Caça aos fumantes convoca dedo-duros

Que maravilha! Está oficialmente aberta a temporada de caça aos fumantes. A lei antifumo do governo Serra só entrará em vigor no próximo dia 7 de agosto, mas quem não tiver mais nada para fazer pode desde já pegar em armas e se alistar na grande cruzada contra o cigarro.

“Governo Serra vai estimular ‘dedo-duro’na lei antifumo”, diz o título do caderno Cotidiano da Folha de domingo, acrescentando logo abaixo: “Clientes poderão enviar até fotos para denunciar desrespeito à legislação”.

Comandante-em-chefe das forças da lei, o secretário da Justiça, Luiz Antonio Marrey, dá a senha – “serão admitidos todos os meios de prova lícitos em direito” – e convoca suas tropas:

“É importante que as pessoas defendam os seus direitos e exijam que ninguém fume em locais fechados”.

Como se fosse necessária uma convocação oficial Assim que começou o debate sobre a lei antifumo, vários leitores do Balaio e de outros blogs e publicações já se ofereceram como voluntários para esta guerra sem quartel.

Posso imaginar a cena: milhares de cruzados antifumo percorrendo os bares e restaurantes da cidade, celulares em punho, prontos para flagrar os contraventores, dedar os estabelecimentos e chamar a polícia.

Já que todos os nossos problemas de segurança pública estão resolvidos, deixando os policiais à disposição para defender a lei antifumo, e o ar que respiramos em São Paulo está que é uma pureza só, o inimigo público número um a ser atacado passa a ser o cigarro.

Quer dizer, começa com o cigarro, mas em pouco tempo as tropas do dr. Marrey poderão ser empregadas também em outros combates. Hoje mesmo, no Painel do Leitor da mesma Folha já temos uma pista sobre o que nos aguarda.

O leitor Ricardo Marques (São Paulo, SP) indaga: “Será que a próxima medida será podermos fotografar os motoqueiros que trafegam na calçada para ‘fugir’dos automóveis parados no farol?”

Por que não? Uma vez nas ruas, as tropas de dedo-duros poderão também fotografar carros furando o farol vermelho, os buracos nas ruas, o lixo não recolhido nas calçadas, maridos traindo suas mulheres e vice-versa, tipos suspeitos em frente às lojas, táxis clandestinos, ambulantes sem licença com produtos paraguaios, estudantes matando aula, colegas de trabalho indo ao cinema na sessão da tarde, funcionários públicos usando o carro oficial para passear, desafetos em geral mijando fora do penico, falhas na iluminação pública, porteiros dormindo na guarita dos prédios, cachorros vadios cagando onde não devem – não faltará serviço, com certeza.

Convido os leitores a completarem a lista dando novas tarefas aos dedo-duros. Em breve, quem sabe, poderão se esquecer até dos fumantes. E São Paulo se transformará num imenso arraial da delação, com todo mundo dedando todo mundo até que o último santo possa assumir o poder.


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