Se o calor hostil no Sudeste e Sul do País tem sido assunto diário em redes sociais e em rodas de amigos, a temperatura também promete ser elevada em fevereiro para os fãs do Samba-Jazz. O gênero instrumental derivado da Bossa Nova marcou a primeira metade dos anos 1960, com a produção autoral e releituras de clássicos da Bossa criados por combos como Sambalanço Trio, Meirelles e os Copa 5, Sergio Mendes e Sexteto Bossa Rio, Bossa Três, Jongo Trio, Rio 65 Trio, Sambossa 5, Milton Banana Trio, entre dezenas de outros – que, felizmente, tiveram a sorte de deixar vários registros fonográficos (leia sobre nove deles e ouça a íntegra, no final desta reportagem).
Na Zona Sul do Rio, em Copacabana, a Rua Duvivier perderia o nome, nesse período áureo, ao tornar-se palco do lendário Beco das Garrafas. Sede de bares míticos como o Baccarat, Little Club e o Bottles, a rua sem-saída abriu amplo caminho para instrumentistas de qualidade insuspeita levarem ao público boêmio uma revolução em curso dentro de nossa música instrumental.
Grandes fomentadores desse cenário efervescente, no espaço diminuto desses bares, os produtores Ronaldo Bôscoli e Carlos Miéle inventaram um novo conceito de apresentações, em formato despojado e intimista, espécie de proto-pocket show, que rendeu a célebre máxima, do boêmio Miéle, “Dê-nos um elevador, que te daremos um espetáculo!”.
O nome “Beco das Garrafas” fazia alusão à discórdia entre moradores e os frequentadores dos bares. A certa altura da noite, incomodados com o barulho da boêmia, moradores dos prédios vizinhos jogavam objetos pelas janelas dos apartamentos, não raro garrafas, em protesto.
Reaberto em janeiro, o Bottles ganhou direção artística com DNA: Amanda Bravo é filha do violonista, compositor e produtor Durval Ferreira. Morto em 17 de junho de 2007, Durval foi um dos mais ativos músicos daquela geração e liderou um histórico combo de Samba-Jazz, Os Gatos – nome que fazia alusão a seu apelido “Gato”, por conta dos olhos azuis.
Além de Amanda, a temporada de fevereiro de shows no Bottles também terá colaboração de outro especialista nesse universo mágico de nossa boa música dos anos 1960, o pesquisador e DJ Marcello MBGroove, que também integra o coletivo Vinil é Arte. (veja vídeo-depoimento dele para o projeto Cultne – Acervo Digital de Cultura Negra).
MBGroove discotecará nessa primeira série de shows que será aberta hoje no Bottles, com a apresentação do violonista João Sabiá e do Copa Três. O quarteto voltará a se apresentar nos dias 10 e 17 de fevereiro.
Confira os detalhes da programação
Samba Jazz / Sampa Jazz
Em São Paulo a “chapa” também esquentará em fevereiro. Dando continuidade à programação 2014, as Jazz Nights, na Trackers, trazem, a partir de amanhã, 04.2, uma série de shows com outro craque da produção contemporânea de Samba-Jazz, o trombonista Jorginho Neto, que se apresentará, nas terças-feiras de fevereiro, com seu quarteto.
Formado por Bruno Migotto (contrabaixo), Bruno Tessele (bateria), Edson Santana (piano) e Jorginho (trombone), o combo tocará temas de autoria própria lançados em 2012, no álbum Samba-Jazz.
Ouça o trabalho de Jorginho Neto e confira a página do músico.
Além dos shows do quarteto a discotecagem a cargo do anfitrião da festa, o DJ Walter Abud, também será dedicada a reverenciar clássicos do Samba-Jazz e da música instrumental brasileira.
Saiba mais sobre as Jazz Nights com Jorginho Neto
Confira nove posts da coluna Quintessência que tratam de álbuns clássicos do Samba-Jazz (além dos textos, os discos podem ser ouvidos)
O Som, de J.T. Meirelles e os Copa 5
Sambalanço Trio – Samba Jazz à paulistana
Tenório Jr., Embalo – O Embalo Trágico de Tenório Jr.
Os Ipanemas – A Bossa Afro dos Ipanemas
Sergio Mendes & Bossa Rio, Você Ainda Não Ouviu Nada – O Sergio Mendes Que o Brasil Desconhece
Luiz Carlos Vinhas, Novas Estruturas – A Vanguarda de Luiz Carlos Vinhas
Raulzinho, À Vontade Mesmo – O Rei do Embalo, à Vontade Mesmo
Edison Machado, É Samba Novo – A Cadência Selvagem do “Pai do Samba no Prato”
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