Brasil terá sua própria versão da Comic Con

Cosplayers simulam batalha no evento da Comic Con em San Diego
Cosplayers simulam batalha no evento da Comic Con em San Diego


Mal foi anunciada a notícia de que o Brasil sediará – em dezembro – a primeira edição do maior evento de cultura pop do mundo, para que os fãs de quadrinhos, games, séries, ou nerds por assim dizer, ficassem aflitos. E ela é sentida de todos os lados. Um deles é o de Pierre Mantovani, diretor geral do portal Omelete, e um dos responsáveis por trazer o evento ao Brasil. “Trazer a Comic Con é um sonho que se iniciou há sete anos, quando começamos a fazer a cobertura pelo Omelete”, conta. Mas foi há três, que Mantovani passou a concretizar de vez suas intenções e levar o sonho adiante.

“Começamos a ver o evento como uma oportunidade de negócios e não mais como fãs. E nesses últimos três anos foi o tempo de irmos praticamente a todas as Comic Cons que tem nos Estados Unidos e pegar o que elas tinham de melhor, convencer um pool de investidores e montar uma equipe especializada para fazer o evento aqui. O que anunciamos agora foi um trabalho de três anos de planejamento e agora vamos entrar com a operacionalização”, conta Mantovani entusiasmado.  

E o entusiasmo e a expectativa também são enormes por parte do público brasileiro. No Facebook, a página oficial do Comic Con Experience já contabiliza mais de 32.400 seguidores, apenas uma semana após o anúncio de que ela aconteceria. No Twitter, fãs sonham e pedem para ver seus ídolos dos quadrinhos em solo brasileiro. “Bem que vocês podiam fazer o povo brasileiro feliz anunciando a vinda da dupla Neil Gailman e Dave McKean, hein?”, pede Jean Coppieters via Twitter. Outros sugerem Alan Moore e Frank Miller ou ainda a presença de Sir Ian McKellen, o ator inglês que interpretou Magneto na franquia “X-Men” e o mestre Gandalf, em “O Senhor dos Anéis”.

No entanto, Mantovani mantém a discrição e não se adianta em confirmar nenhum nome internacional. “Estamos em negociação e fechamos já bastante coisa. Mas seguramente, vamos ter a participação de pessoas de fora do Brasil”. Segundo a assessoria de imprensa, os organizadores da edição brasileira estão em negociação com Disney, Marvel, DC, Paramount e Warner, entre outros estúdios. E os fãs já se organizam e falam em caravanas para irem até a feira e contam os dias para o evento. “302 dias para a Comic Con Brasil”, comemora Sofia Winchester, também pelo Twitter.

É verdade, ainda falta bastante tempo. O evento acontecerá do dia 4 a 7 de dezembro, na Expo Imigrantes, em São Paulo. E a expectativa, segundo Mantovani, é reunir 60 mil pessoas nos quatro dias programação em um espaço de 15 mil m². Se a demanda de expositores aumentar, diz o organizador, a tendência é que eles também aumentem o espaço do evento. “Se isso se confirmar, podemos até dobrar o espaço”, conta.

Brasileiros conversou com Mantovani sobre todos os detalhes da maior feira da cultura pop da América Latina. A seguir, ele lista as expectativas do evento e revela o que fãs podem esperar ansiosamente da Comic Con Experience.

Pierre
Pierre Mantovani, diretor geral do Omelete e presidente da Comic Con Brasil. Foto: Divulgação

 
Brasileiros – Por que Comic Con ‘Experience’?

Pierre – Queremos que a pessoa no Brasil tenha a mesma experiência que ela teria nos Estados Unidos. Mas, obviamente, teremos algumas regionalizações. Teremos uma área dentro do evento, que é igual a que tem nos Estados Unidos, que se chama Artist Alley. É um espaço com 60 mesas para os melhores quadrinistas e artistas brasileiros estarem ali autografando os seus quadrinhos, vendendo arte original, tendo contato com os fãs. Também estamos em negociação com os grandes estúdios, vendo a possibilidade de trazer atores, diretores. Acredito que isso já agrega valor do cara ir para a feira e ter essa experiência. Também teremos uma arena para as pessoas verem em streaming seus filmes, séries favoritas, e todo o conteúdo que será promovido lá. Fora isso, teremos 20 expositores das maiores empresas de colecionáveis do mundo. Temos confirmado a Bandai, a maior empresa colecionável do Japão e a Hot Toys.

