O que faz a diferença entre Sarney e Muricy?

Os dois dominaram a área de comentários dos leitores do Balaio esta semana (ver números dos assuntos mais comentados no final deste texto).

Um é José Sarney, ex-presidente da República, ex-quase tudo na vida política e, atualmente, pela terceira vez, presidente do Senado Federal, posição que o deixa no centro do tiroteio de denúncias contra o Congresso Nacional.

O outro é Muricy Ramalho, tricampeão brasileiro pelo São Paulo, eleito quatro vezes seguidas o melhor técnico do país, demitido do clube esta semana, após a derrota contra o Cruzeiro, que eliminou o tricolor da Libertadores.

Os dois terminam em situações bem diferentes esta semana difícil em suas vidas. Sarney continua no cargo, mas foi duramente condenado pela quase unanimidade dos leitores do Balaio. Muricy caiu, depois do seu time dar vexame no Morumbi e, mesmo assim, recebeu o apoio da maioria dos comentaristas do blog.

Fora a origem, a idade, o ofício e a história de vida, enfim, de cada um destes brasileiros, o que faz a diferença entre o maranhense José Sarney, com 60 anos de vida pública e prestes a completar 80 de idade, e o paulistano Muricy Ramalho, que não tinha nascido quando o presidente do Senado entrou na política, é a forma de encarar as críticas que recebem e as dificuldades que enfrentam.

Sarney se sentiu ofendido com a saraivada de denúncias contra ele nas ultimas semanas, chegando a afirmar em discurso na tribuna do Senado que não merecia este julgamento do povo por tudo que já fez em sua carreira política. Negou tudo, não assumiu responsabilidade nenhuma e disse que a crise não é dele, mas do Senado. Em razão disso, escrevi-lhe uma carta aberta aqui no Balaio.

Muricy ficou calado no canto dele, assistindo à conspiração de cartolas e jogadores contra a a sua permanência no cargo e, embora demitido, saiu de cabeça erguida, aplaudido e apoiado pelos mesmos torcedores/eleitores/comentaristas que condenaram Sarney e querem vê-lo fora da cena política brasileira.

No sobe e desce da vida de cada um de nós, Sarney continua no alto da gangorra presidindo o Senado, mas cada vez mais fragilizado, enquanto Muricy, que caiu, sai de férias com a certeza do dever cumprido e o julgamento favorável da sua torcida, que espera a sua volta.

Política e futebol, mais uma vez, dominaram a semana no Balaio, com os leitores alternando comentários sobre um e outro tema ao longo dos últimos dias. O futebol ganhou por pouco.

Futebol: críticas dos leitores

Leitores mineiros, torcedores do Cruzeiro, reclamaram, com toda razão, que só falei das razões da derrota do São Paulo e nada sobre a vitória do seu time em pleno Morumbi.

A maioria criticou “a arrogância de vocês paulistas”. João Sergio Pereira, em comentário das 13:11 de sexta-feira, ficou bravo comigo: “Reconheça os méritos dos adversários, seu cronista torcedor, bairrista e incompetente”.

A leitora Angela, das 13:36, também não gostou do que leu: “Costumo ler seu blog como se fosse sério, mas com suas análises sobre futebol agora já estou em dúvida”.

Política é política, futebol é futebol, precisamos separar as coisas. Em futebol, sou mesmo apenas um torcedor, declaradamente são-paulino, como os leitores poderão ver logo no começo do meu perfil publicado aí ao lado. Nunca esperem, portanto, isenção, neutralidade, objetividade, essas coisas que muita gente usa para enganar o leitor.

“Lamento que o RK, sempre tão amável, sensato e da paz, mostre neste artigo seu lado hulligan”, comentou Emanuel Cunha Lima, às 23:33 de sábado, sobre o post em que critico a demissão de Muricy Ramalho e a contratação de Ricardo Gomes.

Pois é, meu caro Emanuel, para mim futebol é paixão e é desta forma que falo do meu time.

Neste caso do jogo são Paulo e Cruzeiro, sou reincidente, confesso. Muitos e muitos anos atrás, ao escrever sobre um jogo em que o São Paulo perdeu da Portuguesa, meu então chefe no Estadão, o palmeirense Clóvis Rossi, me esculhambou pelo mesmo motivo: só falei do meu time e nada sobre o time que ganhou o jogo.

Se eu já era assim quando trabalhava na chamada grande imprensa, onde precisava respeitar normas, regras e um manuual de redação, não seria agora neste Balaio, em que sou dono do espaço e posso escrever o que quiser, que iria deixar de ser o que sou, quer dizer, um torcedor do São Paulo.

Estamos entendidos?

Leituras de domingo

Outros leitores me cobraram ao longo da semana um texto sobre o fim da obrigatoridade do diploma de jornalista decidida pelo STF.

Já discuti tanto este assunto em congressos, seminários e debates ao longo das últimas décadas, que não encontrei um ângulo novo para escrever sobre esta decisão, que já era mais do que esperada.

Depois de ler tudo o que os outros escreveram, encontrei neste domingo na Folha um texto que resume tudo o que penso sobre o assunto. Foi escrito pelo mestre Janio de Freitas, em sua coluna publicada à página A9, sob o título “A liberdade das más razões”, cuja leitura recomendo aos leitores.

Termina assim: “O julgamento do STF dispensou a desejável associação entre direito à liberdade de expressão e, de outra parte, recusa a argumentos inverazes. A boas razões preferiu a demagogia”.

Os assuntos mais comentados

Como faço todos os domingos, publico abaixo o levantamento dos três assuntos mais comentados esta semana no Balaio, na Folha e na Veja, as duas publicações impressas de maior circulação do país.

Balaio

Muricy Ramalho/São Paulo F.C.: 276

José Sarney/Carta aberta: 238

Crise na USP: 139

Folha

Sarney: 239

Congresso: 95

Lula: 86

Veja

Violência nas escolas: 38

Tragédia do voo 447: 35

Escândalos no Senado: 19


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