Atualização às 15:45:
Mr. Mané, o anti-Muricy
Como a cova já estava pronta, não esperaram nem Muricy Ramalho se despedir dos jogadores e já anunciaram o novo treinador. Quem? Ricardo Gomes. Quem? Pois é, chamaram para o lugar do treinador demitido um que é o oposto dele, um anti-Muricy. Podem chamá-lo também de Mr. Mané.
Por que? Perguntem aos dirigentes do São Paulo. Quantos títulos este rapaz já ganhou na vida como treinador? O que fez de bom nos clubes por onde passou no Brasil e na França, incluindo a seleção brasileira pré-olímpica?
Ao contrário de Muricy, um vencedor, o novo técnico do São Paulo é muito educado, muito elegante, fala muito bonito, um finório do futebol, que combina muito mais com os dirigentes do tricolor.
Como bem definiu em sua coluna meu colega de iG Alberto Helena, “muita pose e pouca substância”. Em lugar do técnico quatro vezes seguidas eleito o melhor do futebol brasileiro, os cartolas do São Paulo contrataram um mané para chamar de mister.
Agora, sim, eles poderão dar palpites à vontade, escalar o time, acertar o esquema de jogo – tudo aquilo, enfim, que nunca conseguiram com o Muricy.
Faz sentido. Alguma coisa tinha mesmo que mudar no São Paulo depois daquele vexame de quinta-feira contra o Cruzeiro. Como não dava para mandar embora o time inteiro, demitiram o técnico, que custa mais barato, e trouxeram para o lugar dele um bom menino para obedecer às suas ordens.
Se for assim, Ricardo Gomes não dura seis meses e a diretoria que se cuide. A paciência da torcida está por um fio. Os mesmos torcedores que gritaram o nome de Muricy ao final do jogo no Morumbi, e vaiaram e xingaram o time, vão ficar agora no pé dos cartolas. Basta ver o que os comentários deles ao final do post abaixo que escrevi hoje de manhã.
Desta vez, não deu para o presidente Juvenal Juvêncio segurar Muricy. O São Paulo jogou tão mal – ou melhor, nem mostrou vontade de jogar – na eliminação contra o Cruzeiro, na noite de quinta-feira, no Morumbi, que os cartolas são-paulinos finalmente conseguiram o que estavam querendo desde o mau início do time na temporada no ano passado: derrubaram o técnico.
Desde que acompanho futebol, faz mais de 50 anos, uma coisa não mudou: quando as coisas vão mal, a primeira providência é trocar o técnico. Sempre foi assim. E quando parte do elenco está insatisfeita com o treinador, nada melhor do que fazer corpo mole em campo, entregar o jogo, como o São Paulo fez contra o Cruzeiro.
Aí juntou a fome com a vontade de comer. Depois do vexame de quinta-feira, estava na cara que os diretores descontentes havia tempo com Muricy não iriam perder esta oportunidade de encostar Juvêncio na parede e pedir a cabeça do treinador.
Não deu outra. Mal o jogo acabou, e a torcida ainda xingava o time no Morumbi, na madrugadade sexta-feira, dez dirigentes do São Paulo se reuniram para discutir a saída do treinador.
Muricy sabia que só contava com dois apoios para permenecer no São Paulo até acabar o contrato no final de 2010: o presidente Juvenal Juvêncio e a torcida, que sempre ficou do seu lado, gritando seu nome mesmo nos piores momentos do time. Foi assim que, contra a vontade da maioria dos diretores, ele se segurou no cargo e levou o time ao tricampeonato brasileiro no ano passado.
Sem saber de nada, imaginando que a história se repetiria, Mucircy foi ao CT da Barra Funda e treinou o time na tarde de sexta-feira, mas seu destino já estava selado. À noite, pressionado por seus colegas de diretoria, Juvêncio foi obrigado a comunicar a Muricy que ele estava demitido.
A relação do treinador com os cartolas são-paulinos sempre foi tensa e Muricy não fazia nenhuma questão de esconder seu descontentamento com alguns diretores, como ele deixou bem claro na longa entrevista que concedeu à revista Brasileiros na edição de fevereiro deste ano. Para ler:
http://www.revistabrasileiros.com.br/edicoes/19/textos/499/
Filho de feirante do Mercado de Pinheiros, teimoso e marrento, de estilo centralizador, sem aceitar palpites no seu trabalho, Muricy não combinava muito com a grã-finagem da diretoria do São Paulo que se imaginava a única responsável pelos títulos do clube em razão da estrutura profissional montada pelo clube nos últimos anos.
Era só uma questão de tempo – e até que Muricy resistiu muito tempo. Nestes três anos e meio à frente do São Paulo, além dos três títulos brasileiros, o técnico baseava a confiança no seu taco na relação custo-benefício.
Embora não ganhasse um dos maiores salários do mercado de treinadores (300 mil reais por mês), revelou jogadores, como Breno, que, ao serem vendidos renderam muito dinheiro ao clube.
Foram 252 jogos nesta sua segunda passagem como técnico pelo Morumbi, com 139 vitórias, 67 empates e 46 derrotas, marcando 64% de aproveitamento – o segundo maior da história do clube, só perdendo para Joreca, que dirigiu o time em meados do século passado.
No clássico contra o Corinthians, neste domingo, quem vai dirigir o time é o auxiliar técnico de Muricy, Milton Cruz. E ninguém se surpreenda se o São Paulo voltar a jogar um bom futebol e ganhar o jogo porque é impossível repetir o que tem mostrado nos últimos jogos.
Para provar que o culpado era Muricy e não eles, os jogores vão dar o sangue que não deram contra o Cruzeiro, para alegria dos cartolas são-paulinos, que queriam ver Muricy pelas costas há muito tempo.
O problema é exatamente este: os jogadores e os dirigentes que contrataram Washington e cia. vão continuar no Morumbi. Muricy vai sair de férias. Sorte dele, azar nosso.
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