O jogo de Serra e Aécio: quem vai piscar primeiro?

Aos caros leitores,

que acompanham, aqui no Balaio, a luta pela vida do nosso vice-presidente José Alencar, uma boa notícia: recebi informações agora de que ele já está no quarto do hospital Sírio-Libanês, e passa muito bem.

Outro dia li no Painel da Folha que, em viagem a Portugal, o líder tucano José Anibal foi abordado por um político lusitano (não me lembro o nome) querendo saber por que o governador José Serra, favorito nas pesquisas presidenciais, ainda não está em campanha. Vamos tentar entender.

Desde o ano passado, Hélio Campos Mello, o diretor da revista Brasileiros, onde também trabalho, e eu estamos tentando fazer entrevistas exclusivas com os dois governadores presidenciáveis do PSDB, José Serra e Aécio Neves. Até agora, as respectivas assessorias, com toda gentileza, apenas nos enrolaram.

E não é nada pessoal, tenho certeza. Sei que há sobre suas mesas dezenas de pedidos da mesma natureza enviados pelos mais importantes veículos e jornalistas do país, que igualmente continuam esperando suas exclusivas. Ainda não vi nenhuma publicada, assumindo a candidatura.

Um está esperando que o outro faça isso primeiro. Como os dois não vão querer dar esta entrevista juntos, o jeito é esperar. Aliados e, ao mesmo tempo, gentis adversários na disputa pela sucessão de Lula, os dois ainda estão na moita, acertando suas alianças e acordos intramuros, antes de botar a cara de candidato na rua.

A coluna Radar On-Line, de Lauro Jardim, da Veja, dá uma pista hoje sobre o comportamento esquivo de Serra, faltando um ano para o início oficial da campanha de 2010. Sob o título “É melhor deixar 2010 para 2010”, ele escreve:

“De um especialista em eleições e em José Serra:

– O Serra quer empurrar a discussão sobre 2010 para 2010 porque acha que neste momento este debate viraria um “Serra versus Lula”. E isso não é bom para ele. Só quer a discussão quando a campanha de Dilma estiver nas ruas. Aí será Serra contra Dilma”.

O problema é que a campanha de Dilma já está nas ruas faz meses e ela vem crescendo nas pesquisas. Nenhuma pessoa razoavelmente informada ignora, a esta altura do campeonato, de que ela é a candidata de Lula à sua sucessão, apoiada pelo PT e por larga parcela dos partidos que formam a base do governo.

Pensa, age e fala como candidata. Enquanto isto, os dois presidenciáveis tucanos travam uma batalha surda para consolidar suas candidaturas. Primeiro, no seu próprio partido; depois, com o aliado DEM (e o PMDB de Orestes Quércia, no caso de Serra) e, finalmente, na sociedade.

Serra não pode sair por aí como candidato, como quer o comando do PSDB, enquanto Aécio também for candidato, e não acontecer, se é que vai acontecer, a prévia exigida pelo governador mineiro.

Na verdade, os dois vão esperar os resultados das pesquisas até o final do ano para ver o que decidem. Serra, para saber se a diferença que o separa de Dilma estará dentro da margem de segurança que lhe assegure a vitória; Aécio, para saber se seus números melhoram a ponto de tornar sua candidatura viável no partido.

O jogo dos tucanos, especialmente em São Paulo, não é fácil. Se Serra optar por se candidatar à reeleição de governador, como se tem comentado em diferentes rodas nas últimas semanas, o que farão com Geraldo Alckmin, que já está em campanha para voltar ao Palácio dos Bandeirantes?

Se sobrar para Alckmin a candidatura ao Senado, o que oferecer ao sempre aliado DEM e a Quércia, com quem o PSDB já costurou uma aliança preferencial no ano passado? Afinal, são apenas duas vagas.

Serra e Aécio sabem que uma chapa puro-sangue de tucanos, o sonho de FHC, é inviável. Da mesma forma, sabem que um não pode ser candidato sem o apoio ostensivo do outro, pois São Paulo e Minas são os grandes colégios eleitorais do país.

Por isso, ninguém quer piscar primeiro. Qualquer descuido pode ser fatal. Enquanto isso, os dois deixam para os parlamentares demo-tucanos a tarefa de desgastar o governo com a CPI da Petrobrás e a interminável novela Sarney.


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