Suportes para a aquarela

Foto: Luiza Sigulem
Foto: Luiza Sigulem

“Rubens Matuck e aquarela são sinônimos.” Assim começa o texto de apresentação da nova exposição do artista plástico paulistano, escrito pela curadora Rosely Nakagawa. Matuck, 62 anos, é reconhecido pela produção que realiza com variadas técnicas – gravura, desenho ou escultura –, mas é impossível dissociar seu nome do universo da aquarela, no qual é um dos principais personagens na arte brasileira. E são algumas de suas mais recentes produções com essa técnica de pintura que estão expostas no Atelier Bricoleur, em uma casa no bairro do Pacaembu, em São Paulo.

As possibilidades de uso da aquarela em diferentes superfícies – madeira, madeira preparada com bolo armênio, papel ou linho – são apresentadas nas 29 obras em exibição. Ou seja, esses suportes são aspecto fundamental da produção do artista, incansável pesquisador das características dos materiais – sejam os detalhes sobre a absorção da tinta ou o tipo de reflexo de luz que produz. Para as obras, Matuck procurou madeiras em marcenarias e caçambas de lixo pela cidade. Achou jacarandá-da-bahia, carvalho brasileiro e itaúba, entre outras. Os papéis, feitos de arroz, vieram da China, do Japão, da Itália e da cidade paulista São Bento do Sapucaí, onde se produz o papel de banana. “Aldemir Martins me dizia: ‘Aprenda a usar todos os tipos de papel. Não rejeite, pois cada um ensina um caminho’”, relembra o artista.

Mas o interesse por suportes variados, assim como tipos de tinta e de pincéis, não vem desligado do conteúdo das obras e das temáticas tratadas. E nessa fusão reside boa parte da força e consistência do trabalho. Do oriente, por exemplo, Matuck traz os papéis de arroz e os pincéis, além da influência clara das escolas artísticas, que ao longo dos séculos utilizaram a aquarela. Já o gosto pelas madeiras brasileiras dialoga com o fascínio pela natureza – tema forte dos trabalhos do artista – e pela rica produção dos índios Caiapó e Kadiwéu. “Minha arte tem influência da pintura de corpo indígena. Mas mistura com Paul Klee, os chineses, etc. No Brasil, só se faz referência à Europa, ninguém fala dos índios, o que considero trágico.”

A exposição no Atelier Bricoleur, onde também funciona a casa, a clínica e a sede para os projetos da terapeuta Maria Regina Marques, pode ser visitada apenas às sextas e aos sábados. Com a mostra integrada ao ambiente da sala de estar, a visita se torna uma experiência diferente da vivida em museus e galerias. Para orientar o visitante, apenas o pequeno e preciso texto de Nakagawa: “Com Samson Flexor e Renina Katz, Matuck aprendeu a construir as transparências da tinta. Conheceu o papel na rota da seda. Com os pintores orientais, conheceu as fibras de papéis de diferentes naturezas. Com a natureza, apreendeu da água a fluidez. Com a aquarela, pintura, desenho, escultura, sugere diferentes caminhos. Com transparência, movimento, suavidade e força, navega a bordo de seus pincéis. Sobre qualquer superfície, transborda cores e luzes”.

Serviço – Rubens Matuck
Atelier Bricoleur – Rua Zequinha de Abreu, 105 – Pacaembu – São Paulo. Visitação: sextas e sábados, das 10h às 16h. Até o dia 8 de fevereiro (nesse dia haverá workshop do artista)

Foto: Luiza Sigulem
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