Velhas notícias ruins, boas novas notícias

Entra semana, sai semana, você pode passar um tempo fora do mundo sem ler jornal que não perde nada, as notícias não mudam: encontrados mais tantos corpos do acidente da Air France, novos casos de gripe suína, a briga pela CPI da Petrobras que não ata nem desata, recordes de congestionamento no trânsito, conflitos na USP, mais bandalheiras no Senado, o frio no sul, as enchentes no norte, e por aí vai. Você nunca sabe se o telejornal que está vendo é de hoje ou video-tape da semana passada, lágrimas que não param de rolar.

Mas tem uma notícia enguiçada, como diz o colega Tutty Vasquez, que continua atravessada na minha garganta. É o destino do garoto S., de 9 anos, cuja guarda é disputada pelo pai biológico norte-americano e a família do padrasto brasileiro, que faz anos virou um joguete nas mãos da nossa Justiça.

Para nós faz muito tempo não é mais novidade que a Justiça, em suas diversas instâncias, faça julgamentos diferentes sobre o mesmo caso, com mil recursos e procrastinações, deixando uma decisão definitiva para o dia de são nunca.

Na semana passada, a Justiça Federal determinara que o menino, que vive há cinco anos no Brasil com o padrasto e a família de sua mãe, Bruna Bianchi, falecida no ano passado, deveria ser devolvido em 48 horas ao seu pai biológico, David Goldman.

Logo em seguida, o ministro supremo Marco Aurélio Mello concedeu liminar em ação impetrada pelo Partido Popular (o PP de Paulo Maluf e Francisco Dornelles), determinando que o menino ficasse no Brasil até o julgamento definitivo pelo plenário do STF.

Nesta quarta-feira, por unanimidade, inclusive com o voto do próprio Mello, o STF cancelou a liminar e devolveu o caso à Justiça Federal no Rio. Ocorre que, no mesmo dia, terça-feira passada, o juiz federal Luiz Paulo Araújo Filho, do Tribunal Regional Federal (TRF) da 2ª Região também já tinha concedido uma liminar à família do padrasto para que S. permanecesse no Brasil até que o mérito do mandado de segurança do padrasto fosse julgado.

Endenderam? Ou seja, a decisão(?) do orgão máximo da Justiça brasileira não serviu para absolutamente nada, a não ser constatar que um dos seus membros mais notórios concedeu liminar numa “ação proposta que não era a mais adequada para fazer o pedido”, e simplesmente lavou as mãos.

Até eu, que sou mais bobo, estranhei esta história de ação proposta por um partido político num caso que envolve a disputa judicial de duas famílias por um menino.

A agonia de David Goldman, que veio novamente ao Brasil para acompanhar o julgamento no STF, parece não ter fim. O próximo capítulo desta novela, que desnuda a barafunda do Judiciário brasileiro, agora será escrita pela 5ª Turma Especializada do TRF da 2ª Região, no Rio de Janeiro, mas ainda não tem data para ser levado ao ar. Até lá, S. ficará sob a guarda do padrasto e o pai biológico continuará tentando entender como funciona a Justiça brasileira.

Goldman já deve ter perdido as contas de quantas vezes veio ao Brasil esperando uma decisão definitiva da nossa Justiça e voltou para os Estados Unidos sem o filho. Patética e emblemática foi a foto publicada pelo jornal O Globo em que ele examina durante a sessão do STF um impresso com o perfil dos ministros. O que será que ele pensou a respeito deles ao dizer que estava vivendo uma “tragédia”?

Além do drama humano envolvido em toda esta história já faz cinco anos, desde que a mãe trouxe o menino ao Brasil para passar férias e nunca mais voltou para casa, casou de novo e teve mais uma filha, este caso serviu para revelar ao mundo o vexame que é a Justiça em nosso país, o pouco caso com que se trata do destino de um garoto dividido entre duas famílias e dois países.

Mas eu, como David Goldman, não desisto. Entre tantas velhas notícias ruins, sempre é possível encontrar boas notícias novas, como a que contei no post de quinta-feira sobre o site criado por Maria Clara de Campos Vergueiro (www.asboasnovas.com) , que foi vivamente saudado pelos leitores aqui do nosso Balaio.

Fiquei sabendo por exemplo, que não se trata de iniciativa inédita. Já conhecia uma experiência de muitos anos atrás da minha velha amiga Diléa Frate, que batalhou por patrocínio para colocar no ar um site só de boas notícias quando eu ainda trabalhava no governo, mas não sei que fim levou.

Em comentário enviado às 23:48, a jornalista Marise Pontes nos informou que há um ano foi lançado no Ceará um site na mesma linha, o http://www.boanoticia.org.br. Quem souber de outros pode nos informar que terei o maior prazer em divulgar aqui.

Iniciativas como essas colocam em xeque a máxima de velhos jornalistas, segundo os quais “bad news, good news”, quer dizer, boas notícias são as notícias ruins.

“Boa iniciativa. Abaixo a era dos 100 feridos é uma boa notícia, mas 10.000 mortos é uma notícia melhor ainda”, escreveu sobre o site de Maria Clara, às 9:56 de hoje, o leitor Adriano. Para quem prefere um jornalismo mais dedicado à vida do que à morte, não deixa de ser um alento.

Marcelo Matos, das 10:14, foi mais longe e resolveu sair da teoria para a prática: enviou para o Balaio dois exemplos de notícias boas, que não são fáceis de encontrar na nossa mídia.

Aproveito a deixa dele para lançar um convite aos demais leitores: em lugar de ficarmos só criticando as notícias ruins que nos assolam, por que não aproveitamos este espaço para também falar de notícias boas?

Tenho certeza de que cada um de vocês, sem muito esforço, tem pelo menos uma boa notícia para nos contar. Vamos nessa?


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