B – A expectativa do público é grande. Há possibilidade de aumentar a capacidade do evento?

P – Tem muita gente me perguntando sobre os ingressos, falando que viram que, na Comic de San Diego, os ingressos acabaram em meia hora e que eram, no caso, 160 mil ingressos. Aqui no Brasil, só teremos 60 mil. Então é para ter essa preocupação mesmo. Não vamos vender mais do que temos. Mas vamos informar todo mundo, obviamente, ao mesmo tempo. Tanto sobre os valores e quando vai ser a venda do primeiro lote, que deve acontecer no primeiro trimestre desse ano. E  a venda só vai acontecer pela Internet. Mas acho que existe um grande risco aí de esgotar rápido. E não queremos vender mais do que podemos entregar, porque queremos um evento de qualidade. Então, só aumentaríamos o número de 60 mil para mais ingressos, talvez num segundo ou terceiro lote, caso a gente tenha mais expositores e um espaço maior.

B – E o que a Comic Com brasileira terá diferente da original?

P – Teremos uma regionalização. Vamos ter desde a participação dos artistas nacionais e cuidados com organização de filas, segurança dos produtos, dos artistas, essas coisas. Temos um investimento bem grande nisso. Também queremos propor um netmaking dos negócios que ainda não existe no Brasil. Que artistas achem seus parceiros, empresas, lojistas, tudo que for interessante para aumentar e fomentar o mercado de cultura pop que existe no Brasil. E isso não existe em nenhuma Comic Com lá fora. Lá só existe o netmaking entre quadrinistas e editoras e nós queremos fazer um netmaking do mercado de entretenimento. Entendemos que essa primeira edição, e, com bastante sinceridade, estamos arriscando bastante dinheiro, porque um evento para 60 mil pessoas é bem ousado, mas a possibilidade dele crescer é muito grande. E a gente sente uma demanda reprimida enorme.

B – E o que um evento como o Comic Com significa em termos de impacto para o cenário da cultura pop e geek no Brasil?

P – Existe uma coisa que é muito ruim que é a pirataria. E eu acho que tudo que você faz por debaixo da lei, você acaba não conseguindo mensurar, não consegue auditar e não consegue entender esse mercado. Você não tem facilmente o contato das pessoas, por exemplo. E o que também queremos é transformar um mercado de entretenimento brasileiro em algo super profissional, que movimente dinheiro, que contrate mais pessoas, que faça o Brasil se desenvolver. Se a gente olhar o quanto a indústria de games está crescendo no Brasil, por mais que os novos consoles estejam ainda muito caros no país, nos próximos anos automaticamente devem chegar a preços mais competitivos, e o preço dos jogos serão mais comercializáveis. A gente quer promover tanto essa cultura das pessoas darem valor por comprar um produto original, quanto fazer com que a pessoa entenda que ao comprar aquele gibi original, ele está também pagando o artista. Porque se você não paga, amanhã ele para de fazer.  Acredito que temos uma missão de profissionalizar o mercado de entretenimento em geral. E aí eu estou falando de todas as vertentes que a Comic Con tem dentro dela: filmes, séries de televisão, quadrinhos, games e produtos colecionáveis, em geral.

B – Há intenção de tornar o Comic Con Experience anual?

P – Sim, a gente fechou um contrato de três anos com a Expo Imigrantes. Mas obviamente, se a primeira edição der um prejuízo enorme, não faremos as outras. Mas temos um compromisso, e a negociação já feita para três outras edições. Mas o que eu falo para o público é que se o cara ficar esperando para ir na segunda edição, que, claro tem tudo para ser maior que a primeira, se o cara não for na primeira e a primeira der errado, não vai ter a segunda. Estamos arriscando muito e o pessoal pode até achar que a gente vai ter uma margem de lucro, mas não vamos ter.  O que a gente quer é colocar uma estaca de que o Brasil tem público e tem qualidade para fazer um evento tão legal quanto os Estados Unidos. Outra coisa que estamos em negociação, é a ligação da nossa Comic Con, que é uma Comic Con brasileira com outras que acontecem em outros países. A ideia é criar um espaço para troca de artistas, de conteúdo, troca de conhecimento. Que haja um networking global para um país poder fomentar a cultura do outro. 


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