Consegui passar a semana sem tocar no assunto Sarney e os escândalos em série produzidos pelo Senado, um novo susto a cada dia. Mas, os leitores, não.
Qualquer que fosse o tema tratado no Balaio, foi sobre as histórias que brotam desta casa de horrores, onde senadores e seus funcionários privatizaram o dinheiro público, que os leitores enviaram a maioria dos comentários.
Com o passar dos dias, a indignação e a revolta dos cidadãos comuns começou a ceder espaço ao desencanto e a um sentimento generalizado de impotência, resultando num clima de mal estar generalizado que se alastra pelo país à medida em que as denúncias se multiplicam e a impunidade impera.
Não é para menos. O colega Fernando Rodrigues, da Folha, já contabilizou 60 denúncias (fora as de hoje) de casos de nepotismo, abusos, falcatruas e maracutaias variadas nos últimos cinco meses, desde a reabertura do Congresso Nacional em 2009.
Outro colega, Kennedy Alencar, em seu artigo “Senado é bagunça organizada”, na Folhaonline, dá alguns números deste império subterrâneo montado na praça dos Três Poderes:
* O orçamento do Senado é de 2,8 bilhões por ano. Para manter cada senador, isso dá mais de R$ 34 milhões por ano, cerca de R$ 2,8 milhões por mes, R$ 94 mil por dia. É uma montanha de dinheiro jogada fora que daria para construir 200 mil casas populares por ano.
* Até hoje, ninguém sabe dizer ao certo quantos são estes funcionários, mas o número mais recente divulgado pelo senador Heráclito Fortes (DEM-PI) dá conta de pelo menos 11 mil, com salários de até R$ 12 mil para motoristas – ou seja, 123 funcionários para cada senador.
Desta vez, ao contrário do que disseram Lula e Sarney esta semana, não se pode atribuir a prolongada crise ao “denuncismo” da imprensa, já que as revelações brotam das entranhas do próprio submundo do Senado, ganham vida própria, ninguém precisa correr atrás delas.
Se os abusos e desmandos só agora revelados são antigos e sobreviveram a vários governos, sejam quais forem os interesses políticos subjacentes, isso não refresca a gravidade da situação.
Como bem constatou a revista Veja desta semana, na Carta ao Leitor ( “Um país melhor que seus políticos”), vivemos um claro conflito entre o noticiário político gerado por Brasília e o mundo real.
Na mesma semana em que se anunciou novo aumento expressivo do emprego formal, em que a indústria automobílistica bate seu recorde histórico de produção e a Bolsa já recuperou as perdas provocadas pela crise mundial, as manchetes e o noticiário baixo astral continuaram sendo dominados por suas excelências, os 81 senadores.
O sentimento dos leitores/eleitores foi muito bem resumido no comentário de Mara Barreto, às 17:45 de sexta-feira:
“Chegamos a um ponto de descrédito e desesperança tal que parece que nada, absolutamente nada fará este país ir para os trilhos da seriedade, da justiça e do respeito.
O que podemos fazer quando reclamar não adianta? Quando votar não adianta? Quando lutar também parece que não adianta nada?”
Eu não tenho as respostas. Mas, se algum outro leitor tiver, por favor, pode escrever aqui mesmo na área de comentários ou enviar diretamente ao presidente do Senado, José Sarney.
Os números da semana
Como faço todos os domingos, publico abaixo o levantamento dos três assuntos mais comentados da semana no Balaio, na Folha e na Veja, os dois veículos impressos de maior circulação no país.
Balaio
Caso Sophie: 106
Burocracia: 68
Audálio Dantas: 66
Folha
Congresso: 167
Sarney: 160
Lula: 49
Veja
Recado dos cidadãos: 342
Diploma de jornalismo: 25
Meio ambiente: 18
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