração: 70 minutos
Ingresso no dia do espetáculo: R$ 40,00
Ingressos antecipados: R$ 30,00 (somente inteira / meia-entrada para estudantes, idosos e aposentados).


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