Em fevereiro deste ano, com a perspectiva de aprovação do superpacote financeiro de socorro à economia americana, a indústria pornográfica tentou pegar uma rabeira (epa!). Representantes dos estúdios do cinema, dito adulto, resolveram pedir alguns milhões de dólares de estímulo. Uma espécie de viagra monetário para a murchidão do setor. Um deputado democrata da Califórnia quis enfiar (epa!), no grande plano de emergência, provisões para essa doação. Era aquilo que poderia ser chamado de Emenda Michê. Não deu certo: a mãozinha à San Fernando Valley – a Hollywood de baixo calão – foi estapeada pelo Congresso. Os produtores pornôs ficaram com uma mão na frente e outra atrás. Assim, resolveram queimar o estoque, literalmente. Muitos deles tascaram fogo em suas empresas, visando à grana do seguro.
Até o ano 2000, a indústria pornô americana faturava US$ 3 bilhões por ano, com oito mil lançamentos de filmes, envolvendo 30 mil cenas de sexo. O prêmio de reconhecimento às estrelas do setor, o AVN (Adult Video News) Awards, o “Oscar” da obscenidade, tinha nada menos do que 106 categorias. A entrega do troféu – uma peça fálica de cristal – tomava duas noites no Ceasar Palace de Las Vegas. O “Buttman” – John Stagliano – uma espécie de Dino de Laurentis dos filminhos de sacanagem – sozinho já recebeu 42 estatuetas. Algumas como “Melhor Ator”, isso, a despeito de ele ter sido infectado com HIV por um travesti de São Paulo. A feira de vendas, que antecipava o evento, tinha público superando os 100 mil participantes. Buttman cobrava US$ 5 por autógrafos aos fãs.
Mas a internet acabou com isso tudo. Hoje, todo dia é noite do amador. Qualquer criança, ao pé da letra, com uma câmara na mão e uma ideia sacana na cabeça, faz produções caseiras que são imediatamente remetidas a sites pornôs na rede. Por que pagar por um filme, quando é possível ver a mãe de seu coleguinha de escola transando com um afro-americano hiperdotado, numa produção da qual participa até o cachorro? Isso para não dizer nada sobre a pirataria das obras com as estrelas mais premiadas pelo AVN.
O resultado foi que as empresas de San Fernando Valley entraram no vermelhão (epa!). As finanças da indústria contemplam impotência definitiva. Sem a ajuda do governo – que afinal foi dada para gente que fez sacanagem bem maior – uma orgia de falências tomou conta da área. No desespero, alguns resolveram fazer justiça com as próprias mãos e incendiaram estúdios, em busca da grana do seguro. Foi uma manobra que pareceu dar certo nos dois primeiros ardores. Logo, com a profusão de incêndios, as seguradoras sacaram que estavam sendo vítimas de estupro. Muita gente foi em cana e agora, imagina-se, repetem cenas de seus melhores filmes com a população carcerária.
Os bombeiros, coitados, suaram muito no manejo de suas mangueiras (epa!). Os bravos soldados do fogo, afinal, sempre foram muito homenageados em roteiros de filmes de sacanagem. Mas, sem as câmaras rodando, o trabalho não foi mole. Imagine o que é um sinistro num depósito de vibradores e consolos, lubrificantes acelerando as chamas, bonecas infláveis explodindo, négligés de nylon altamente combustíveis, camisinhas e trajes de látex, e camas d’água borbulhando com a alta temperatura. Ao final de tudo, um carpete de matéria plástica derretida cobriria o local como larva de vulcão, num desastre ecológico do qual a região não se recuperará tão cedo. Felizmente, ninguém se queimou. As modelos estavam longe dessas fogueiras. Teria sido um horror ver seios e traseiros siliconados em chamas. Nem as mais pesadas produções de sadomasoquismo ousaram tais cenas. Pensando bem, o Buttman é capaz de tentar uma produção com esses ingredientes.
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