O Brasil é como a China: copia tudo dos americanos. Só que os orientais desandam a clonar tecnologia, manufatura, coisa que dá para vender barato ao mundo. Enquanto os brasucas macaqueiam só estilo de vida: comportamento. É o caso do rolezinho.
A coisa surgiu mesmo nos States sob o nome (fora de moda, convenha-se): “flash mob”. O ato começou com multidões sendo convocadas a aparecer em certos logradouros públicos, ou privados, e atuar em performances preestabelecidas. Daí para a invasão de shopping centers – que aqui têm o nome de “Mall” – foi só questão de tempo, acrescida de uma ou outra idéia de jerico. E, como pela Internet tudo se espalha… Acabamos importando mais essa bobagem.
Na China, diga-se, todo shopping center tem rolezinho natural. Caminhar por um dos centros de vendas naquela terra é sempre estar em meio a multiões aterrorizantes. No banheiro de uma loja de departamentos, um único urinol é ocupado por 586 pessoas. Mas que ninguém tente dar caráter político à aglomeração. Transformar um punhado de pessoas em turba ignara é absolutamente proibido. Desobediência à essa regra implica no envio de tanques e tropas às ruas.
No Brasil, pelo menos, não vimos blindados passando por cima de quem tenta invadir um shopping. Mas é de se esperar que isso ocorra em breve. O problema será apenas manobrar um Caveirão entre as vitrines da Gucci e da Natura.
A cópia do modismo americano hoje em dia só é singular porque acontece de modo mais rápido. É alguém ver no Youtube um filminho de galera em Ohio zoando num shopping e, dalí a pouco já tem imitação cabocla na Barra, na Faria Lima, no centro de Belô. Mas os jovens de hoje apenas cumprem uma vocação que vem de muitos anos. Minha geração, por exemplo, macaqueou as ondas beatnik, hippie, punk, disco, new wave, yuppies, entre outras menos cotadas. Antes disso nosso pais clonavam aquilo que os francêses faziam.
Eu mesmo peguei a entre safra e fiz a ponte transatlântica. Comecei imitando personagens de filmes do Jean-Luc Godard: ficava angustiado por não encontrar uma daquelas mocinhas sapecas que povoavam la nouvelle vague. Mas aí me caiu às mãos um disco do Bob Dylan. O cara foi um grande achado para quem tinha cabelos crespos e queria deixa-los crescer. Antes dele, cabelo carapinha tinha de ser cortado estílo reco. Depois, foi só deixar a juba ao vento. E dos longos caracóis aos desleixos hippies foi apenas questão de tempo suficiente para enfileirar umas miçangas e fazer um colar.
Hoje vivo na fonte das modas. Atualmente imito os chamados baby boomers (aqueles nascidos no pós-guerra, entre 1946 e 1964). Faz parte dessa onda ser diabético, ter pressão alta, artrite, refluxo gástrico, surdez, cataratas e disfunção erétil. Essa última, ressalto, ainda não consegui alcançar, mas sei, estou à caminho.
Desse modo recomendo: deixe a molecada em paz. Daqui a pouco essa moda passa. A rapaziada um dia terá de tomar antiácido e Viagra. Irá a um shopping enganado, não sabendo onde está, ou procurando um banheiro.
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