A proliferação de feiras e festas literárias que se tem visto nos últimos anos no Brasil, encabeçada pelo sucesso internacional da Flip (Festa Literária Internacional de Paraty), parece que tem mesmo razão de ser: há um público ávido em participar de celebrações em que a literatura é o fio condutor. Foi o que se viu na 9ª Feira Nacional do Livro de Ribeirão Preto, realizada de 18 a 28 de junho e que este ano homenageou a poetisa Cora Coralina.
[nggallery id=14640]
Com uma programação extensa e diversificada, a Feira reuniu, além dos grandes nomes da literatura que se espera em um evento como este (Carlos Heitor Cony, Mário Prata, Milton Hatoum , Crtistovão Tezza, entre outros), personalidades que discutiram temas como ciência (Marcos Pontes), jornalismo (Zuenir Ventura, Xico Sá, Fernando Morais), música (José Miguel Wisnik), culinária (Samantha Aquim) e filosofia (Marcelo Leite).
LEIA TAMBÉM: “Paulo Coelho é desrespeitado pela crítica”, diz biógrafo
A escalação plural e o incremento, na programação, de shows e eventos com artistas de apelo popular (Vanessa da Mata, Toquinho, Paulinho da Viola, Maria Rita, Lenine), ajudaram a garantir o quórum de um evento que é o segundo maior do gênero no país, só atrás da tradicional feira de Porto Alegre. Até a sexta feira do dia 26 de junho, último fim de semana do evento, a Feira de Ribeirão Preto havia recebido um público estimado em 320 mil pessoas. Ainda que provisório, o número já era o maior desde que a Feira foi criada, em 2001.
Participante de todas edições do evento, o livreiro João Pedro Viana, da Jotape Livros, comemorava, no domingo, último dia de Feira, os 32 mil exemplares que conseguiu vender ao longo dos 10 dias. “Esta foi a melhor edição da Feira. O movimento estava excelente e as pessoas compraram mesmo. Só livros infantis, que custam de um a cinco reais, vendi seis mil”.
Wesley Oliveira, gerente da livraria Para Ler, também comemorava o bom movimento e as vendas. “Só no sábado, vendemos cinco mil livros. Em todos os nossos títulos demos 20% de desconto, isso ajudou também”. Além do grande movimento, os livreiros locais comemoravam, também, a ausência das grandes editoras que, segundo a organização da Feira, não têm interesse em eventos como esse por conta dos custos, preferindo as bienais. Ao todo, 71 estandes foram montados em um espaço de 16 mil m2
na Esplanada do Theatro Pedro II, no centro da cidade, onde também aconteciam os shows de música.
Salão de Idéias
Principal palco de discussões, o Salão de Idéias apresentou um formato diferente do que geralmente se vê na maioria das mesas de eventos literários. Sem pauta ou tema a nortear a conversa entre mediador, autor e público, as palestras tinham, quase sempre, um caráter meio anárquico e biográfico, onde o autor acabava fazendo, em uma hora, uma retrospectiva de sua vida e obra. Alguns mediadores também pareciam não conhecer suficientemente seus entrevistados.
Mas ainda assim, surgiram boas conversas, como o papo entre o veterano jornalista Alberto Quartim de Morais e Guilherme Fiuza, autor de “Meu nome não é Johnny”, livro adaptado com sucesso para o cinema em 2008. Além de falar sobre a confecção de seu livro, Fiuza, que também é jornalista, discorreu sobre diversos assuntos ligados à profissão, tal como a recente decisão do STF que derrubou a obrigatoriedade do diploma para o exercício do jornalismo. “Sou contra o diploma e a favor das faculdades de jornalismo”, disse Fiuza.
Aliás, discussões sobre jornalismo tomaram conta de várias mesas ao longo do último fim de semana da Feira. Nomes como Zuenir Ventura, Fernando Morais e Marcelo Rubens Paiva falaram sobre diploma, lei de imprensa e censura. Rubens Paiva disse que a faculdade não capacita suficientemente para o mercado de trabalho e que jornalismo se “aprende na prática, trabalhando”.
Fernando Morais, autor de “O Mago”, biografia de Paulo Coelho, falou sobre o Projeto de Lei que dá mais liberdade à publicação de biografias de pessoas públicas. Chamado de “Lei das Biografias”, o projeto, que tramita na Câmara dos Deputados, é de autoria do deputado federal Antonio Palocci (PT-SP). “Paulo Coelho escreveu um artigo na Folha de S. Paulo dizendo que a vida dele já não o pertence mais, é pública. E isso precisa ser entendido pela justiça”, disse o biógrafo. O Salão de Idéias foi encerrado no domingo com uma palestra do poeta Thiago de Mello.
Para o criador da Feira do livro de Ribeirão, Galeno Amorim, além do bom público que o evento recebeu, a qualidade dos autores convidados e a diversidade da programação colocaram, de vez, a cidade no mapa dos grandes eventos culturais do país.
“Este ano a feira conseguiu reunir, em torno do livro, diversas vertentes da arte, sempre tendo o livro como mote principal. A população da cidade abraçou a Feira, apóia e participa. Agora, o mais importante é continuar este trabalho e ampliar os projetos de leitura ao longo do ano nas escolas da cidade”, finalizou.
Deixe um comentário