A boa notícia desta terça-feira (9) (um relatório da Unicef apontando avanços na educação do Brasil) foi ofuscada por uma péssima notícia no fim da tarde. Por volta das 17h, policiais da Tropa de Choque da Polícia Militar entraram em confronto com estudantes, professores e funcionários da Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual Paulista (Unesp) e Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), no campus da Universidade de São Paulo (USP), na zona oeste da capital paulista.
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Depois de um ato em frente à reitoria da USP, os manifestantes das universidades avançaram para a frente do portão 1, na Praça Reinaldo Porchat, uma travessa da Rua Alvarenga, e fecharam os acessos das ruas nas cercanias do campus, o chamado “trancaço”. A PM, que está presente no local desde a segunda-feira da última semana, supostamente para tentar controlar a greve dos professores e funcionários da USP, parados há mais de um mês, chamou o reforço da Tropa de Choque e o confronto começou.
Segundo o estudante de Ciências Sociais André Solnik, de 21 anos, os policiais lançaram bombas de efeito moral e balas de borracha no grupo de mais de 300 pessoas. Mais de 15 viaturas entraram no campus. Os manifestantes responderam com pedras e paus na direção dos PMs.
“Eu estava no prédio da História (FFLCH) e comecei a ouvir bombas. Os policiais estavam a uma distância de pouco mais de 50 metros dos manifestantes. Depois do confronto, os PMs recuaram”, contou Solnik, que conseguiu deixar a USP somente depois das 19h30.
Miguel Marques Crochik, de 19 anos, estudante do segundo ano de Geografia da USP, estava longe do confronto, conversando com uma amiga, e foi atingido por uma bala de borracha na perna direita. Segundo ele, o protesto corria pacífico no portão 1 da USP, mas no momento em que a multidão retornou para dentro do campus, com gritos de “fora PM”, o clima esquentou. Os PMs que estavam no local esperaram o reforço da Tropa de Choque para começarem a atirar bombas de gás e balas de borracha. Segundo Miguel, que participou do protesto, mas depois se afastou do grupo de manifestantes, o clima entre os policiais era de raiva.
Enquanto o confronto acontecia em frente ao prédio da FFLCH, Miguel já estava com outros estudantes na praça do relógio quando foi atingido pela bala de borracha. “Eu, que já estava tonto de tanto spray de pimenta e gás lacrimogêneo, fui atingido com uma bala de borracha na coxa direita, que ficou levemente ferida. O confronto seguiu para dentro do prédio da história e geografia, onde policiais jogaram bombas de dispersão e perderam o controle do confronto em um conflito dentro da Universidade. Ao fim, alguns representantes do movimento estudantil e funcionários líderes da greve foram presos, como o Brandão, presidente do Sindicato dos Funcionários da USP (Sintusp) e o motorista do carro de som, entre outros”, contou o estudante.
Confronto com a Polícia Militar no campus da USP não tem precedentes na história recente do Brasil. Durante a ditadura militar (1964-1985), o Crusp (Conjunto residencial dos estudantes da USP) foi invadido pelo exército quatro dias depois do Ato Institucional número 5 (AI-5), anunciado no dia 13 de dezembro de 1968. Na ocasião, cerca de 800 estudantes foram presos. No entanto, enfrentamentos com a polícia dentro da universidade é fato novo no período democrático pós-regime militar.
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