Entre o fim do século 19 e o início do 20, Paris, Berlim e Moscou foram as cidades que abrigaram com maior força a arte e a cultura modernas. Nesses centros em acelerado processo de crescimento e, posteriormente, em outros da Europa e dos Estados Unidos, as vanguardas artísticas e intelectuais deram os caminhos que transformaram o pensamento ocidental dali por diante. Hoje, cerca de um século depois, não foi só o quadro geopolítico global que mudou, mas também o mapa das artes e da cultura. Se as potências europeias e os EUA não deixam de ser relevantes, agora dividem espaço, inclusive na política e economia, com outros países. Entre eles, ganham destaque o BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) – as cinco maiores economias emergentes do mundo.
Foi partindo dessa constatação que Alberto Saraiva, curador de Artes Visuais do Oi Futuro, e Alfons Hug, diretor do Instituto Goethe do Rio, criaram a mostra BRICS, com obras de 22 artistas dos cinco países, aberta no dia 18 deste mês de fevereiro, no Rio de Janeiro. “Minha tese é que, nos próximos tempos, os novos polos da modernidade podem ser São Paulo, Rio, Mumbai, Xangai… E não mais os centros tradicionais”, diz Hug. Focada em trabalhos fotográficos e de vídeo, a exposição apresenta obras de artistas destacados, como as de Chen Chieh-Jen (chinês), Haim Sokol (russo), Vivek Vilasini (indiano) e Donna Kukama (sul-africana). Entre os brasileiros estão Cao Guimarães, Romy Pocztaruk, Paulo Nazareth, Alberto César Araújo e Juliana Stein, além de uma obra de Silvino Santos (1886-1970), No Paiz das Amazonas, um dos precursores na abordagem de questões sociais.
Para selecionar os participantes, Hug e Saraiva fizeram uma série de viagens aos cinco países e mantiveram contato com curadores locais. Apesar de os artistas reunidos serem formados em culturas tão diferentes e conviverem com realidades diversas, Hug ressalta que há um ponto em comum entre eles que percorre toda a exposição. “A questão urbana, o que eu chamo de drama urbano, figura em quase todos os trabalhos. A maioria das cidades com mais de dez milhões de habitantes encontra-se no BRICS. A Europa mal sabe o que é isso, já que a única megacidade de lá é Moscou. Essas cidades criam novos paradigmas urbanos, e acredito que isso se reflete na produção artística.”
Após a temporada no Rio, os curadores planejam levar a mostra para outros países do BRICS, mas a prioridade, por enquanto, é rodar mais cidades do Brasil. Nesse ponto, Hug ressalta que, entre os cinco países, o Brasil “é o que mais cedo formulou esse novo eixo, esse eixo que ultrapassa os tradicionais centros de hegemonia, que são Berlim, Londres, Nova York, Paris”. Em julho, a ideia é montar a exposição em Fortaleza, onde vai acontecer o próximo encontro do BRICS, com os presidentes dos países.
Serviço – BRICS
Oi Futuro – Rua Dois de Dezembro, 63 – Flamengo – Rio de Janeiro. Até 20 de abril. De terça a domingo, das 11h às 20h. Entrada gratuita
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