Como ex-aluno de duas de suas faculdades (ECA e Ciências Sociais), é com muita tristeza que venho acompanhando aqui de fora o que está acontecendo com a nossa Universidade de São Paulo.
Faz uns 40 anos que saí da USP, no auge da ditadura militar, sem me formar, mas sempre me orgulhei de ter estudado lá, onde convivi com professores e estudantes da melhor qualidade, alguns deles mais tarde meus colegas de trabalho.
A gente batia e apanhava um bocado, vivia com medo e não deixava de fazer festa também, mas dos dois lados da guerra os personagens e as causas eram bem diferentes. Não dá para comparar com esta pobreza de ideais que estamos vendo hoje na velha Cidade Universitária.
Vamos, para começar, parar com esta história de que “nem nos tempos da ditadura militar”, uma besteira que vem sendo repetida com insistência só porque a PM, chamada pela Reitoria, agiu com rigor contra um grupo de manifestantes celerados na semana passada.
Quem fala isso não viveu aquele tempo, não conhece a nossa história e pegou atrasado o bonde de 68. Voltaram a pé de Woodstock e se perderam no caminho.
Lutava-se em 1968 contra uma ditadura feroz em que havia tortura e censura, as liberdades individuais foram exterminadas, as pessoas eram perseguidas e desapareciam das salas de aula para morrer nos cárceres do DOI-CODI.
A crise da USP já vem de longe – uma crise acima de tudo de lideranças e de objetivos. Qual o motivo do atual confronto entre a Reitoria e o sindicato dos funcionários da USP, este com o apoio de uma pequena parcela de professores e estudantes, que agora vêm a reboque?
Entre outros 500 motivos que já foram apresentados em assembléias com pouca gente e muito grito, luta-se basicamente por aumento de salários e a readmissão de um funcionário.
É melancólico ver quem são as lideranças em 2009: de um lado, a patética figura da reitora Suely Vilela (quem é, de onde veio, qual a sua história?), que não fala com ninguém e, de outro, o funcionário sindicalista Claudionor Brandão, um veterano agitador de assembléias e depredações.
Não se destaca nesta crise nenhuma liderança entre professores e alunos. A maioria absoluta deles não está nem aí para a guerra particular entre Suely e Claudionor. A reitora ofereceu 6% de aumento, os funcionários querem 16% e, certamente, não será a PM nem a greve dos alunos que irá resolver este impasse.
A Justiça do Trabalho determinou na manhã de segunda-feira que a USP reintegrasse o funcionário Claudionor Brandão. Poucas horas depois, como costuma acontecer na barafunda judiciária, outra instância, o Tribunal Regional do Trabalho, revogou a medida.
E nós, que pagamos a conta da USP, mais de 3 bilhões de reais por ano, o que temos a ver com esta pendenga?
Fora isso, o que está em jogo? Algum projeto para devolver à USP a excelência no ensino, engajá-la na vida real da população, dar-lhe uma finalidade que ultrapasse os muros da Cidade Univesitária?
A única bandeira que consegui vislumbrar até agora nas reivindicações das anônimas lideranças estudantis, abrigadas em insignificantes siglas partidárias, é combater o projeto de “ensino à distância” da USP, que já é adotado nas universidades federais. É para isso que eles montam barricadas querendo paralisar as aulas na marra?
É tudo muito pobre, muito sem sentido nem noção, algo fora de tempo e lugar. E ainda vem gente querendo falar nos “tempos da ditadura”, como se uma coisa tivesse alguma semelhança com outra.
É tudo tão estranho que pela primeira vez na vida me vi obrigado a ficar do lado da Polícia Militar, que tomou pedradas ao cumprir uma ordem judicial para defender o patrimônio público e o direito de ir e vir dentro da Cidade Universitária.
Tempos esquisitos, esses
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