Caso Maria Júlia: o que podemos fazer?

Diante da farra de deputados e senadores com o dinheiro público e a dificuldade encontrada pelos mais pobres para se inscrever nos programas de financiamento da casa própria (o Caso Maria Júlia, ver mais abaixo), muitos leitores do Balaio perguntaram-se nos últimos dias o que cada um pode fazer para mudar esta situação.

Este é o fato novo de uma semana dominada pelo baixo astral, com a baixaria protagonizada por dois ministros do STF e tudo, em meio à enxurrada de comentários indignados com o que acontece em nosso país.

Não dá para ficarmos o resto da vida, os leitores e eu, apenas constatando e criticando os desmandos dos parlamentares. É preciso encontrar uma saída, e não é fechando o Congresso Nacional, como muitos pregam, que iremos aprimorar a democracia brasileira e muito menos melhorar a vida de quem não tem onde morar.

Em seguida ao levantamento dos assuntos mais comentados da semana no Balaio, na Folha e na Veja, que publico todos os domingos, falo da proposta do jovem leitor Giuliano de Matos, que propõe uma campanha de ação positiva para quebrar este clima de fim de feira das instituições, que só gera desalento e desesperança.

Os números:

Balaio

Congresso: 357

Gesto de nobreza: 77

Ciclos da vida: 73

Folha

Abusos no Congresso: 319

Bate-boca no STF: 104

Governo Lula: 38

Veja

Michel Temer: 66

Farra aérea dos políticos: 38

MST: 25

A crescente necessidade dos leitores da velha mídia de papel e da nova mídia eletrônica de participarem das discussões, e não apenas consumirem passivamente o prato feito das informações divulgadas, já está provocando mudanças nos veículos.

Neste domingo, por exemplo, diante do grande número de mensagens recebidas, a Folha já abriu mais meia página no primeiro caderno para publicar cartas de leitores, em sua maioria tratando da “Revolta contra o Congresso”.

Nenhuma delas, curiosamente, trata do desmentido publicado na edição de sábado sobre as acusações feitas semanas atrás pela Folha contra a ministra Dilma Roussef, baseadas em documento falso que circulava pela internet e numa entrevista contestada pelo principal personagem da “denúncia”. Mas já é um avanço.

No Balaio, onde os leitores só não têm seus comentários publicados quando contêm ofensas, acusações e denúncias sem provas, o analista de sistemas Giuliano de Matos, que trabalha com informática e e está preparando seu TCC na Pós-Graduação em Gestão Pública, escreveu:

“Realmente, não podemos só ficar reclamando. Pensando no assunto, e no pouco que posso fazer (sei que esse pouco, multiplicado por muitas pessoas, pode virar um muito), tentei bolar uma idéia para fazer algo que, mesmo que pareça pouco, mostre um pequeno resultado a curto prazo”.

Giuliano propõe: “Ao invés de só reclamar, vamos conclamar os balaieiros, ainda que poucos, a tomar uma ação, mesmo que pequena, e descrever esta ação aqui no Balaio. Coloquemos um prazo: 31 de maio. Neste dia, contaríamos o que cada um conseguiu fazer”.

Para quem quiser participar, Giuliano sugere que os leitores enviem ao blog suas iniciativas para gerar alguma ação positiva: “Plantar uma árvore, doar remédios em um hospital, doar sangue, ajudar alguém que precise”.

Outro leitor, F.B., que prefere ficar anônimo, já tinha feito isso durante a semana, o que motivou Giuliano a pensar na sua campanha da ação positiva.

Ao ler o relato do leitor Everaldo Alencar, de Aparecida de Goiânia, mostrando as dificuldades da faxineira Maria Júlia, viúva de um pedreiro, em se inscrever no programa “Minha Casa, Minha vida”, recentemente lançado pelo governo federal, no mesmo dia ele tomou a decisão de doar um terreno de sua propriedade, de 360 metros quadrados, onde poderão ser construídas quatro moradias populares.

Enviei o texto sobre Maria Júlia para o presidente Lula e a ministra Dilma Roussef e no dia seguinte o chefe de gabinete da PR, Gilberto Carvalho, me informou que o governo federal já está tomando providências para sanar o problema denunciado por Alencar.

Só assim, se cada cidadão, o conjunto da sociedade civil, os nossos representantes nos parlamentos e os governos cumprirem a sua parte, em lugar de ficarmos só uns xingando e colocando culpas nos outros, poderemos sair deste marasmo cada vez mais sufocante de vermos a cada semana sempre o mesmo filme de horror.

Uma coisa não elimina a outra: devemos continuar denunciando e cobrando, sim, mas se cada um fizer alguma coisa como propõe o Giuliano, ao menos vamos ter alguma esperança novamente.

É como ele diz: “Tudo isso que a gente vê acaba desanimando mesmo, até o mais otimista dos brasileiros! Mas vamos em frente, amanhã vai ser melhor do que hoje!”.

Está lançada a campanha. Participem!

Em tempo:

Brilhante a capa da revista Veja desta semana. Resume o que penso. Sob uma caixa de descarga com uma urna eletrônica grudada nela e uma cordinha pendendo ao lado, o texto:

“Puxe para se livrar deles. A falta de honestidade, pudor, decoro, compostura e espírito público desmoraliza o Congresso. Só o voto pode banir os maus políticos sem ameaçar a democracia”.

Eu acrescentaria: o voto e a participação de todos nós na vida política do país _ não apenas no dia das eleições, mas permanentemente.

E a internet é hoje o mais democrático instrumento que temos para tornar isto possível, sem precisar de passagem de avião (epa!opa!) para irmos a Brasília dizer o que pensamos sobre o que eles estão fazendo.

Repito o apelo feito ao final do meu texto acima: participem!

Em tempo 2:

Esta semana muitos leitores mais antigos do Balaio contaram que estavam enviando pela primeira vez seus comentários. Isto é muito bom.

Lembrei-me disso ao ler agora há pouco o comentário do leitor Robson de Oliveira (11h59) em que ele trata exatamente desta necessidade de participar das discussões:

“Eu sei, Ricardo, que muitos leitores e leitoras vêm aqui, mas não se manifestam. Não apresentam seus argumentos. Talvez por medo ou vergonha ()

Por isso, meus amigos leitores, que ainda não se manifestam, venham participar com a gente aqui. Escreva alguma coisa não precisa ter vergonha”.


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