Quando estive no Brasil em junho, só se falava em “Twitter”. Uma febre que me pareceu tardia, mas bem vinda. Há anos os ingleses lançaram esta moda, que saiu da aristocracia caçadora e foi adotada até pela burguesia urbana. Quinze anos atrás, mandei fazer um terno de twitter – em Savile Row, a rua dos melhores alfaiates do mundo. Ainda guardo o maravilhoso produto em meu armário, usando-o apenas em ocasiões especiais. Está como novo, o meu velho twitter. De todo modo, não existe nenhuma novidade nesta mania.

Agora leio nos jornais que o ator Ashton Kutcher, usou seu twitter para mangar de brasileiros durante o primeiro tempo da final da Copa das Confederações. Para mim, o abusado só é famoso por estar casado com aquela saborosa Demi Moore. Ao que parece, ela também usa twitter, o que deve lhe cair muito bem, como de resto, qualquer outro paramento. Já o jovem marido – que de futebol entende tanto quanto dramaturgia – falou asneiras ao cabo do primeiro tempo da peleja. Acredito que vestiu seu twitter para a ocasião, na esperança de que a elegância conferisse autoridade à sua análise tosca. O figurino, claro, não surtiu o resultado desejado. O almofadinha encrenqueiro foi repelido com milhares de brados de “Chupa!”, depois de transcorridos os 90 minutos regulamentares. Brasileiros, trajando sungas e calções, comandaram o coro. Como se vê, afobado come crú ou queima a boca.

Foi surpreendente saber que o Kutcher tem algo em torno de 2,5 milhões de amigos de twitter. Nunca imaginei que, hoje em dia, tanta gente fosse adepta deste tecido de lã pura, com estamparia que procura imitar as pedras do terreno da “Loura Albion”. A idéia por trás destas vestimentas era a de camuflagem para os caçadores. Isso, num tempo em que a arte do disfarce não tinha passado pela degradação de estampas multicoloridas que se veem hoje nas fardas e cargo-pants, envergadas por soldados e jovens que nunca portaram um fuzil. Os designs parecem ter sido idealizados por porto-riquenhos viajando com LSD, nos anos 70. Mas trata-se de um consolo, saber que a moçada está procurando moda mais clássica para seu guarda-roupas.

Kutcher, que só ví vestindo frangalhos – que um dia, anos atrás, foram camiseta e jeans – pasmem, inspira estes guris. Um terno de twitter é artigo indispensável entre as posses de um cavalheiro. E a elegância que a fatiota confere, demonstra desejos pela volta de tempos mais civilizados no mundo. No Brasil, a turma da sunga e calção – fico sabendo – também está aderindo, apesar do calor infernal que faz na terrinha. Foi pensando neste problema térmico, que me ocorreu estarmos em julho, em pleno inverno sub-tropical. Até eu, acostumado com o gelo do hemisfério norte, senti arrepios no frio paulistano durante as festas juninas.

Teria sido boa idéia colocar meu terno de twitter na bagagem. Agora que este traje voltou à moda, acredito que seja possível desfilar pela Avenida Paulista dentro de um Savile Row, sem muito risco de ser assaltado. Como nos velhos tempos, quando se exigia gravata para entrar no Fasano do Conjunto Nacional. E se o cavalheiro estivesse envolvido num terno de twitter, teria garantida uma mesa de frente na terrazza da casa. Ficaríamos lá, o Kibeloco – seja ele quem for, mas que também gosta do tecido britânico – saboreando a vitória brasileira na Copinha, chiquérrimos em nossos twitters.


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